23.8.13

O Incendiário

Todos os anos por esta altura, lamentavelmente, somos inundados por fotografias/imagens na comunicação social, onde espelham a desgraça que os fogos desencadeiam de norte a sul do nosso país.
Sem querer abordar as várias formas de se evitar esta situação, uma delas passa, pela conjugação de esforços, cooperação entre as várias entidades.
Ao contrário do que diz o Ministro da Administração Interna, continuamos a ser um país, onde, cada qual defende a sua “quinta”, e onde, de facto as entidades com responsabilidades, nada fazem.
Há pelo menos 10 a 15 anos que a Dra. Cristina Soeiro (PJ) tem desenvolvido um estudo sobre o perfil psicológico do incendiário. Por uma questão de ética profissional, não devo julgar a qualidade desse trabalho, até porque não o conheço.
Uma coisa é certa, hoje estamos com mais elementos para que, num curto espaço de tempo possamos prender os incendiários. Tal como tem acontecido.
O problema está no decorrer do incêndio, e aí, toda a comunicação social tem responsabilidades.
 Aquilo a que denominam por responsabilidade e dever de informar, neste caso, pauta-se por, no mínimo, de pouca inteligência na forma como dão as notícias, e por outro, um incentivo aos impulsos de alguns que estão encapsulados. Se quiserem, funciona como uma espécie de carburante.
Quer seja em jornais ou Tv, as imagens, na sua tonalidade emocional, potenciam-se, isto é, tanto têm de belo como de assustador e, ao mesmo tempo, sinónimo de desgraça. Mas é aqui que, em minha opinião, está a quota-parte de responsabilidade da comunicação social.
No dever de informar, sem esconder a realidade, podem efectuar transmissões em directo sem focar o verdadeiro cenário de operações, sem mostrar as labaredas a engolir floresta, em especial de noite, onde, em termos cénicos, resultam em fotografias fantásticas.
À comunicação social, apenas importa fazer a reportagem mais espectacular.
Agora vamos reflectir um pouco. Para o incendiário, de entre muitas coisas, das quais resultam na sua débil e pouco organizada estrutura mental, a comunicação social dá-lhe, por assim dizer, a “cereja em cima do bolo”.
Para o incendiário (não o Homem normal) aqueles momentos são de uma beleza impossível de descrever, podemos até dizer que são momentos verdadeiramente sublimes. Nada melhor para disfrutar de tais momentos do que, e se não pode estar no local, ficar em casa a assistir, quase em directo, às fantásticas imagens que passam em todos os canais, num claro concurso para a melhor imagem.
Se me permitem, as imagens transmitidas colocam o incendiário no seu mundo, um mundo do maravilhoso, governado pelo princípio de prazer, na produção ilusória, onde ele, efectuas as suas identificações heróicas, num claro processo de compensação narcísica insuflando o seu Ego frágil e pouco estruturado na plena condição de “desejar ser…”.
Para terminar, façam uma verdadeira conjugação de esforços, entidades privadas e Governamentais, elaborem estratégias, falem com quem sabe do assunto, não pensem apenas no espectáculo da reportagem, de forma a que, seja impossível chegar o brilho (importância) a quem tanto o anseia, ao incendiário.
E já agora se me permitem, está na altura daquela figura circense, a quem um dia lhe chamaram de palhaço, condecorar todos os BOMBEIROS deste país e deixarem as palavras de cortesia às famílias enlutadas.    
Helder Pereira Salvado

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