Francês castigado a 14 horas numa maca e a viagem de Peniche a Lisboa e vice versa.
Tudo por causa do TAC.
O surfista francês Jerôme teve um acidente nas águas de Peniche e por causa de um TAC esteve 14 horas dentro de hospitais, primeiro em Peniche e depois no Santa Maria. O atleta gaulês precisou de 5 horas para fazer o TAC e receber o resultado no Santa Maria. Até aí aceitável. Mas depois esteve outras tantas horas numa maca com cateter espetado na mão a aguardar por uma ambulância que o levasse de volta para o Hospital de Peniche.
O acidente do francês aconteceu na tarde do passado dia 7 de Agosto enquanto fazia surf nas águas de Peniche. Ao que se julga uma reviravolta de mar fez com que a prancha batesse com alguma violência na cabeça do atleta, deixando meio inanimado:
▪ Às 17h00 deu entrada no Hospital de Peniche e aí os clínicos entenderam por bem fazer uma avaliação utilizando o TAC como meio de diagnóstico;
▪ À falta do equipamento e como o que existe em Caldas da Rainha (a 15 minutos de distância) se encontra no Hospital privado do Montepio, os responsáveis clínicos de Peniche enviaram o paciente para o Santa Maria, em Lisboa, de ambulância onde chegou cerca das 19h00;
▪ Sobre a meia noite, Jerôme conhecia o resultado do TAC – estava tudo bem! ;
▪ Mas só iria ter alta passada pelo Hospital de Peniche;
▪ Também só em Peniche – imagine-se - lhe seria retirado o cateter que o ligava a um saco de soro já vazio… Foi a resposta que ele, eu e outras pessoas que estavam por perto testemunharam ser dada a quem sussurrava pelo incómodo que lhe dava ter o cateter sem qualquer necessidade. O francês até questionou em jeito de ironia se o cateter não era descartável e, então que importava ser ali tirado e que relação tinha o cateter com a alta médica hospitalar (?)
Mas a notícia mais surpreendente para o francês foi-lhe dada por volta da 01h00 – a ambulância que o levaria de volta a Peniche só deveria chegar a Lisboa por volta das 05h00… O que alguns dos presentes na sala perceberam e foi então dito a uma amiga nascida em Portugal e que falava português, é que o veículo estava a fazer um serviço (ao que parecia) entre Caldas, Rio Maior e Santarém e ainda poderia ter de voltar a Caldas da Rainha.
Às 04h40, Jerôme ainda estava deitado na maca na sala das urgências do Santa Maria o que fazia prever que os horários a serem cumpridos o francês estaria em Peniche às primeiras horas da manhã e como nos confidenciou: «desejo que a tempo de tomar o pequeno-almoço».
O gaulês esteve 10 horas na sala das urgências, um local com pouco mais de 150 m2, onde os doentes aguardam pelos resultados dos exames de diagnóstico, efeito de curativos ou pequenas cirurgias, para serem observados uma segunda vez e saberem se ficam ou vão para casa. Também o local para onde vimos entrar duas pacientes de máscara na face e serem colocadas a um canto a aguardar a confirmação ou não de terem contraído a nova gripe (A).
Durante a longa estadia, do francês ouvimos apenas duas interrogações e outras tantas perguntas:
▪ Se o Santa Maria não era o maior hospital e o de maior referência em Lisboa (?)
▪ Se ali – no hospital, leia-se – não se tinha registado nenhuma intervenção apoiada por fundos comunitários (?)
▪ Posso voltar a Peniche mas não para fazer surf, tão-só porque não existem meios que possam avaliar uma lesão em caso de acidente…
▪ E tornarei pública a minha história para que ninguém possa arriscar a ter um acidente com consequências mais graves.
É claro que para o francês, Peniche é uma cidade fantástica porque está numa península e tem praias viradas a Sul, porventura mais calmas e mais quentes, e a Norte onde o mar quase sempre está mais agitado e há mais vento.
O que se lamenta é estarmos perante uma cidade balnear que é cada vez mais vendida a um turismo mais profissionalizante, onde já existem meia dúzia de residências para surfistas, dois campos de golfe e 2 relvados para o futebol a menos de 10 minutos, clube e escola de mergulho assistido, os passeios até à Berlenga, a pesca desportiva e a caça submarina… Mas onde não existe um hospital com condições para responder a uma maior aflição que oxalá nunca suceda.
Pegando nas palavras do francês seria interessante saber os montantes investidos na saúde no Concelho de Peniche nos últimos 15 anos e para que serviram.
Para a maioria dos nossos agentes económicos o caso deste surfista francês tem uma importância relativa, mas ele significa claramente um, dois ou três tiros nos nossos pés… Rezemos para que um destes dias não vejamos esta história a correr mail’s de todo o globo, porque Peniche integra a Região de Turismo do Oeste e está colado a concelhos como Óbidos e Lourinhã.
Por outro lado, o que ninguém entende é quanto custou o serviço de ambulância para o retorno do surfista a Peniche e a quem serve o facto desta ambulância ter dado uma volta de gigante para chegar à capital.
José Maria Pignatelli
Sem comentários:
Enviar um comentário