Ignoramos doenças que não dão tréguas há dezenas de anos.
A Gripe A tem entretido principalmente os portugueses, cidadãos comuns, técnicos de saúde, políticos e particularmente a ministra Ana Jorge que até veio a terreiro afirmar que havia quem desejasse a propagação da doença. Tem sido uma verdadeira pandemia nos noticiários das televisões e das rádios e enche páginas de jornais e dos sites da Internet. Em Portugal são já milhares de contagiados, dezenas de internados e os que passam por estar num estado que inspira maiores cuidados – a fazer fé nas notícias - parecem ter a sorte de escaparem e até porque as complicações que surgem são todas oriundas de outras patologias.
Estranha-se é que os profissionais da saúde, ministra incluída, não venham falar de outras coisas da saúde que nos deviam preocupar verdadeiramente.
Talvez da falta de condições da maioria dos nossos hospitais.
Talvez dos lobbies dos nossos médicos e enfermeiros.
Talvez da cada vez maior privatização da saúde ao nível do diagnóstico.
Ou talvez dos doentes com cancro que são internados diariamente, que morrem ou ficam mutilados todos os dias, da avassaladora luta travada nos IPO’s contra uma doença que não dá tréguas há dezenas de anos… que tão simplesmente não tenham estratégia para uma verdadeira campanha de prevenção contra todos os cancros.
Precisa-se travar a doença e os consequentes gastos com ela que ultrapassam a simples intervenção clínica e contributiva, e se estendem à cada vez maior perca de pessoas activas com os resultados daí inerentes para os cofres do Estado.
Estranha-se também que estes mesmos técnicos e responsáveis políticos nunca tenham vindo a terreiro falar da prevenção contra Gripe Comum que, afinal, mata anualmente mais de um milhar de pessoas no período que medeia o Outono e o Inverno quando o frio é rigoroso. Que mata particularmente pessoas de mais idade e em locais onde a medicina familiar de proximidade é totalmente inexistente.
Mas poderíamos ir mais longe – falar dos AVC (acidentes vasculares cerebrais) que entre nós são responsáveis por mais de 25 mil óbitos anuais. Neste capítulo e perante um povo pouco educado para estes fenómenos, bastaria seguir as pisadas dos ingleses que optaram por «jogar» com a indústria alimentar na diminuição do sal.
Tamiflu vendeu milhões no tempo da gripe das aves
Mas voltando à gripe A e se nos recordarmos do que sucedeu recentemente com a tão badalada gripe das Aves, poderíamos equacionar que interesses económicos se movem por detrás destas doenças (?)
Por exemplo podemos interrogar-nos:
▪ Porque morrem milhões de pessoas com Malária que não vê aumentos financeiros na sua investigação científica e se podia prevenir com a obrigatoriedade da utilização de mosquiteiros (?)
▪ Porque morrem anualmente no Mundo 2 milhões de crianças com diarreia que se poderia prevenir com um soro que custa pouco mais de 30 cêntimos por embalagem (?)
▪ Porque é que o sarampo e a pneumonia, enfermidades curáveis com fármacos relativamente baratos, provocam a morte de 10 milhões de pessoas a cada ano que passa (?)
Agora é tempo da Gripe A. Pouco depois do virar do século foi tempo da Gripe das Aves, então noticiada como uma das epidemias mais perigosas de todas.
Vaticinou-se mesmo que seria pior que o HIV.
Afinal veio a causar a morte (directa, entenda-se) a pouco mais de 300 pessoas.
Anualmente, a Gripe Comum, mata meio milhão de pessoas no mundo.
Mas a Gripe das Aves ajudou a farmacêutica Roche a vender milhões de doses de Tamiflú aos países asiáticos.
Agora com a Gripe A e ainda que o Tamiflú seja de duvidosa eficácia para esta estirpe, só governo britânico comprou 14 milhões de doses para prevenir a sua população.
Também não menos interessante é saber por exemplo que é um dos accionistas da norte-americana Gilead Sciences que detêm a patente do Tamiflú. Precisamente Donald Rumsfeld, secretário de Estado da Defesa no reinado de George Bush.
Não nego que são necessárias medidas de precaução que algumas delas estão a ser tomadas por vários países. Mas não será menos verdade desmistificar a doença que provavelmente poderá não ter a expressão que se lhe aponta.
A própria OMS – Organização Mundial de saúde ainda não declarou estarmos perante um caso de saúde pública no âmbito global.
E tão pouco se fala em generalizar eventual vacina que venha a certificar-se como eficiente no combate a esta estirpe de gripe, para que o custo seja absolutamente controlado e todos lhe possam aceder, mesmo os países mais pobres.
José Maria Pignatelli
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