23.6.06

MEDIDAS FUNDAMENTAIS PARA ODIVELAS

Como achei pertinente uma mensagem que recebi de um leitor, fazendo alusão ao texto (“Falida”, mas contente), o qual foi publicado há 15 dias nesta coluna, hoje vou ocupar este espaço a responder a esse leitor.

Dizia assim:

“"(...)As medidas de fundo não são tomadas, as reformas não se fazem,(...)".Pois bem: será que poderia concretizar ou fundamentar quais as medidas de fundos e reformas que, na sua opinião, não estão a ser feitas e deveriam-no ser?Antecipadamente grato,
….“
Indo directo ao assunto, embora podendo eu responder com uma pergunta, questionando-o sobre quais a reformas ou medidas de fundo que na sua opinião têm sido tomadas pelo actual executivo, não o vou fazer, pois penso que não é a melhor forma de contribuir para o que quer que seja.

Assim, no meu entender (não só no nosso concelho, nem tão pouco é exclusiva do partido A ou B) a primeira grande reforma que tem que ser feita está relacionada com a mentalidade. Esta questão é transversal a toda a classe politica e a todo o país, temos que ser capazes e estar mentalizados de que quando exercemos cargos públicos temos que o fazer permanentemente na procura do bem comum, temos que os encarar como uma missão e a titulo nenhum os podemos encarar com o objectivo de proteger interesses pessoais, partidários, ou políticos. Para governar é preciso tomar decisões, por vezes pouco simpáticas e colocá-las em prática, por muito que custe e mesmo que saibamos que os resultados não sejam imediatos. È como em nossas casas, para geri-las de forma correcta, por vezes ou muitas vezes, não podemos tomar as decisões que todos gostariam, não só porque não temos capacidade para o fazer, como até muitas vezes, podendo, não o fazemos, porque sabemos que embora no imediato ficasse toda a gente satisfeita, mais tarde poderíamos ter resultados desastrosos. Bata ver como ficaram aqueles meninos que sempre tiveram tudo e cujo os pais sempre lhe disseram a todo que sim; este meninos cresceram sempre satisfeitos e felizes, mas ficaram muito desiludidos, muitos até se perderam, quando chegaram a grandes e viram que as coisas não eram bem assim. Por isso eu digo que a primeira grande reforma tem que ser a das mentalidades; não consigo compreender, não sou só eu, como é que se pode ter uma pessoa doente em nossa caso, não ter dinheiro para o tratar convenientemente e estar a oferecer festas para o resto da família.

Para bom entendedor meia palavra basta, o nosso concelho está doente, infelizmente tem muitas carências, fragilidades e deficiências, contudo andam-se a fazer festas e a gastar dinheiro em algumas futilidades.

Penso que quando este leitor me abordou não era esta a medida ou reforma que queria que eu detalhasse, pretendia que eu me debruçasse sobre medidas, ou reformas mais palpáveis e mais práticas, vou-as abordar agora, mas são subsequentes a esta. Esta, a reforma a das mentalidades é a prioritária, gerir de forma “missionária” e com bom senso tem que ser uma constante.

Vou então entrar em questões mais práticas e tentar de forma resumida dizer quais são no meu entender algumas das prioridades para o concelho:

1º) Definir, com clareza um objectivo estratégico para o concelho, ou seja definir o que é que vai ser Odivelas no futuro: se um dormitório; se um concelho vocacionado para receber a industria do lazer ou pólos empresarias (ex. Oeiras); se para receber escolas profissionais ou superiores; ou se para outra coisa qualquer. Esta definição é de especial importância uma vez que neste momento se está a trabalhar na elaboração do PDM, como tal o que está a ser delineado tem que ser feito com base nesta definição, a qual tem que ser clara e inequívoca, caso contrário vamos continuar a ter um concelho que não passa de um dormitório de fraca qualidade.

