MANUEL MATIAS E MAURO PAULINO TRATAM DE DAR VOZ
AOS SILÊNCIOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Rara é a semana que a imprensa escrita ou
televisiva não noticia que uma mulher foi morta ou brutalmente agredida pelo
seu parceiro íntimo. Rara é também a semana que os profissionais, dignos desse
nome, que intervêm no âmbito da violência doméstica não se deparam com o
desconhecimento e a falta de sensibilidade de outros intervenientes do
processo, daqueles a quem a vítima recorreu ou tenta recorrer em busca de
ajuda.
Ao conjugar o testemunho de várias vítimas,
inclusive de menores, com vários contributos científicos e reflexões, este
livro afigura-se um excelente contributo para que a sociedade portuguesa
(leigos e profissionais) possa conversar e discutir de forma séria, um fenómeno
social tão relevante para a nossa cultura. Aqui, quem sofre em silêncio encontra
um género de mapa que ajuda a percorrer o caminho necessário à libertação de
uma vida subjugada. Aqui, os familiares e os amigos, ou até mesmo o cidadão
atento e consciente, encontram pistas importantes para auxiliarem a pessoa que veem
diariamente a perder a força de viver. Aqui, os profissionais do direito, da
psicologia, do serviço social, da saúde, das forças policiais, entre outros,
encontram más e boas práticas com o objectivo de se refletir o que se faz e o
que não se faz na prevenção e intervenção da violência doméstica.
Na Casa de Abrigo Nova Esperança, os autores Manuel
Matias e Mauro Paulino, ao mesmo tempo que eram inquietados pelas histórias de
vida que lhes chegavam e podiam servir de aprendizagem para tantas outras
mulheres que se encontravam numa situação semelhante, eram desafiados pelas
próprias utentes quando manifestavam o seu desejo de poderem escrever um livro,
de poderem gritar ao mundo a dor que viveram e partilhar as armadilhas nas
quais foram enleadas.
Perante isto, os autores não tinham, nem
queriam ter alternativa: mobilizaram-se e começaram a trabalhar nesta
publicação que tem como a sua motivação máxima dar voz às vítimas,
conceder-lhes a oportunidade que tanto ambicionavam para comunicar (pôr em
comum) a sua história.