13.9.13

ATÉ SEMPRE!


 
 
«Até Sempre» , foi o título que mais se ajusta a uma despedida de mandatao autárquico em uma das maiores autarquias do País, onde tive enorme prazer em servir, mas também angustias várias. Foi uma prolongada declaração. Mas o momento e a actualidade impunha.
 
        Cumprem-se os derradeiros dias deste Mandato Autárquico (2009-2013).
Eu despeço-me. Não estarei aqui nos próximos quatro anos. Nem sei se algum dia aqui regressarei. Tentarei ser um cidadão de Odivelas, atento com sentido do dever da crítica construtiva, mas também exigente para que não se repitam tantas Assembleias de Freguesia estorvadas:
v  Por diferendos pessoais e interesses partidários;
v  Por discordâncias ideológicas que ultrapassam os assuntos da cidade de Odivelas e as preocupações dos seus cidadãos que abrem espaço à discussão de decisões de âmbito político nacional e –imagine-se – até internacional, que em nada interferem ou beliscam os interesses dos nossos eleitores.
Começo por agradecer a todos os funcionários da Junta de Freguesia de Odivelas que desempenham as suas funções com sentido da prestação do serviço público, dedicação, rigor e competência, pilares fundamentais a qualquer profissão seja ela exercida no sector público ou privado.
Estou capacitado que estas características se estendem à maioria dos que trabalham na Junta de Freguesia de Odivelas, para corresponderem ao bem necessário à comunidade da Cidade de Odivelas.
Serão poucos os que não o fazem. Mas para esses deixo um apelo:
O trabalho profícuo deixa-nos mais felizes, no final de cada dia de trabalho; enche-nos a alma porque nem demos pelas horas de trabalho, por vezes de grande dificuldade.
O trabalho produtivo torna-nos dignos!
Para quem segue o desempenho destes “actores” do serviço público é legítimo fixar os bons exemplos e felicitá-los. Recordo aqui um dos muitos bons exemplos: Precisamente, há quinze dias, às 07 horas e 45 minutos, a cantoneira Eduarda Santos, limpava os sumidores desta rua, aqui mesmo em frente desta sala onde nos encontramos reunidos (a Rua Aquilino Ribeiro). Fazia-o a preceito e sucedia o impensável: Enchia um caixote do lixo do seu carrinho-de-mão por cada escoador limpo, tal é a quantidade de lixos que a maioria dos cidadãos joga no chão ou deitam fora pelas janelas dos seus carros, papeis e invólucros de tabaco ou alimentos amachucados, garrafas de água espalmadas e outros detritos... Tudo misturado numa surpreendente argamassa composta por folhagem. Eduarda Santos puxava pela força que tem nos braços porque, passo a citar: «O Verão está quase no final e aproximam-se as primeiras chuvas e é importantíssimo que as ruas não se inundem por nada. Já basta quando a chuva é demasiada».
Despeço-me na esperança de quem aqui estiver no próximo Mandato, bem como no Executivo desta Junta de Freguesia de Odivelas, respeite quem trabalha  com dignidade e empenho, a troco de um salário que me atrevo a afirmar de miséria que nenhum dos Eleitos políticos que aqui se encontram jamais aceitariam.
Porque não aceitam sair da zona de conforto que as vossas políticas alimentam. É demasiado fácil ignorar o voluntariado também exigível à defesa da coisa pública e proferir discursos ao microfone, sempre na esperança de que o povo os siga.
Por isso, esta noite, expresso a minha gratidão àqueles que ajudam os cidadãos da Cidade de Odivelas, tantas vezes sem encontrarem uma decisão assertiva para o fazer. Podem ficar conscientes que nos últimos 4 anos, esta Assembleia de Freguesia não soube fiscalizar o Executivo da Junta. Raramente saiu à rua para ovir os cidadãos ou os trabalhadores da autarquia. Somente o fazem perto dos militantes dos partidos que representam, ignorando a comunidade que não tem filiação ou crenças políticas. Antes, espera por quem lhes mostre o caminho da esperança.

MÃO CHEIA DE QUASE NADA
Voltei à vida política 33 anos depois, 35 anos passados sobre a Revolução de Abril, de 1974.
Acreditava encontrar um País politicamente evoluído, culto, intrinsecamente virado à defesa da coisa pública, dos cidadãos que são eles o Estado, os únicos contribuintes capazes de fortalecer a Nação cultural, social e económica.
Esperava encontrar políticos capazes deste nobre entendimento, desta dignidade, profícuos nos exercício das suas funções que lhes foram confiadas pelo voto dos eleitores, mesmo quando apenas e só, confinadas à regência de uma Assembleia, ao contributo de legislar, sobre a fiscalização do exercício de um Executivo.
Não esperava encontrar convergências ideológicas. Mas vaticinava a comunhão de soluções para as dificuldades dos cidadãos, ainda e sempre por ultrapassar, independentemente dos melhores ou piores momentos em que vivemos há demasiadas décadas.
Acreditei encontrar eleitos capazes de um enorme voluntariado em acolher as enormes vicissitudes da vida dos menos afortunados: As crianças e jovens em risco, dos idosos que vivem na dependência de reformas tremendamente baixas, dos que vivem abaixo do limiar da pobreza, dos que vivem do flagelo do desemprego que penhora dezenas de anos de trabalho, entregando as suas casas aos credores e outros bens.

