26.7.12

Estado Social, será o único culpado de todas as crises?

André Macedo escreve, na sua coluna do DN Opinião, um artigo muito pertinente sob o titulo “O Estado Social”. O autor coloca o dedo na ferida: Nenhum governo dos países abraços com problemas financeiros graves, ainda mostrou as contas do que se gasta com o Estado Social, com as políticas de apoio social e com a saúde pública. Mas ainda assim, esta é a despesa pública responsável por todas as crises. Aquelas onde é preciso cortarem já, para salvar as economias e por os países a crescer. Todos parecem unânimes: Não se conseguem captar receitas capazes de pagar o Estado Social. Mas será mesmo assim?
Em Portugal, seria vital os contribuintes saberem claramente onde são aplicados os dinheiros resgatados pela ‘Troika’. Em quantas fatias cortaram o bolo e em que pratos são servidas. As notícias dão conta de que a banca privada precisa de auxílio quase permanente. Essa ajuda cifra-se em números astronómicos, sempre na casa dos centenas de milhões. Diz-se que as instituições pagarão com juros e se não cumprirem os prazos fixados, as importâncias transformam-se em acções que passam para o poder do credor, o Estado.
Ora, muito bem: Neste domínio temos dois cenários:
I. Algumas das instituições bancárias auxiliadas são detentoras de dívida pública portuguesa e receberão um juro altíssimo, alguns pontos percentuais acima do que terão de pagar pelos empréstimos que o Estado lhes fez. Com alguma engenharia financeira e com a possibilidade - ainda que remota, de comprar dinheiro no mercado internacional a juro muito baixo – a banca sairá a ganhar;
II. Só o BPN, vendido ao BIC, custará aos contribuintes mais de 4,9 mil milhões de euros, a verba final do prejuízo assumido pelo Estado. E nem sequer valerá a pena procurar saber as contas do BPP, Banco Privado Português, cuja problemática parece ter caído em esquecimento.
Se transformarmos estes valores em derrapagens das contas públicas, e lhes juntarmos uma enormidade de disparates feitos em investimentos supérfluos, estaremos certamente perante um número muito maior que as eventuais dificuldades imediatas da Segurança Social que, se bem me recordo, chegou a adquirir dívida pública portuguesa no início do ano passado, por decisão do anterior governo.
Antes de abordarmos a temática dos custos do Estado Social, importaria discernir sobre as opções de alguns países europeus em apostar muito mais no factor financeiro que no factor trabalho, consolidado na indústria e na agricultura de grande ou média expressão, especializada e tecnológica exportável, o maior dinamizador de qualquer economia.
Seria do maior interesse que todos pudéssemos conhecer a realidade entre as dívidas públicas e privadas dos países europeus da zona euro. Certamente, teríamos uma surpresa!

Deixo-vos com o artigo de André Macedo:
«Isto por mim está visto, disse o Luiz Pacheco ao jornal A Capital uns tempos antes de morrer. Foi manchete, lembro-me bem, a fotografia do escritor maldito ilustrava a primeira página, os óculos fundo de garrafa, olhos pequenos perdidos e vivaços, ar esquálido, ar de quem zomba, já sem dentes (acho que estava sem dentadura). Se o Pacheco estivesse por cá, talvez repetisse o mesmo. Isto por mim está visto. Leio os cronistas, ouço os comentadores e eles repetem-se - repetimo-nos todos, a diferença é pequena, só detalhes, mas o artigo que andamos a escrever, andamos a escrever todos há demasiado tempo. Há para aí um ano, pelo menos.
Tempos extraordinários, estes. Passa um mês e comentamos a execução orçamental como quem comenta um jogo de futebol em que já estamos a perder 3-0 ao intervalo e não vamos recuperar. Mas quem quer saber? Está perdido. Resta apenas saber se vamos perder a face - e isso depende pouco de nós. Depende da boa vontade da troika. Depende da má figura dos outros, de mais calamidades, depende da sr.ª Merkel e do que lhe acontecer. Passos é figurante, embora com direito a umas falas. Até os espanhóis nos servem de desculpa e alegram com as suas misérias escondidas, mas que vão sendo conhecidas pouco a pouco.
Não dá para tourear mais a realidade. Os credores estão impacientes. Em certa medida, os espanhóis são um pouco gregos, não é? Um político que cheirava coca como um papa-formigas com o dinheiro dos munícipes. Era o motorista que ia comprar camiões da coisa para os dois. O escritório ficava num bar. Era lá que recebia os conterrâneos. Fumava cigarros em fila indiana, bebia Gin Tonic como se estivesse em África e distribuía notas como se não houvesse amanhã. Depois há o genro do Rei. O genro do Rei andou desportivamente, olimpicamente, a desviar milhões. Coisa muito elegante. Chique. Um príncipe, este duque. Realmente uma merda.
E todos os disparates que as autonomias andaram a fazer? Lembro-me de ir a Valência numa Cimeira Ibérica. Que coisa pindérica a zona de exposições. Um bolo de noiva - na altura, tudo era uma expo, ficou só uma exposição de milhões desbaratados. Valência está falida, há mais cinco regiões de mão estendida. Claro, a culpa é da saúde pública, a culpa é dos subsídios de desemprego que protegem e estimulam os calões, a culpa é dos subsídios de doença. Desta crise só há uma luta que ainda vale a pena travar: a história que vão contar dela. A narrativa que vai sobrar e ajudará a moldar o futuro. O Estado social está no banco dos réus. Aliás, já está quase condenado à morte. Julgado sem julgamento. Não se fazem contas, esquecem-se os BPN (o Bankia, em Espanha), as autoestradas, as vias rápidas, as contratações políticas, as empresas públicas. Tudo é Estado social. Será? O tanas é que é.»

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