O presidente chinês Hu Jintao vem a Lisboa nos próximos dias 6 e 7 para finalizar importantes acordos financeiros com o nosso governo. Segundo se notícia até estão dispostos a aceitar “comprar” a divida pública portuguesa o que convenhamos seria um alívio para o nosso primeiro-ministro. Mas estas notícias e esta súbita atenção Oriental não deixa de ser pertinente, provavelmente preocupante.
O que está por perceber é a que título acham os chineses Portugal um país tão interessante, mesmo que periférico numa Europa mais ou menos em crise... E quando é conhecida a nossa situação de ruptura financeira como a pior de sempre e, porventura a mais complexa dos países Membros da União Europeia.
Deixa-nos a todos confundidos este súbito interesse manifestado pela vice-ministra dos Negócios Estrangeiros chinesa, Fu Ying admita “participar no esforço de recuperação económica e financeira de Portugal". Que os chineses possuem uma reserva financeira de biliões de dólares é do conhecimento planetário.
Percebe-se que devagar se vai ao longe.
Sabemos que não temos nada para oferecer à grande China que cresce mais de 10% ao ano, nem mesmo o turismo que representa pouco mais de 1/5 do nosso Produto Interno Bruto.
Mas temos uma zona económica exclusiva marítima francamente interessante e a mais importante do Atlântico Norte. Só que não temos como explorá-la e muito menos como tomar conta dela. Falta-nos os tostões para recuarmos 500 anos. Ao contrário, agora são os chineses que o têm para nos descobrir.
Este acto administrativo segundo Wang Yong do Banco Central da China, bem como outras contribuições em outras economias europeias em maior crise pode contribuir decididamente para a valorização mínima da moeda chinesa em 3% o que dificulta as exportações norte-americanas.
Por outro lado, investimentos na Europa do euro atenuam as flutuações dos investimentos chineses muito expostos às oscilações dólar.
Relativamente a Portugal estamos perante uma estratégia a três tempos:
· Explorar o nosso mar e deixar-nos numa encruzilhda com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO);
· Recuperar um ou dois espaços portuários e redimensioná-los para que possam competir com outras plataformas logísticas no Atlântico, nomeadamente com aquelas a que os chineses dificilmente algum dia chegarão, caso da gigante e extraordinariamente organizada área portuária de Roterdão no reino holandês, onde nem sequer se notam sinais de crise;
· Entrar na Europa de forma relativamente facilitada, através de um País que fiscaliza quase nada e nem sequer nunca regulou a procura.
Não conhecemos as reacções dos mais ricos da União Europeia a este propósito.
Também parece que os europeus - todos sem excepção - mesmo os mais pobres recentemente saídos da “cortina de Ferro” com o final da União Soviética, ainda não perceberam que estamos no início de uma nova revolução industrial ao estilo do final do século XIX.
A China industrializa-se e cresce a poder de braços de ferro, sem benefícios sociais, sem horários de trabalho, sem férias, subsídios vários, sem sindicatos, sem trabalhadores capazes de reivindicar o quer que seja.
Os dirigentes orientais também sabem que os Estados sociais e protectores têm uma segurança social quase falida, porque é incapaz de gerar receitas, por estar cada vez mais envelhecida e mostrar incapacidade de regeneração em quase todas as frentes, nomeadamente o caso português que ignorou nos últimos anos a formação adequada dos seus quadros superiores, intermédios e médios... Vejamos que já não temos escolas técnicas como a escola industrial ou comercial, que não temos espaços adequados à aprendizagem de ofícios fundamentais ao desenvolvimento de um Estado que optou por dinamizar exclusivamente o sector dos serviços como se isso fosse o bastante para desenvolvimento de um País em condição periférica num continente que apesar de tudo ainda é rico e organizado.
José Maria Pignatelli