2.1.13

Afinal, o que muda em 2013?

Há quem defenda que a recuperação da ‘crise’ europeia passa fundamentalmente pelo alicerçar do federalismo. A ideia é copiar os Estados Unidos da América. Ora, os norte-americanos são uma única Nação composta de vários Estados. Conseguiram juntar culturas, raças e religiões múltiplas para um objetivo comum, enquanto a Europa jamais o conseguirá fazer, tanto mais que nunca será uma só Nação. Na Europa subsistem as diferenças culturais, religiosas e até de raça, onde cada país tem as suas ideias próprias. É, portanto, impensável e está fora de questão uma Europa federal, a uma única velocidade, independentemente de todos os membros integrarem ou não a Zona Euro.
Importante é não esquecer que Portugal faz parte da União Europeia e aderiu à zona euro, e, neste contexto encontra-se o confronto de interesses, o político e o económico de Estados Membros, do FMI, que proporcionaram uma “troika” mal estruturada e desconhecedora da realidade portuguesa. O resgate é unicamente um negócio financeiro: Portugal precisa de dinheiro e paga-o a juros altíssimos.
Desde meados dos anos 90, a nossa política económica, pressionada pelas condições da moeda única, deu prioridade ao mercado interno, em que o nosso investimento se direcionou para os bens não transacionáveis, concretamente, os sectores onde se produzem coisas protegidas da concorrência internacional: imobiliário, distribuição, serviços, produtos financeiros, esquecendo-se por completo da produção de bens transacionáveis; a agricultura, a pesca e a indústria transformadora.
Nada nos garante que o resgate resolva a nossa crise
Gradualmente, a estrutura produtiva foi-se deteriorando. Aliás, hoje vimos que o nosso processo de desindustrialização foi/é o mais rápido da zona euro (Grécia e a seguir Espanha, ainda que em muito menor escala). Há portanto, um problema estrutural, económico, orientado para sectores protegidos da concorrência externa, devido a uma política errada. Também eles debilitados na parte da agricultura e produção alimentar, industria transformadora dessa matéria-prima agrícola, e até mesmo questões da proteção ambiental.  
Em minha opinião, e porque entrámos num novo ano, que será o primeiro, dos mais difíceis dos últimos tempos, é de vital importância percebermos que o empréstimo concedido pela “troika” (feito á pressa) não nos dá a garantia de Portugal estabilizar a crise. E porquê?
Tenho de concordar com o professor João Ferreira do Amaral quando, em Setembro último, referiu que se Portugal usasse o empréstimo da “troika” para regressar ao escudo, ainda estaríamos “a tempo de negociar uma saída com apoio comunitário, pois só assim teríamos capacidade de crescer dentro das regras da zona euro. A desvalorização da moeda faz, justamente, dar incentivos. Se se tiver moeda a desvalorizar em relação às outras, estamos é, a dar um subsídio às atividades produtoras de bens transacionáveis para competirem com as importações”.
Como isto não aconteceu, entrámos num momento crítico em que uma economia muito endividada, cria um problema: a falência das empresas e consequentemente a insolvência de famílias.
Entrámos em 2013 e não houve um único político a quem demos a oportunidade de pôr em prática, o que, nem sempre acontece na teoria, que 2012 foi um ano difícil, mas que entrávamos no bom caminho.
Brevemente, ouviremos frases repetidas: que termos novos ajustes orçamentais, maior resseção da economia, desemprego crescer, de novos sacrifícios e, muito provavelmente, novo resgate. As desigualdades entre portugueses aumentam brutalmente, claudicando a classe média que é o verdadeiro motor da economia de qualquer país.
O Presidente da República mostra-se cuidadoso no exterior, porém esquece-se que os portugueses precisam de ouvir a verdade acerca das intervenções sobre o que cá se passa internamente. Na prática, Cavaco Silva mantem-se distante das angústias dos portugueses. Opta pela suposta estabilidade política, temendo a alternância no poder, sobretudo de uma viragem à esquerda, deixando o Partido Socialista dependente ou do Bloco de Esquerda ou do Partido Comunista. Na conjuntura atual, estaremos perante derrotas anunciadas dos sociais-democratas e democratas cristãos.
Gostava de ter utilizado palavras encorajadoras para o ano novo que agora entra, mas eu não vivo de utopias e, muito menos de disfarces políticos.

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