21.7.13

Na USF da Ramada há o melhor de dois mundos. Competência e rigor versus total inaptidão

Maria João, Susana e Isabel, são três nomes que registo na minha agenda dedicada aos melhores. Três profissionais distintas. A sua competência e rigor saem da capacidade de ouvir, pensar e reflectir. Juntam-lhe dose elevada de empenho e até de gentileza. Sete sessões são o quanto baste para que possamos fazer uma avaliação justa. E sobram, para ouvir os utentes oferecerem as melhores referências, descansar o íntimo uns dos outros em consciência e com a convicção que não há melhor. Alguns até rezam para não irem parar ao hospital Beatriz Ângelo. Valha-nos isso, sobretudo para quem tem de pagar 4,40 euros em transportes para aceder a cuidados de saúde que não tem na sua cidade. 
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Sabemos que os cortes nos salários dos funcionários públicos, por via do aumento do IRS e de outras supressões, criam desconforto entre todos. Porventura, algum “stress” aos que não se imaginam a trabalhar sem saber o que lhes vai suceder a curto prazo, independentemente de serem ou não competentes naquilo que fazem.
Também há quem não tenha alterado os desempenhos apesar de todas as contrariedades. Que se mantenham empenhados, competentes e gentis na sua função pública, principalmente quando ela proporciona conforto aos utentes em estabelecimentos de saúde. Pior é quando alguns desses funcionários ganham pouco mais de 150 euros mensais por força de estarem submetidos aos acordos com a Segurança Social, precisamente quase 90 euros, acrescidos de subsídio de refeição e passe social. Esses que são quem mais direito têm para reclamar encontram-se entre os melhores.
Naturalmente que todos compreendem a injustiça de quem aufere cerca de 2000 euros mensais brutos, descontarem mais de 831 euros a partir deste mês. É tremendo para quem tem obrigações mais extensas com casa e despesas variadas com filhos.
Agora, com todas as razões que lhes possamos aceder, esta problemática transversal, jamais será razão de alteração de humor, rigor, educação e porventura competência. Era só o que faltava ter médicos de família a berrar com os utentes, porque se encontram mal dispostos. Ainda mais desconcertante é ouvir uma destas médicas, funcionárias públicas, mandar um doente comprar o medicamento sem receita porque é barato, impondo ao utente uma classificação do que é barato ou caro.
Precisamente: Isto aconteceu na USF da Ramada, na passada sexta-feira, dia 19.
Primeiro, com a médica Ana Botelho que, ao ser interpelada se poderia passar uma receita de anti-inflamatório para que o paciente tomasse de imediato, sem dar qualquer cumprimento, ao estilo «barata tonta», liberta enorme carga de arrogância, volta as costas ao doente e afirma: «não passo porque estou a consultar grávidas. Dirija-se ao atendimento e deixe ficar. Para a semana, venha buscar».
Pior é que repetiu isto a gritar ao longo do corredor quando o doente lhe tentou explicar a urgência do pedido.
Como se isto não bastasse, uma outra clinica, que se encontrava à porta do seu gabinete, afirmou categoricamente: «Se precisa com tanta urgência, vá à farmácia que o anti-inflamatório é barato». Muito bem, levantam-se duas questões, ambas inacreditáveis:
1.      A que titulo, uma médica pode decidir o que é ou não barato para o utente. Quem autoriza esta funcionária pública a mandar na carteira dos outros?
2.      O anti-inflamatório – ou seja o Ibuprofeno, genérico ou não – apresenta-se em, pelo menos, três gramagens, habitualmente em dosagens de 200 mg, 400 mg ou 600 mg, sendo que as duas últimas apenas podem ser vendidas mediante apresentação de receita médica. Ora, esta médica proferiu um péssimo conselho e ilegal, porque o paciente em causa tem de tomar no mínimo os comprimidos revestidos por pelicula de 400 mg. Portanto, esta médica “meteu a foice em seara alheia” e mal, tanto mais que ninguém lhe encomendou qualquer sermão. É claro que este medicamento genérico pode custar 3,16 euros o que pode não ser nada de extraordinário, mas como poderá ser significativo para quem nada tem. 3,16 euros sempre dão para comprar 22 pães ou 5 litros de leite ou 4 quilos de arroz.
O mais curioso é que cerca de 15 minutos antes desta ocorrência, a médica Ana Botelho já tinha cometido uma outra indelicadeza que apenas se pode intitular como falta de consideração perante um utente e outros profissionais de saúde: Sem bater á porta e fazer qualquer pergunta, irrompeu pela sala de tratamentos quando duas enfermeiras tratavam um ferimento.
Estes acontecimentos são inaceitáveis. Se estas profissionais de saúde não se encontram capazes de desempenhar a sua profissão de caracter público e não sabem acolher, decididamente devem procurar outros exercícios em estabelecimentos privados, ou então fora do âmbito do atendimento público.
Não há actividade frutuosa que não nasça do saber escutar, pensar, e reflectir. As dificuldades que o País atravessa, obrigam mais do que nunca a que os cidadãos não contribuam para manter estes trabalhadores que não mostram capacidade funcional, antes se assumem como funcionalistas. Por isso, exige-se uma avaliação de competências isenta e sem politiquices à mistura que consiga separar o trigo do joio.
 

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