A PROPÓSITO
DA REVISTA «CLUSTER DO MAR»
No facebook
pedem-se «likes» ou «gostos» para um conjunto de páginas, algumas de inegável
interesse a valer pela aparência.
Hoje
pediram-me para gostar da revista «Cluster do Mar»... O Mar como novo Desígnio Nacional.
Ora, como
nasci ao lado dele, e vivi, tantos dias e meses, sobre ele, por via da generosa
e honrada profissão de meu Pai. Como hoje compreendo a maledicência que a luta
dele – do meu Pai, o António Carlos Barreto - provocou por diversas vezes no seio
dos mais variados poderes.
Como agora
apreendo quanto a sua saúde ficou debilitada para sempre como resultado de um
duelo desigual ao pugnar pela causa da defesa do mar e do transporte marítimo
moderno, tantas vezes defendido pelos mais prestigiados colegas estrangeiros.
Como vivo, o mal que o Mar lhe acabou por fazer. Como sei que o seu nome ficou
apenas registado nos compêndios mais prestigiados escritos em inglês,
apeteceu-me escrever o ‘post’ que se segue e publicá-lo com o meu ‘like’.
Naturalmente
que o Mar não se confina apenas a uma «estrada» imensa para o transporte de
mercadorias.
Não conheço a
publicação. Mas o Mar nunca devia ter deixado de ser o Desígnio Nacional. Mas
deixou. Infelizmente. Por diversas razões que davam para escrever um livro, de
muitas centenas de páginas.
Portugal
vendeu ou perdeu as suas maiores companhias marítimas. Entre elas (por venda) a
sua empresa mais rendível, a SOPONATA, Sociedade Portuguesa de Navios Tanques.
Melhor dizendo, a sua companhia de petroleiros, num momento em que a frota
incluía navios novos e aguardava pela substituição da maioria da restante
frota. A SOPONATA, hoje propriedade da segunda maior transportadora de petróleo
do planeta - obviamente Norte-americana e, naturalmente com um judeu de origem
grega como maior acionista - era uma empresa portuguesa participada e de ponta.
O então primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva, entendeu que o Mar não era um
propósito de desenvolvimento nacional capaz de contracenar com os milhões dos
fundos comunitários que nos foram prometidos. O governo de então, abriu o
caminho do êxodo às formiguinhas trabalhadoras e optou por proclamar as
cigarras preguiçosas e gastadoras.
Basta
perceber um pouco de construção naval: um petroleiro é um navio com a maior
tecnologia de ponta em diversos sectores e é o veículo de transporte mais caro
do Mundo. Tenho quase, quase 56 anos, e posso gabar-me de ter viajado em muitos
dos petroleiros com bandeira dessa companhia, quase pelos cinco continentes.
A saúde de
meu Pai foi cruxificada com a venda da companhia aos norte-americanos. Meu
irmão aceitou continuar, acedeu ao convite, e é, desde há década e meia,
comandante na empresa (mais correctamente e pomposamente Capitão da Marinha de
Comércio). À americana e pelas actuais regras da marinha de comércio altamente
especializada, ele é o gestor de unidade maior. Comanda sempre entre os 2 e os 2,5
milhões de barris de petróleo que – imagine-se – de um dia para o outro, dentro
dos tanques, sossegadinhos, podem passar a valer mais ou menos 1 dólar x 2,5
milhões... Algo que impressiona e contenta a competitividade de qualquer gestor
que se preze. Algo que, seguramente, contribui para a liquidação de despesas no
curto-prazo e consubstancia perspectivas de execução orçamental a médio e longo
prazo. Não será por acaso que o maior armazenista de petróleo também é o maior
retalhista. É curiosamente o maior produtor por posse de poços. É
surpreendentemente o detentor da moeda – o dólar - que é a única que serve de
troca de 87,9% do comércio mundial de matérias-primas, metais e pedras
preciosas.
Ora quero com
isto dizer que voltar a ter o Mar como desígnio nacional, é uma boa
esperança... Precisamos, no entanto, da lucidez em perceber que isso nos
custará biliões de euros, precisamente o dinheiro que jamais teremos nas
próximas décadas.
De entender
que esse fulgor se esvaiu por opção política, dos governantes, de quase todos
os partidos políticos, dos sindicatos, dos empresários que representavam o
capital português (exceptua-se Manuel Bulhosa), da maioria dos militares da
armada portuguesa e da minoria dos trabalhadores e agentes da marinha de
comércio.
Fico curioso
por ler o conteúdo desta publicação. Mas continuo expectante sobre a
responsabilização de quem, a troco de uns fundos comunitários e de um enorme
jogo de interesses paralelos à economia nacional, permitiu a extinção da
marinha comercial nacional e a consequente estagnação das infraestruturas
portuárias, com a devida excepção do Porto de Sines que, ainda assim e no imediato,
só poderá gerar biliões por via do comércio internacional do carvão e do
petróleo e respectivos derivados.
Recorde-se
que para a operação de mercadorias gerais em carga fechada, falta construir uma
linha férrea com características de transporte transcontinental, basilar para a
própria actividade geral portuária, podendo então competir com os portos do Sul
da Europa, particularmente os espanhóis que ficam quase todos já no
Mediterrâneo, mais distantes da plataforma global europeia marítimo-terrestre
configurada na cidade holandesa de Roterdão.
(Este texto
encontra-se escrito em português e não em sintonia com o novo acordo
ortográfico que entrará em vigor a 1 de janeiro de 2015).
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