Porque há uns dias rebentou em Odivelas mais uma polémica entre entidades politicas e desportivas, agora por causa de uma antena, resolvi abordar sobre este assunto.
Como todos sabem a relação entre a política e o desporto, por vezes é tudo menos pacífica, aliás os vários episódios a que temos assistido, não só a nível local, como também a nível nacional comprovam-no e podemos mesmo dizer que ultrapassam as regras do chamado “fair play”, um termo que se convencionou internacionalmente como sendo politicamente correcto (efeitos da globalização).
Contudo o grande problema que se levanta neste caso não são as avenças ou as desavenças entre estes agentes, o grande problema é que estas desavenças desacreditam os intervenientes, prejudicam as entidades e consequentemente a generalidade da sociedade. Não basta encolhermos os ombros e pensarmos que tanto nos faz, não basta, porque desporto todos queremos e políticos também não há forma de os não ter.
Vou tentar enquadrar aquilo que para mim está na origem da questão, começando por caracterizar generalistamente cada um dos protagonista:
- Dirigentes Desportivos - são pessoas que por norma estão nesta actividade por “carolice” e amor ao clube. Mesmo que isso lhes traga algum protagonismo, lhes dê alguma visibilidade e notoriedade, estas pessoas, refiro-me às que andam nisto com boas intenções, estão sempre a procurar apoios e financiamentos para conseguirem que o clube atinja os objectivos que desejam e a que se propuseram atingir. Como hoje em dia os investimentos em equipamento desportivos, os custos de manutenção e os custos relacionados com os recursos humanos são elevadíssimos, estes dirigentes têm que andar permanentemente à procura de financiamentos, apoios e outras formas de criar receitas, pois só a quotização não chega. Os dirigentes desportivos contactam diariamente com muitas pessoas, geralmente são muito respeitados, tanto pelos sócios do clube, como por outras colectividades e entidades, como também pela generalidade da população.
- Políticos – São pessoas que por norma, quero querer, estão nesta actividade porque acreditam que podem contribuir com algo de bom para a sociedade, mas creio também que a maior parte faz da política a sua profissão, a sua carreira e que por essa razão têm ambições a lugares com mais poder de decisão, o que é legitimo. Estas pessoas, vivem num e de um regime democrático, como tal para poderem chegar aos lugares que ambicionam têm que ser eleitas, para isso necessitam de ser conhecidas, de ter alguma popularidade junto dos eleitores e dos chamados “líderes de opinião”. Também são estas pessoas, quando eleitas, que decidem o que apoiar, o que financiar, como e quem.
Caracterizados que estão em termos genéricos os protagonistas na área politica e desportiva, facilmente chegamos à conclusão que caso não haja um grande cuidado, sobretudo da parte dos políticos, facilmente aparecem problemas ou mal entendidos.
Em termos práticos o que tende a acontecer é os políticos quererem aparecer nos clubes, por vezes de forma bem visível, na altura das festas, de comemorações e de jogos importantes, assim como em períodos eleitorais, nas chamadas visitas institucionais. Esta prática, por parte dos agentes políticos não a considero incorrecta, penso aliás que é correcta, pois para além de muitas vezes ser reflexo de muitas horas de trabalho em comum para um mesmo objectivo, é também um sinal dado pelos políticos do apoio institucional. Para a classe política, para além do significado que estes acontecimentos possam ter, é também uma oportunidade para estarem em contacto com os simpatizantes dos clubes e demonstrar que estão ao lado do clube, o que cai sempre bem e que pode ajudar a projectar a sua popularidade.
No entanto, é aqui que nascem por vezes as complicações e mal entendidos, os dirigentes desportivos, ávidos de receitas, cientes de que os políticos estão a aproveitar estas ocasiões para se auto promover aproveitam estas oportunidades para tentarem arranjar algum financiamento, ou apoio para os seus clubes.
Como todos sabemos, conhecendo as características do português que tende a ser um “porreiro”, sobretudo quando quer algo em troca, neste caso em alturas eleitorais, o politico tende sempre a facilitar, a não dar respostas claras e até a fazer falsas promessas, o que gera falsas expectativas; neste caso junto dos dirigentes desportivos, os quais, mais tarde confrontados com a realidade ficam revoltados, porque se sentem enganados.
Replicando tudo isto para o caso da antena no O.F.C., não obstante o facto de naquele mesmo terreno já lá existir uma antena, de haver também uma escola que tem outra, dos cabos de Alta Tensão serem o que são em Odivelas e da actual Presidente da Câmara manifestar através do comunicado uma pretensão de colocar termo a esta situação e/ou pelo menos não querer que sejam abertos mais procedentes, o que me parece que está aqui em causa é o que acima mencionei:
Falsas expectativas, criadas por respostas pouco claras e/ou mesmo por falsas promessas eleitorais. Senão vejamos, esta solicitação, segundo consta (comunicado do O.F.C.) foi feita em Maio, há 1 ano; em Outubro houveram eleições autárquicas, pelo que no período que as procederam foram feitas várias visitas institucionais, numa delas onde participei a direcção do O.F.C. questionou-nos sobre este assunto em concreto, pois representava para o clube uma receita superior a 150.000.00 euros, estou certo que o mesmo aconteceu não só a todas as outras delegações, como também à delegação do partido P.S. que agora está à frente dos destinos da autarquia, como à do P.S.D. que a apoia.
Qual foi a resposta dada por esses partidos nessa altura? Foi clara ou dúbia? Foi sim ou não?
… Aqui é que está a questão.
Por outro lado as eleições já foram há 7 meses, já houveram contactos formais e informais entre ambas as entidades e só agora é que vem uma resposta negativa da C.M.O., quando afinal segundo mostra o comunicado no seu ponto 7 (nota 1) já sabiam que ia ser. Penso sinceramente que algo correu mal em todo este processo, não só nas expectativas criadas, não sei se directamente pela Sr.ª Presidente da Câmara ou por qualquer outro membro do seu partido, como também no tempo (1 ano) que se demorou a dar uma resposta, concordando nós, ou não com ela. Ouvir um não já é mau, agora ouvir um não tardio ainda é pior, pois para além de criar dificuldades de planeamento, pode criar danos dificilmente recuperáveis, como parece ser o caso.
Os políticos tem que saber dizer sim, saber dizer talvez ou vamos ver e sobretudo têm que saber dizer não nas alturas certas, por muito que isso lhes custe.
Miguel Xara Brasil
Vice-Presidente do CDS-PP
Sócio do O.F.C.
Nota 1:
Comunicado da C.M.O. (ponto 7) - Assim, e no quadro da alteração do PDM, a Câmara Municipal de Odivelas em colaboração com o Instituto Superior Técnico vai proceder ao levantamento da Carta de Risco Electromagnético, pelo que, com base nesse estudo fundamentado, teremos condições, ou não, para fazer a alteração pretendida pelo OFC.
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