2º) Saneamento económico do município; infelizmente como todos sabemos, a Câmara de Odivelas atravessa um período dificílimo do ponto de vista financeiro, portanto todos os esforços têm que ser feitos no sentido de resolver esta gravíssima situação. Sem esta situação resolvida, não se pode resolver, nem tão pouco prometer a resolução de inúmeras carências que há a todos os níveis (saúde, educação, segurança, desporto, transportes, etc.). Embora este executivo já tenha feito (bem a meu ver) um esforço no sentido de disciplinar a utilização dos veículos municipais, ainda há muito a fazer e talvez a principal medida estrutural, no sentido de diminuir os custos, seja:

- Criar um edifício que centralize todos os serviços municipais; com esta medida poupava-se milhares, talvez milhões de euros (não tenho os números correctos), por ano em rendas de dezenas de instalações (escritórios, lojas e armazéns), dos quais o município é inclino, para além de tudo o que se pouparia em comunicações e transportes entre serviços, na redução do parque automóvel e no tempo perdido de funcionários municipais de um lado para o outro, tanto para resolver assuntos, como para participar em reuniões, como até na busca e envio de documentos.

No sentido de sanear economicamente as contas da Câmara também há muito a fazer ao nível da receita, desde logo com a tal definição do objectivo que abordei no ponto 1. Caso haja um objectivo estratégico bem definido e um PDM bem delineado, a Câmara poderá arrecadar daí uma boa quantia de novas receitas; a titulo de exemplo; caso o concelho se vocacione para acolher as sedes de grandes empresas será capaz de arrecadar no futuro um maior volume de receitas através dos impostos e das taxas que elas pagam; se optar por investir na indústria do lazer, ou no ensino, terá a capacidade de atrair pessoas e investimentos nestas áreas, as quais também trarão novas receitas. Por outro lado também terá a CMO que ter capacidade para criar parcerias com empresas já sedeadas no concelho, para as ajudar no seu desenvolvimento e crescimento, pois assim conseguiram criar um maior número de postos de trabalho e de receitas fiscais.

Mas há mais, muito mais que poderá ser feito no sentido de dinamizar o concelho nos mais variados campos, mas tudo terá que ser feito com cabeça tronco e membros, e, como não me cansarei de dizer, tudo começará com a definição daquilo que se pretende que Odivelas seja no futuro.

Estas são para mim as prioridades das prioridades, caso contrário estamos a hipotecar o futuro do concelho, mas há outras e essas estão relacionadas com a qualidade de vida de quem aqui vive. São inúmeras (na saúde, na educação, na segurança, nos transportes, no apoio às crianças e aos idosos, no ambiente, na higiene urbana, etc.) e ninguém as consegue resolver em pouco tempo e dificilmente alguém as conseguirá resolver a longo prazo caso não se tenha em atenção o que em cima escrevi, pois não há dinheiro para isso, quem disser o contrário está a mentir e a fazer demagogia barata. O que se pode fazer, é minimizar alguns dos problemas existentes, tipo “tapar alguns buracos” e aí já se pode dar uma grande ajuda, por exemplo:

- Postos de saúde - é normal que chova dentro de um posto de saúde e que a ventilação do mesmo seja feito por ventoinhas, as quais poderão disseminar os micróbios e consequentemente doenças, como é o caso do posto da Pontinha?; e em Famões por exemplo, que para se chegar lá é necessário subir uma rampa inclinadíssima com piso escorregadio, onde algumas pessoas já caíram e já se magoaram?; e em Odivelas, que não há elevador para transportar para o 1º andar quem precise de andar em cadeira de rodas ou tenha dificuldade de locomoção?

São obras destas, pequenas, eu sei, que após um levantamento da situação e depois de ponderadas as prioridades têm que ser feitas. Não quero com isto dizer que não sejam necessários novos centros de saúde e até um hospital, o problema é que não há verbas para tudo e em alguns casos, como o do Hospital, a decisão não depende da Câmara.

- Transportes e Mobilidade dentro do concelho – Falo só dentro do concelho, porque inter-concelhos não dependem só da Câmara, vejamos: O Metro felizmente chegou a Odivelas e eu pergunto, porque é que não se resolve, ou o que é que está a ser feito para resolver o problema do estacionamento junto ao Metro, o qual se arrasta há vários anos? Quanto aos transportes do Metro para as freguesias e vice-versa, o que é que está a ser feito?

A chegada do Metro a Odivelas tudo alterou e está a alterar a nível de transporte, veja-se o caso da Carris, portanto está fácil de ver que aqui tem que se fazer uma reforma, não só para levar as pessoas do Metro para casa e vice-versa, como para que possa haver uma maior mobilidade dentro do concelho.

A talho-de-foice, levanto ainda 2 questões sobre o terminal de camionetas de Caneças: 1ª) como é que se inicia uma obra para construção de um terminal destes com as medidas erradas, onde, enquanto não forem feitas rectificações, muitas das camionetas não conseguirão entrar? 2ª) - quem é que foi o responsável e como é que esse responsável foi, ou vai ser responsabilizado?

