Maria João, Susana e Isabel, são três nomes que registo na minha agenda
dedicada aos melhores. Três profissionais distintas. A sua competência e rigor
saem da capacidade de ouvir, pensar e reflectir. Juntam-lhe dose elevada de
empenho e até de gentileza. Sete sessões são o quanto baste para que possamos
fazer uma avaliação justa. E sobram, para ouvir os utentes oferecerem as
melhores referências, descansar o íntimo uns dos outros em consciência e com a
convicção que não há melhor. Alguns até rezam para não irem parar ao
hospital Beatriz Ângelo. Valha-nos isso, sobretudo para quem tem de pagar 4,40 euros em transportes para aceder a cuidados de saúde que não tem na sua cidade.
__________________________________________________
Sabemos que os cortes nos salários
dos funcionários públicos, por via do aumento do IRS e de outras supressões,
criam desconforto entre todos. Porventura, algum “stress” aos que não se
imaginam a trabalhar sem saber o que lhes vai suceder a curto prazo, independentemente
de serem ou não competentes naquilo que fazem.
Também há quem não tenha alterado os
desempenhos apesar de todas as contrariedades. Que se mantenham empenhados,
competentes e gentis na sua função pública, principalmente quando ela
proporciona conforto aos utentes em estabelecimentos de saúde. Pior é quando
alguns desses funcionários ganham pouco mais de 150 euros mensais por força de
estarem submetidos aos acordos com a Segurança Social, precisamente quase 90
euros, acrescidos de subsídio de refeição e passe social. Esses que são quem
mais direito têm para reclamar encontram-se entre os melhores.
Naturalmente que todos compreendem a
injustiça de quem aufere cerca de 2000 euros mensais brutos, descontarem mais
de 831 euros a partir deste mês. É tremendo para quem tem obrigações mais
extensas com casa e despesas variadas com filhos.
Agora, com todas as razões que lhes
possamos aceder, esta problemática transversal, jamais será razão de alteração
de humor, rigor, educação e porventura competência. Era só o que faltava ter
médicos de família a berrar com os utentes, porque se encontram mal dispostos.
Ainda mais desconcertante é ouvir uma destas médicas, funcionárias públicas,
mandar um doente comprar o medicamento sem receita porque é barato, impondo ao
utente uma classificação do que é barato ou caro.
Precisamente: Isto aconteceu na USF
da Ramada, na passada sexta-feira, dia 19.
Primeiro, com a médica Ana Botelho
que, ao ser interpelada se poderia passar uma receita de anti-inflamatório para
que o paciente tomasse de imediato, sem dar qualquer cumprimento, ao estilo
«barata tonta», liberta enorme carga de arrogância, volta as costas ao doente e
afirma: «não passo porque estou a consultar grávidas. Dirija-se ao atendimento
e deixe ficar. Para a semana, venha buscar».
Pior é que repetiu isto a gritar ao
longo do corredor quando o doente lhe tentou explicar a urgência do pedido.
Como se isto não bastasse, uma outra
clinica, que se encontrava à porta do seu gabinete, afirmou categoricamente:
«Se precisa com tanta urgência, vá à farmácia que o anti-inflamatório é
barato». Muito bem, levantam-se duas questões, ambas inacreditáveis:
1. A que titulo, uma médica pode decidir
o que é ou não barato para o utente. Quem autoriza esta funcionária pública a
mandar na carteira dos outros?
2. O anti-inflamatório – ou seja o
Ibuprofeno, genérico ou não – apresenta-se em, pelo menos, três gramagens,
habitualmente em dosagens de 200 mg, 400 mg ou 600 mg, sendo que as duas
últimas apenas podem ser vendidas mediante apresentação de receita médica.
Ora, esta médica proferiu um péssimo conselho e ilegal, porque o paciente em
causa tem de tomar no mínimo os comprimidos revestidos por pelicula de 400 mg.
Portanto, esta médica “meteu a foice em seara alheia” e mal, tanto mais que ninguém
lhe encomendou qualquer sermão. É claro que este medicamento genérico pode
custar 3,16 euros o que pode não ser nada de extraordinário, mas como poderá
ser significativo para quem nada tem. 3,16 euros sempre dão para comprar 22
pães ou 5 litros de leite ou 4 quilos de arroz.
O mais curioso é que cerca de 15
minutos antes desta ocorrência, a médica Ana Botelho já tinha cometido uma outra
indelicadeza que apenas se pode intitular como falta de consideração perante um
utente e outros profissionais de saúde: Sem bater á porta e fazer qualquer
pergunta, irrompeu pela sala de tratamentos quando duas enfermeiras tratavam um
ferimento.
Estes acontecimentos são
inaceitáveis. Se estas profissionais de saúde não se encontram capazes de
desempenhar a sua profissão de caracter público e não sabem acolher, decididamente
devem procurar outros exercícios em estabelecimentos privados, ou então fora do
âmbito do atendimento público.
Não há actividade frutuosa que não
nasça do saber escutar, pensar, e reflectir. As dificuldades que o País
atravessa, obrigam mais do que nunca a que os cidadãos não contribuam para
manter estes trabalhadores que não mostram capacidade funcional, antes se
assumem como funcionalistas. Por isso, exige-se uma avaliação de competências
isenta e sem politiquices à mistura que consiga separar o trigo do joio.
Sem comentários:
Enviar um comentário