Desde pequeno que guardo na minha memória as passagens, tanto para baixo como para cima, na estrada que liga o Porto da Paiã à Pontinha. Ali sempre me habituei a ver aquela que é uma das referências de Odivelas, a Escola Agrícola da Paiã ou D. Dinis.
Para ser franco só há poucos meses lá entrei pela primeira vez, fiquei favoravelmente surpreendido com as infra-estruturas, com toda a actividade que lá se desenvolve e com o potencial que ali existe, mas nessa mesma visita também tive oportunidade de ouvir duas ideias que me preocuparam: a primeira foi o facto de para ali estar projectado um pavilhão desportivo; a segunda de haver cursos com muito pouca procura.
A primeira assustou-me, não por ser um equipamento desportivo, mas sim porque senti de imediato a ameaça do betão a invadir todos aqueles terrenos e quando se trata de betão neste concelho, todos sabemos o que isso representa. De imediato chamei a atenção para este facto, mas pareceram não se preocupar, disseram-me prontamente: as terras do local escolhido para o pavilhão não são boas para a agricultura.
Eu sei que o desporto faz bem e que todos têm o direito a pratica-lo, sou o primeiro a defender isso, mas o que aqui se trata não é de desporto, é de betão, é de aproveitamento, é, de sob a bandeira do desporto, aproveitarem para começar a construir. Há poucos dias ouvi falar de uma central de betonagem, ou qualquer coisa desse género para aqueles terrenos, dizem que é por dois anos, vamos a ver; também já lá há uma central eléctrica e uma CRIL; não chega? Parem se fazem o favor.
Sei que o betão e a construção dão dinheiro, muito dinheiro, mas nem só de dinheiro vivem os homens e as populações, precisão de muito mais, precisam de qualidade de vida, mas para isso é indispensável uma boa gestão do ambiente e a existência de espaços verdes.
Quanto a mim aquela infra-estrutura, a qual se deve preocupar em primeiro lugar com aquilo para que está vocacionada, o ensino da agricultura, podia talvez ir mais além, abrir-se à população de forma pedagógica e ensinar às crianças o que é uma quinta, como funciona e a sua importância. Assim talvez conseguissem arrecadar mais uns euros, os quais pelos vistos necessitam e despertar simultaneamente nas crianças o interesse pelas profissões relacionadas com campo, com os espaços verdes e com a agricultura.
Vejamos, na Escola Agrícola há vocação, espaço, recursos físicos e técnicos para implantar um projecto deste tipo, sem ser necessário utilizar betão, preservando o espaço verde e não fugindo da sua missão. Ali existem campos cultivados com vários tipos de produtos, adega, queijaria, laboratórios, animais (cavalos, vacas, galinhas, gansos, ovelhas, pombos, etc., etc.), tractores, carroças, espaço e material para fazer um museu da agricultura, salas para conferências e ateliers temáticos, etc., etc.
Já se aperceberam desta riqueza e do potencial que tem este espaço?
Imaginem as crianças a passar um dia na quinta, com os pais ou com a escola, tendo a possibilidade de ver como se cultiva e de cultivar, como se ordenha e de ordenhar, como se faz queijo e vinho, de dar uma volta de tractor e/ou de carroça, ou mesmo num carro de bois. Toda esta infra-estrutura, um pouco adaptada sem que fosse descaracterizada, podia funcionar como Quinta Pedagógica e conseguiria atrair milhares e milhares de visitantes a Odivelas.
Se ali quiserem fazer algo mais que uma escola agrícola, aqui está uma pista, uma ideia, não pensem só no betão e no dinheiro fácil, esta Quinta Pedagógica que até se poderia chamar D. Dinis, poderia funcionar aqui no concelho, tal e qual como funciona o Jardim Zoológico e Aquário Vasco da Gama em Lisboa.
Mais, esta quinta pedagógica enquadra-se perfeitamente na identidade de Odivelas, terra de D. Dinis (O Agricultor/O Lavrador) e terra da zona saloia, a qual há relativamente pouco tempo contribuía, de forma expressiva, para alimentar a população de Lisboa.
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