Estamos a comemorar a Páscoa. Muitos
cristãos não entendem a amplitude da sua mensagem e quase a transformam numa
festa pagã. Mas não o é: vivemos um período onde apenas devemos meditar sobre a
capacidade de todos nós nos perdoarmos uns aos outros. De termos a humildade de
olhar a 360 graus e conseguir distinguir o bem do mal e suplicar para que se
corrijam todos os homens e mulheres que não agem correctamente. Devemos
desencorajar a fartura e sermos mais racionais. Festejar sim, mas com a
percepção da realidade de um Mundo cada vez mais necessitado de quase tudo. Talvez
ter a coragem de dar um pouco a quem mais precisa, acima de tudo de honraria.
É nesta quadra que as Igrejas
imploram ainda mais pela construção de um mundo melhor, mais justo para todos e
onde todos tenham lugar e direito à vida digna, ao alimento, à habitação, aos
cuidados básicos de saúde e ao ensino.
Por exemplo, o novo Papa Francisco
recorda a necessidade da partilha entre todos, do final da ganância humana, da
reunião de todos os povos, independentemente das raças e convicções religiosas
e políticas. Ontem, o papa Francisco lavou e beijou os pés a jovens
delinquentes, de raças e credos diferentes. Resolveu visitar um estabelecimento
prisional de reinserção de jovens na comunidade; entendeu ser ali, o lugar mais
oportuno para iluminar consciências e alertar-nos a todos para o facto de estarmos
a percorrer uma estrada perigosa que termina numa zona escura e com um
monumental degrau, quase em abismo.
O jesuíta Jorge Mario Bergoglio – o Papa
Francisco - aponta-nos a honradez, o tempo da distribuição de sacrifícios e o
dever de tudo fazer para que se distribuía a riqueza, para que se olhe para
actual condição humana e os efeitos da globalização que não mais fizeram que
criar maiores diferenças e maior pobreza. Aponta ainda o caminho para o entendimento
entre todos os credos e o risco que significa utilizar-se as religiões nas
lutas políticas, nas disputas pelo poder.
Ainda assim, as piores notícias
continuam a chegar.
MORTOS À PEDRADA EM NOME DA FÉ
Este mês da
Páscoa - Março - ficou marcado por várias notícias tristes, algumas mesmo
terríveis., Pelo seu significado escolhi aquela que nos foi revelada de um
casal com uma eventual relação infiel ter sido executado de acordo com a Lei
Islâmica (“Sharia”), no norte do Mali, perto da cidade de Aguelhok. A autoria
da execução foi do grupo radical islâmico Ansar al-Din – os “defensores da fé”
–, liderado pr Iyad Ag Ghaly e que ainda controla alguns locais do norte
daquele país africano, desde o golpe de estado ocorrido no dia 21 de Março do
ano passado, apesar da recente intervenção das tropas francesas.
De acordo com
prática destes movimentos islamitas no Magreb islâmico, o homem e a mulher
foram enterrados até ao pescoço e depois atacados com pedras até morrerem.
A notícia
serve para nos fazer debruçar sobre esta ‘gota de água’ num enorme oceano de
atrocidades que se cometem arbitrariamente, todos os dias, principalmente nos
países árabes liderados por estes grupos radicais. São práticas que acontecerão
também nos ditos países libertados, onde reina o caos.
Se é certo
que não podemos estar ao lado das lideranças autocratas, porque nos
envergonham, também importa perceber quem são os líderes dos libertadores, das
guerrilhas que lutam contra os poderes nos países do Magreb e no médio Oriente,
como na Síria.
Pelo que se
percebe são tão autocratas quanto os que detém o poder ou acabaram por cair,
tal como sucedeu no Egipto.
Na Síria,
quando o regime tombar, seguramente será substituído por quem se apressará a
extinguir algumas liberdades (já raras nos países árabes) que permitem às
mulheres algumas liberdades alargadas e a autonomia religiosa. Os cristãos e os
judeus serão os primeiros a serem perseguidos.
Por exemplo,
terminará o julgamento do adultério nos tribunais comuns com penas adequadas,
para passarmos aos julgamentos sumários e condenações à morte na praça pública.
Actualmente,
casos como esta condenação à morte por via de pedradas, fazem interrogar sobre
as políticas ocidentais para estes países, incluindo as posições demasiado
fundamentalistas contra o regime sírio. Talvez devêssemos evocar o exemplo
iraniano e considerar que todos estes grupos extremistas que vão ocupando
posições nestas áreas do globo, são alimentados por correntes políticas
iranianas, sudanesas, egipcias, argelinas, paquistanesas e indonésias, numa
clara política de expansão da sua influência. O califato é uma realidade: há correntes dentro da hierarquia da
igreja muçulmana que quer voltar a influenciar as áreas onde tiveram predomínio
há mil anos atrás, a Norte do mar Mediterrâneo. O que aconteceu nos Balcãs e a
instabilidade que se mantêm naquela zona do Sul da Europa é uma clara
demonstração desta realidade que, agora, apenas se encontra mais esfumada por
causa da crise financeira, sobretudo nos países da União Europeia da Zona Euro.
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