IMOBILIZADO DEVERÁ ULTRAPASSAR OS 2,5 MIL MILHÕES
Herdade dos Salgados faliu e deve 1,2 mil milhões à banca |
No ponto de vista económico, o
primeiro dia de Abril ficou marcado por mais uma notícia confrangedora: Só
habitações novas entregues aos bancos pelos construtores ou promotores
ultrapassam as 20 mil. Portanto, falamos de casas que nunca foram habitadas que
os construtores viram-se obrigados a entregar – por via da figura jurídica de Dações
em Cumprimento - às instituições bancárias por não conseguirem pagar mais juros
dos empréstimos à construção então contraídos. Estamos perante edifícios completos,
fracções ou moradias, regra geral com dois anos ou mais, que não se conseguiram
comercializar pelas mais variadas razões, todas ligadas à depressão que vivemos,
sobretudo depois do final de 2008, agravada no decurso de 2009.
O acontecimento foi noticiado por
todos os canais de televisão, mas numa perspectiva de quase normalidade de um
mercado saturado. Mas será que a oferta é assim tão maior que a procura? E qual
será o número de casas que realmente se encontram totalmente em poder dos
bancos, atendendo aos milhares que são entregues pelos seus proprietários por
não conseguirem liquidar as prestações?
O montante do capital imobilizado
pode ser dramático. Mas situemo-nos nas notícias de ontem para faze contas
simples que os Órgãos de Comunicação Social optaram por esquecer, talvez no
intuito de não aumentar ainda mais as preocupações de todos nós. Vejamos:
I.
Se
multiplicarmos 20 mil fogos por um custo médio de 80 mil euros cada, obtemos um
imobilizado de 1,6 mil milhões de euros;
II.
Mas
a média cifra-se na ordem dos 120 mil euros por habitação, o que nos atira para
um número que ronda os 2,4 mil milhões de euros;
III.
E
quantas pessoas serviriam estes 20 mil lares? 50 Mil habitantes à média de 2,5
pessoas por casa. Mas podemos reter um exemplo: O concelho de Odivelas tem
quase 150 mil habitantes para um universo de pouco mais de 37 mil lares.
Estamos claramente perante uma ‘bolha
imobiliária’ à portuguesa, uma perturbação sem precedentes no sector da
construção civil que ainda arrasta a banca para maiores dificuldades. Aliás, o
resultado dos leilões que se anunciam dificilmente cobre o montante global que
os bancos emprestaram aos construtores e promotores.
DÍVIDA AUMENTA SE LHE JUNTARMOS
OS 'BURACOS' DOS PROJECTOS PIN
E, nos casos de condomínios fechados,
muitos resultantes de projectos PIN (projectos de Interesse Nacional, uma criação do governo de José Sócrates), o buraco
que perdurará será relativamente grande, porque se emprestou dinheiro para a
realização de projectos globais que englobavam os loteamentos, respectivas infra-estruturas,
casas e em alguns casos unidades para exploração hoteleira, cujo valor das
habitações ficará distante desses montantes. Portanto, a recuperação dos
capitais investidos na construção poderá ser uma miragem.
Aliás, se juntarmos a estes 2,4
milhares de milhões de euros, mais 1,2 mil milhões que só o mega projecto da
Herdade dos Salgados, no Algarve, deve à banca, então estamos perante dívidas que
somam uma pequena fortuna que deverá ultrapassar os 3,6 mil milhões.
A estes números teremos ainda de
somar a esta crise imobiliária os ‘buracos’ de outros projectos PIN que se
encontram falidos e que devem ascender a mais de 4,5 mil milhões. Ou seja, se
todas estas contas forem bem-feitas e publicadas chegaremos à conclusão que o
sector da construção será responsável por um débito maior que o tão
propagandeado deficit do arquipélago
da Madeira, que sendo questionável do ponto de vista das opções foi, pelo menos,
maioritariamente investido em infra-estruturas que vão perdurar no tempo e se
encontram à vista de todos os que visitam a região.
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