EM SETÚBAL, FORAM ROUBADOS 120 MIL
MAS NUMA SÓ ESTAÇÃO DOS CTT PAGAM-SE MAIS
DE 250 MIL EUROS NUM SÓ DIA DE REFORMAS E OUTROS SUBSÍDIOS DA SEGURANÇA SOCIAL
Primeira página do 'CM' de 10 de Abril |
Há estações do Correios de Portugal
que pagam reformas e outras subvenções da Segurança Social como o RSI
(rendimento social de inserção) todos os meses. Estes pagamentos ocorrem em
dias certos e as estações dos CTT que habitualmente o fazem socorrem-se da
dependência do banco mais próximo para terem dinheiro em caixa. As quantias são
elevadas porque nem todas as estações se encontram dispostas a fazer estes
pagamentos.
A manchete da edição do Correio da
Manhã, do passado dia 10 de Abril, dava conta de um assalto a funcionários dos
CTT, em Setúbal, que rendeu 120 mil euros. Segundo as notícias, tratou-se de um
golpe cirúrgico eventualmente de quem
tinha recebido informação privilegiada sobre o transporte do dinheiro. Este
detalhe leva agora as autoridades a investigar tanto os funcionários dos CTT que
então transportavam o dinheiro como da dependência bancária onde foi levantado
aquele montante. Eles são suspeitos de terem informado os assaltantes. Será
esta uma possibilidade a examinar. Claro que se devem encarar todas as circunstâncias.
Mas porventura, as autoridades devem
antes ser informadas que esta é uma prática recorrente em algumas estações dos
Correios de Portugal, ou seja há funcionários dos CTT que percorrem a pé ou de
carro, 100 e 200 metros transportando quantias verdadeiramente exorbitantes,
muitas vezes superiores aos 120 mil euros furtados no passado dia 10 de Abril,
em Setúbal. E seguramente isto não acontece por acaso, por iniciativa dos
funcionários, nem tão pouco pelo empenho dos chefes de estação. Alguém superior
nos correios o manda fazer e, se isso acontece é porque certamente se confia
nos trabalhadores.
Mas o mais grave é que há demasiadas
pessoas a saber destes transportes de dinheiro feitos nas algibeiras e em
envelopes ou pastas. Sabem-no clientes e funcionários dos correios e dos
bancos.
Uma vergonha!
Colocam-se vidas em risco para não pagar a uma empresa de
transportes de valores!
150 Mil ou mais euros são apetecíveis
aos amigos do alheio, sobretudo num momento em que a crise é transversal e mais
ainda quando se encontram debaixo das nossas barbas, à distância de um estalido
de dedos.
Recentemente, abordei esta questão
com um alto responsável dos CTT, precisamente sobre o que se passa numa das
estações de Odivelas, a única que aceita fazer estes pagamentos num raio
superior a 10 quilómetros. Chega a fazer embolsos destes numa quantia superior
a 250 mil euros num só dia. E o dinheiro
é levantado no banco e transportado por funcionários dos CTT, vulneráveis, sem
qualquer segurança. Aliás, nos dias destes pagamentos, nem sequer se está por
perto da estação dos correios um agente da PSP, nem mesmo em serviço
gratificado.
O golpe
de Setúbal deve servir de exemplo, particularmente aos trabalhadores que se
dispõem a fazer o transporte de tanto dinheiro. É que agora, ao fim de o
fazerem tantas vezes, de terem viajado com centenas de milhares sem que nada
tivesse sucedido, encontram-se no fio da
navalha da investigação policial que, oxalá seja competente e não enverede
pelo caminho mais fácil.
Este deverá ser um sério aviso às
mulheres e homens que trabalham nos CTT e que fazem habitualmente estes
transportes a pé ou de carro sem qualquer segurança, para descanso de outros
que, à boa maneira portuguesa, sacodem a
água do capote num momento de aflição dos seus subordinados que foram
verdadeiramente lançados às feras. Por exemplo, em Odivelas, há demasiadas
pessoas que são conhecedoras destes transportes, tão-só porque não é possível
evitar quem veja.
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