Ultimamente, alguns dos políticos eleitos em Odivelas são capazes do pior: mostram falta de educação, de pedagogia e de lisura.
Na escola secundária da Ramada, ouvi lamentações do dirigente daquele estabelecimento de ensino que encerram isso mesmo: durante a apresentação das propostas finais da iniciativa camarária do “Executivo Jovem”, nos Paços do Concelho, houve autarcas e funcionários do município que não deram qualquer atenção ao evento, dedicando quase todo o tempo aos seus smartphone, iPod, iPad e tablets. Houve mesmo quem conversasse com o vizinho do lado. Uma falta de respeito e mesmo de noção pedagógica, tanto mais por se estar diante de adolescentes que precisam de bons exemplos.
Mas como se isto não bastasse, também a maioria dos alunos do “Executivo Jovem” desataram a votar contra os projectos das escolas adversárias, sem qualquer explicação pelo sentido do voto, numa demonstração de caseirismo e de falta de cultura de cívica e de cidadania. E assim quase se mata uma iniciativa meritória que encerrou apresentações valiosas e arrojadas no tempo que demonstraram a vitalidade criativa e empenho dos alunos.
Talvez por isso há quem agora atribua mais um sobrenome aos odivelenses: Campónios! É o terceiro que conheço: primeiro, eram saloios, depois papagaios e agora “camponeses”, isto é se o entendermos por bem.
Mas como a expressão ganha lustro no meio político, nunca se sabe.
Mas afinal de contas, o que é que pode significar ser campónio?
Depende do sentido que se lhe queira dar. Mas poderemos ler: Boçal, Labrego, Lorpa, Patego ou mesmo estúpido.
Enfim, seja como for eu vivo há 32 anos ao lado dos campónios e, nem por isso deixei de ser quem sou, perdi amigos ou empregos. Saí da avenida de Roma para Odivelas quando entendi dedicar-me a uma só namorada. Ela que vivia entre essa terra saloia e a avenida de Roma. E se continuo apaixonado, também me mantenho orgulhoso de viver em Odivelas, nessa cidade nem sempre bem tratada, antes pelo contrário e, mesmo quando passou a sede de concelho não se tornou muito melhor.
Restam-me algumas alegrias; gáudios de campónio:
- De saber que por Odivelas se encontra o túmulo do Rei D. Dinis, aquele que se considera o melhor monarca português reformador da Idade Média e talvez de entre os melhores de sempre;
- Um monumento gótico de qualidade ímpar no Distrito de Lisboa;
- A melhor escola de restauração e pastelaria da União Europeia, onde se fazem estátuas de chocolate invulgares que se exibem no festival anual do chocolate de Óbidos;
- O melhor laboratório de engenharia alimentar;
- Um dos melhores estabelecimentos de ensino;
- Uma Universidade relevante;
- Duas das melhores fábricas do mundo, uma delas que fez todas as válvulas para o acelerador de partículas, essa peça única da engenharia e da ciência, destinada a simularmos os primeiros milésimos de segundo do Universo;
- Alguns dos melhores pasteleiros da área metropolitana de Lisboa;
- Dos melhores estabelecimentos de restauração;
- Porventura, o melhor construtor de guitarras portuguesas;
- Dois dos alfaiates de maior qualidade que resistem à passagem do tempo;
- Um dos melhores recuperadores de plásticos automóveis...
Mas o que os campónios não gostam - mesmo nada - é de aturar políticos vindos de outras paragens para ocuparem cargos por estas bandas. Os tais inscientes e sem honradez que se distraem nos locais impróprios. Mereciam que lhes dessem um valente pontapé no rabo.
– José Maria Pignatelli