Há quem defenda que a recuperação da ‘crise’ europeia passa
fundamentalmente pelo alicerçar do federalismo. A ideia é copiar os Estados Unidos
da América. Ora, os norte-americanos são uma única Nação composta de vários Estados.
Conseguiram juntar culturas, raças e religiões múltiplas para um objetivo
comum, enquanto a Europa jamais o conseguirá fazer, tanto mais que nunca será
uma só Nação. Na Europa subsistem as diferenças culturais, religiosas e até de
raça, onde cada país tem as suas ideias próprias. É, portanto, impensável e
está fora de questão uma Europa federal, a uma única velocidade, independentemente
de todos os membros integrarem ou não a Zona Euro.
Importante é não esquecer que
Portugal faz parte da União Europeia e aderiu à zona euro, e, neste contexto
encontra-se o confronto de interesses, o político e o económico de Estados Membros,
do FMI, que proporcionaram uma “troika” mal estruturada e desconhecedora da
realidade portuguesa. O resgate é unicamente um negócio financeiro: Portugal
precisa de dinheiro e paga-o a juros altíssimos.
Desde meados dos anos 90, a nossa
política económica, pressionada pelas condições da moeda única, deu prioridade
ao mercado interno, em que o nosso investimento se direcionou para os bens não
transacionáveis, concretamente, os sectores onde se produzem coisas protegidas da
concorrência internacional: imobiliário, distribuição, serviços, produtos
financeiros, esquecendo-se por completo da produção de bens transacionáveis; a
agricultura, a pesca e a indústria transformadora.
Nada nos garante que o resgate resolva a nossa crise
Gradualmente, a estrutura produtiva
foi-se deteriorando. Aliás, hoje vimos que o nosso processo de
desindustrialização foi/é o mais rápido da zona euro (Grécia e a seguir Espanha,
ainda que em muito menor escala). Há portanto, um problema estrutural,
económico, orientado para sectores protegidos da concorrência externa, devido a
uma política errada. Também eles debilitados na parte da agricultura e produção
alimentar, industria transformadora dessa matéria-prima agrícola, e até mesmo
questões da proteção ambiental.
Em minha opinião, e porque entrámos
num novo ano, que será o primeiro, dos mais difíceis dos últimos tempos, é de
vital importância percebermos que o empréstimo concedido pela “troika” (feito á
pressa) não nos dá a garantia de Portugal estabilizar a crise. E porquê?
Tenho de concordar com o professor
João Ferreira do Amaral quando, em Setembro último, referiu que se Portugal usasse
o empréstimo da “troika” para regressar ao escudo, ainda estaríamos “a tempo de negociar uma saída com apoio
comunitário, pois só assim teríamos capacidade de crescer dentro das regras da
zona euro. A desvalorização da moeda faz, justamente, dar incentivos. Se se
tiver moeda a desvalorizar em relação às outras, estamos é, a dar um subsídio
às atividades produtoras de bens transacionáveis para competirem com as
importações”.
Como isto não aconteceu, entrámos num
momento crítico em que uma economia muito endividada, cria um problema: a falência
das empresas e consequentemente a insolvência de famílias.
Entrámos em 2013 e não houve um único
político a quem demos a oportunidade de pôr em prática, o que, nem sempre acontece
na teoria, que 2012 foi um ano difícil, mas que entrávamos no bom caminho.
Brevemente, ouviremos frases
repetidas: que termos novos ajustes orçamentais, maior resseção da economia,
desemprego crescer, de novos sacrifícios e, muito provavelmente, novo resgate. As
desigualdades entre portugueses aumentam brutalmente, claudicando a classe
média que é o verdadeiro motor da economia de qualquer país.
O Presidente da República mostra-se cuidadoso
no exterior, porém esquece-se que os portugueses precisam de ouvir a verdade
acerca das intervenções sobre o que cá se passa internamente. Na prática, Cavaco
Silva mantem-se distante das angústias dos portugueses. Opta pela suposta
estabilidade política, temendo a alternância no poder, sobretudo de uma viragem
à esquerda, deixando o Partido Socialista dependente ou do Bloco de Esquerda ou
do Partido Comunista. Na conjuntura atual, estaremos perante derrotas
anunciadas dos sociais-democratas e democratas cristãos.
Gostava de ter utilizado palavras
encorajadoras para o ano novo que agora entra, mas eu não vivo de utopias e,
muito menos de disfarces políticos.
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