Nada mais errado. Nestes últimos quatro anos deparo-me:
v  Com uma mão cheia de quase nada;
v  Com mesquinhez absoluta;
v  Com um autoritarismo transversal;
v  Com um reino de senhores feudais;
v  Com aguerridos defensores de causas próprias;
v  Com Eleitos que usam a coisa pública unicamente em benefício próprio ou de um grupo de actores restrito, no teatro da vida política;
v  Com Eleitos que renunciaram aos mandatos, para poderem auferir de benefícios financeiros de milhares de euros, por ano, pagos pelos contribuintes, a troco de nada, de apenas sancionarem acordos de poder;
v  Com uma sociedade política fortemente bipolarizada entre os dois maiores partidos, o Partido Socialista (PS) e o Partido Social Democrata (PSD), que se assumem como únicos donos da verdade, ignorando outros agentes sejam ou não partidos políticos ou associações de cidadãos;
v  Com uma crise económica e de valores quase extrema, que motiva um maior número cada vez maiores de famílias destruturadas, de crianças e idosos excluídos, de maiores obstáculos à assistência médica;
v  Com uma cidade de Odivelas (também um concelho) onde se anuncia a morte lenta das economias familiares, o maior suporte da actividade social e económica da Freguesia, onde a taxa de desemprego aumentou em mais de 58% em escassos 3 anos, entre Dezembro de 2009 e Dezembro de 2012, enquanto a média nacional (Portugal Continental) cresceu em 30,4%;
v  Com uma cidade de Odivelas que não é notícia por causas dignas. Ou é pelos piores motivos ou porque se receberam prémios disto e daquilo, mas que não se traduzem em qualidade. Vejamos o exemplo da Escola Braamcamp Freire, na Pontinha, que recebeu um prémio de arquitectura, mas onde chove dentro de alguns espaços.

            Do Executivo desta Freguesia - ainda segunda maior do País, com a dimensão superior a muitos municípios portugueses - opto por guardar:
v  O cumprimento das metas na área social, dos apoios prestados no auxílio aos mais desfavorecidos. São as próprias instituições que se encontram no terreno que o afirmam;
v  O apoio e realização de eventos desportivos de alguma projecção;
v  De ter ombreado, por duas vezes, com os melhores cartazes nacionais de espectáculos musicais de Verão, ainda que sob uma estratégia de marketing pobre e preconceituosa, para quem pretendeu criar um contraciclo à crise do País;
v  Os sobressaltos e inabilidade na organização das Festas da Cidade;
v  A inquietação da gestão da própria autarquia;
v  O declínio na qualidade da manutenção do espaço público, particularmente nos espaços verdes, a demonstrarem claramente a péssima opção na contratação de determinados prestadores de serviços, sobretudo quando também são as mesmas entidades a servir a Câmara Municipal, e se transgride a uma verdadeira luta de interesses que não são os da população;
v  A instabilidade no Executivo, motivada pelo desacordo do acordo de poder entre o PSD e o PS, aqui ao contrário do que sucedeu no Município, onde quem abençoa os disparates, são os vereadores e deputados municipais sociais-democratas, do PSD.

            Estes quatro anos na vida pública lançaram-me ainda outros constrangimentos:
A dificuldade em se entender que uma coisa é criticar os decisores políticos sejam quais forem, de preferência construtivamente e sempre apoiado em factos ou acontecimentos. Completamente diferente e moralmente incorrecto é faltarmos ao respeito aos dirigentes das instituições para quem trabalhamos.
Importa separar estes costumes, sem qualquer necessidade de submissão!

            E termino recordando dois pensamentos, simples e pertinentes que aqui deixo para que todos possam reflectir:
v  Do democrata-cristão João Távora, que passo a citar - «que para lutarmos pelas nossas convicções não é obrigatório sermos todos Assessores, Deputados, Vereadores, Ministros ou Secretários de Estado. Acontece que, mesmo que os aparelhos partidários não nos queiram lá, é nesse espaço intermédio de cidadania que todos somos poucos e onde fazemos mais falta.»;
v  Do cientista e poeta alemão Johann Goethe que viveu entre 1749 e 1832. Cito: «Onde é mais intensa a luz, maiores são as sombras».

 

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