- Desporto – Sabendo nós da importância cada vez maior que tem o desporto na sociedade actual, quer seja na formação dos jovens, na saúde e até como factor de integração social, assim como sabemos das enormes alterações demográficas que têm havido no concelho nestes últimos 20-30 anos, sou da opinião que nesta área também tem que haver uma grande reforma e uma nova maneira de abordar este assunto, não podem ser tomadas medidas avulso, as quais saem caríssimas, sem que estejam integradas num plano previamente delineado e com etapas e objectivos bem definidos.

Se a intenção é, segundo ouvi da Sr.ª Presidente da C.M.O., dar a oportunidade e facilitar a possibilidade da prática desportiva a um cada vez maior número de pessoas, então penso que os primeiros grandes esforços deveriam ser no sentido de promover e apoiar protocolos entre os clubes existente e outras instituições do concelho (escolas, escuteiros, centros comunitários, juntas de freguesia, etc.) de forma a atingir esse objectivo.

Se isto for feito aproveitam-se e dinamizam-se as instalações desportivas do concelho, as quais estão vazias durante o dia, conseguindo-se ao mesmo tempo caminhar para que haja cada vez mais pessoas a praticar desporto de forma regular.

Portanto não faz sentido, na minha modesta opinião gastarem-se cerca de 60.000 euros (segundo consta) numa semana desportiva, a qual para nada contribui para este objectivo; seria preferível canalizar esta verba para protocolos como os que acima mencionei.

- Urbanismo – Agora que se está a trabalhar no PDM, sem prejuízo do que julgo fundamental (Objectivo Estratégico), pergunto o que é que está a ser pensado e planeado para a reabilitação de toda a zona da encosta da Serra da Luz, da Urmeira até ao Sr. Roubado, sabendo nós das insuficiências que têm aqueles os quais ainda por cima estão por sobre uma falha sísmica?

Há coragem para reabilitar toda aquela zona, ou vamos ficar na expectativa de uma catástrofe para depois se resolver o problema? Não acham que toda aquela zona merece ser alvo de uma atenção especial?

Há algum, ou está a ser feito algum plano para a erradicação das barracas ainda existentes no Concelho de Odivelas?

O que é que está a ser feito no sentido de acabar com os cabos de alta-tensão no meio da cidade, os quais hoje em dia se diz que podem provocar leucemias?

- Educação – Aqui está outra das áreas que precisa de uma grande reforma, o nosso parque escolar para além de escasso, está decrépito. Sei que para esta área, como para a área da saúde não há verbas que cheguem para fazer uma reforma total, conforme seria desejável e necessária, contudo, há com toda a certeza, caso haja vontade, a possibilidade para se fazerem alguns ajustes e melhoramentos.

- Segurança – Tem aparecido cada vez mais sinais de preocupação com as questões de segurança no nosso concelho, vindo alguns deles dos presidentes das Juntas de Freguesia, por isso pergunto: que tal investir no melhoramento da iluminação da via publica e na instalação de pelo menos uma esquadra por freguesia?

- Património e Cultural – O que é que tem sido feito e o que é que se está a fazer para não deixar degradar o nosso património histórico? O Tumulo de D. Dinis, talvez o maior símbolo do concelho está como todos sabemos a desfazer-se, há algum plano para o recuperar; e, para as fontes de Caneças que estão uma lástima, assim como a Igreja da Póvoa de St.º Adrião que é lindíssima e o Sr. Roubado que parece perdido e abandonado, também há algum plano? Eu sou da opinião que se deve fazer um plano para a recuperação de todo este património, no qual estejam previstas iniciativas que permitam a sua rentabilização.

Bom! …. Esta coluna já está extensa e por essa razão não me vou alongar muito mais, embora como todos sabem muito ainda haveria para escrever sobre as reformas e/ou medidas que poderiam e deveriam ser tomadas aqui em Odivelas, como por exemplo no que se refere aos espaços verdes, no apoio à terceira idade e às famílias carenciadas, às crianças que ainda não estão em idade escolar ou no apoio ao comércio local, etc., etc., mas fica para uma próxima oportunidade.

