Muitos
políticos utilizam os bens comuns pagos pelos contribuintes em seu benefício
próprio. É cada vez mais comum e transversal a todos os partidos. Habitualmente
resultam em gastos mais ou menos residuais, de alguns milhares de euros.
Somados podem ter alguma relevância. Mas, acima de tudo, revela visão
distorcida da coisa pública, ausência da noção de gestão, desrespeito pelas
contribuições dos cidadãos, onde um só euro merece a maior acuidade, tanta como
1 milhão.
Este é um
paradigma do pós-25 de Abril que se agravou com o passar dos anos. Indicia
falta de cultura e de preocupação na formação cívica que os candidatos a
políticos deviam ter e poderia começar logo nas ‘jotas’, ou seja no seio das
organizações de juventude dos partidos políticos. Só que muitos destes
aspirantes nunca tiveram abundância ou, ao invés, foram sempre demasiado
mimados ou de um novo-riquismo absoluto. Portanto, deslumbram-se quando chegam
ao poder: gastam o que não é deles e quase sempre de modo irresponsável porque
não prestam contas e ninguém lhes pede.
A presidente
da Câmara Municipal de Odivelas deu-me uma informação reveladora disso mesmo: Os
gastos dos vereadores e dos dirigentes com as viaturas municipais ascendem a
43.166,10 euros entre Janeiro de 2012 e Setembro de 2013 que se devem somar
três contratos de AOV que em igual período significaram 44.100 euros. Portanto,
em 21 meses gastaram-se 87.266 euros ao erário para que os vereadores e
dirigentes municipais possam andar de carro sem custos pessoal. Também não
deixa de ser interessante que não se descortina nenhuma Lei que obrigue os
contribuintes a pagar estas mordomias a quem, afinal de contas, mais aufere ao
final de cada mês, mesmo com os cortes impostos pela ‘Troika’.
SÓ UM
VEREADOR PERCORREU 52.576 KM EM 21 MESES.
ANTIGO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL TRANSPORTAVA-SE
PARA O EMPREGO EM CARRO COM MOTORISTA
DA AUTARQUIA.
Ora para
perceber a dimensão e os abusos daqueles em quem se vota, teremos, em primeiro
lugar, de conhecer a área do Concelho de Odivelas: É de 26,2 quilómetros
quadrados. Agora como é que se conseguem justificar que um vereador – no caso,
o socialista Paulo César Teixeira – percorra 52.576 Km em 21 meses, entre
Janeiro de 2012 e Setembro de 2013, ou seja uma média de 2503 quilómetros por
cada mês, o que se traduziu numa despesa de combustível de 6.279,60 euros. A
estas despesas para que este vereador possa ter carro, o erário público paga
mais cerca de 700 euros por mês do aluguer operacional da viatura, o que para
este período significou 14.700 euros.
Feitas as
contas, para que o vereador socialista Paulo César Teixeira possa ter andado de
carro, neste hiato de 21 meses, foram consumidos 20.979,20 euros dos
contribuintes e isto numa Câmara Municipal que gere um território de 26,2
quilómetros.
Mas neste
domínio, maior indignação podemos ter para com o antigo presidente da
Assembleia Municipal de Odivelas que, em igual período, conseguiu percorrer
33.576 quilómetros com a viatura da autarquia. A explicação nem sequer é
difícil: O autarca entendeu que o cargo lhe permitia deslocar-se diariamente,
para o emprego, em Lisboa, na viatura municipal conduzida por um motorista.
Mas os abusos
não ficam por aqui:
- É recorrente que um motorista da autarquia seja
chamado a deslocar-se – obviamente num veículo municipal - a um estabelecimento
de ensino, para transportar a filha de um membro do gabinete de um vereador;
- Também um director de departamento conseguiu andar
22.530 quilómetros, mais de 1000 km por mês, e gastar 3.403,83 euros.
Estes números
podem resultar numa pequeníssima parcela dos gastos de um Município que tem uma
dívida real superior à fasquia dos 110 milhões de euros a que acresce uma
empresa municipal deficitária em mais de meio milhão de euros. De qualquer
modo, não deixam de ser reveladores de um conceito perdulário da gestão da
coisa pública que impera numa maioria das lideranças políticas das
administrações públicas, sejam elas centrais, regionais ou autárquicas. E este
pesadelo, subsiste num País ainda resgatado e com compromissos avultados para
as próximas duas décadas. Isto é se soubermos cortar nestas gordurinhas e nos
desperdícios maiores que as lideranças continuam a admitir tão-só porque sabem
que jamais serão responsabilizadas.
(Convém referir que desfrutei de
viatura de empresa – privada, leia-se - durante 19 anos para utilização em
serviço e pessoal sem qualquer limitação. Apresentei sempre contas semanais e
nunca permiti que me apontassem um único abuso que fosse. Orgulho-me dos meus
carros parecerem novos e de terem clientes que aguardavam pelo momento em que
os trocava).
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