Antes de terminar quero só deixar bem claro, que até prova em contrário, sou da opinião que a actual presidente da Câmara está sensibilizada para tudo isto, onde levanto as minhas dúvidas é que ela consiga colocar em prática, devido a interesses partidários instalados, as reformas que se impõe e que a Sr.ª Presidente tenha a coragem de tomar algumas medidas, muitas delas pouco simpáticas, as quais poderão levar a que perca a presidência da Câmara.

Os sinais que têm sido transmitidos levantam-me muitas preocupações.

Vamos ver.


Nota: qualquer comentário a este texto pode ser feito para
miguelxb@gmail.com ou em http://cdsodivelas.blogspot.com.



In:
http://www.diariodeodivelas.com (Coluna às Direitas)

9.6.06

“Falida”, mas contente.

O problema é que uma gestão municipal baseada e orientado para o politicamente correcto, ainda por cima sem dinheiro, com o objectivo único de agradar o maior número de pessoas, de forma rápida e simplista não leva a lado nenhum.


É do conhecimento geral e não é segredo para ninguém que a Câmara Municipal de Odivelas atravessa há bastante tempo uma enorme crise financeira, aliás de outra forma não poderia ser; o concelho nasceu torto, pois as dividas e a estrutura que herdou de Loures eram pesadas. Para além de nascer torto, cresceu mal, muito mal, uma vez que logo a seguir a esse parto, já de si complicado, juntou-se uma gestão desastrosa, liderada pelo P.S., apoiada e partilhada pelo o P.S.D. e P.C.P., a qual aumentou desmesuradamente os custos com pessoal, viaturas, instalações, etc., etc., para além das verbas mal gastas, nas mais diversas situações.


Devo contudo dizer que aquando das últimas eleições autárquicas, embora não acreditando na estrutura do P.S. local (os resultados da sua gestão estavam e estão à vista) ainda fiquei com alguma esperança que a Dr.ª Susana Amador conseguisse alterar o rumo do concelho. A sua juventude, a sua pelo menos aparente sensibilidade e humildade, bem como a determinação e energia que parecia e ainda parece ter, foram alguns dos factores que contribuíram para essa minha, talvez, espero que não, ingénua esperança.

Na única conversa mais detalhada que tive com a Sr.ª Presidente da C.M.O., há pouco mais de 2 meses, fiquei com a sensação que a Sr.ª Dr.ª Susana Amador estava consciente das dificuldades e dos problemas existentes no concelho, tendo mesmo afirmado que o buraco financeiro ainda era maior do que imaginava, mas também fiquei com a certeza que iria tentar fazer um mandato baseado no politicamente correcto, com o objectivo único de criar o maior número de simpatias junto da população, pois sabe que só assim poderá sobreviver dentro das guerras internas do P.S..

O problema, é que uma gestão municipal baseada e orientado para o politicamente correcto, ainda por cima sem dinheiro (se a C. M.O. fosse uma empresa estava tecnicamente falida), com o objectivo único de agradar o maior número de pessoas, de forma rápida e simplista, não leva a lado nenhum.

As medidas de fundo não são tomadas, as reformas não se fazem, as poucas verbas existentes são canalizadas para auto-promoção (propaganda politica) e entretimento popular (festas e festinhas), e o tempo, esse é gasto em futilidades, de festa em festa, de sessão em sessão, de fotografia em fotografia.

O que eu digo e escrevo está à vista de todos, a Câmara está falida, a própria presidente diz que o buraco financeiro é muito maior do que pensava, há cortes de água por faltas de pagamento, no entanto, fazem-se festas, publica-se uma revista municipal com 60.000 exemplares de distribuição gratuita para promover a nossa autarca, fazem-se presidências abertas para ouvir as necessidades da população, etc., etc. e não se resolve qualquer problema estrutural, nem tão pouco se aponta nenhum rumo para resolver os graves problemas que afectam o concelho. Isto tudo, sempre com a Sr.ª Presidente em pano de fundo, com um ar contente, de sorriso no rosto e ar emocionado, chegando mesmo a ponto de afirmar: Odivelas está na moda.

Esta situação tem que acabar, a Srª Presidente não pode continuar por aqui, tendo nas suas mãos uma câmara falida, a passear contente e a olhar para o lado, como se nada se passasse. Tem que se falar a verdade (expressão muito utilizada pele Sr. Eng. José Sócrates), tem que se dar a entender a realidade, tem que se começar a decidir e a tomar medidas por muito que isso custe, caso contrário a criança (Concelho de Odivelas) que teve um parto difícil e que cresceu cheia de vícios corre grandes perigos de se perder.