10.3.10

Odivelas e Educação (5) – Por coincidência um acidente.


Tinha prometido aos pais da escola Barbosa du Bocage que quando houvesse um dia de sol faria uma nova visita à escola para ver as crianças brincar no recreio e as acrobacias que se viam em cima dos muros do recinto.

Ontem a chuva deu uma trégua e lá fui eu. Passados que eram cinco ou dez minutos da minha chegada tocou para o intervalo, eu estava no interior do edifício, esperei que todos saíssem e depois dirigi-me para o pátio exterior. Quando cheguei à rua havia crianças com um ar feliz, a correr, a saltar e a brincar em todos os lados, dei uma primeira olhadela, eram muitos!

Tentei ver se havia algumas crianças, tal como me tinham dito, com queda para a acrobacia, a brincar em cima daqueles muros tão perigosos, à primeira vista não vi nem um! Passados uns segundos da minha primeira olhadela, dirigi o meu olhar para o edifício escolar a ver se uma das mães com quem eu tinha combinado chegava e, … eis que vejo o primeiro acrobata. Tentava subir de um dos muros para o telheiro, esteve um ou dois minutos a tentar, mas não conseguiu e desistiu.

A tal mãe continuava a não aparecer, fiz um compasso de espera, olhei para o meu lado direito, num dos recantos dos muros estava uma grande poça de água toda enlameada, à volta dela três ou quatro crianças (5-6 anos) entretinham-se a atirar um pedregulho (2-3 kg) para a poça com o objectivo de a fazer transbordar e de salpicar ou outros. Pareceu-me que a brincadeira era perigosa, não por ficarem todos sujos e/ou molhados, mas porque que a pedra que era grande e a pouca distancia, num nível mais abaixo, passavam outras crianças, com alguma facilidade a pedra podia ir parar em cima de alguma cabeça. Fui chamar uma auxiliar e a brincadeira acabou.

Finalmente chegou uma das mães, já o intervalo ia com uns cinco minutos, tempo suficiente para que os acrobatas tivessem “aquecido” e entrassem em acção. Cumprimentei-a, troquei umas palavras de ocasião e voltei a dar, agora em conjunto com a senhora, uma segunda olhadela. Agora sim, as miúdas felizes faziam dos muros, verdadeiras passerelles, onde brincavam às passagens de modelos e os rapazes corriam, saltavam e pulavam com a maior destreza em cima dos muros, sem dúvidas, eram eles os “grandes acrobatas”.

Comentámos o que nos era dado a observar e fomos dar uma volta à escola. Empoleirados em cima de uma rede/grade que separa a escola do Centro de Dia estavam umas 20 ou 30 crianças a assistir animadamente ao jogo da malha que do outro lado decorria, depois fomos ao “muro alto” e lá em havia crianças sentadas (estavam calmas), quando descíamos a escada que lhe é paralela passou uma rapariga a descer pelo corrimão a toda a velocidade, na floreira (sem flores) um rapazito pulava animada em cima de uma poça de água e um pouco mais á frente, mais três pirralhos (5-6 anos) treinavam os saltos de um dos muros (+/-1,5 mt.) para o chão.

Continuámos o nosso passeio, fomos em direcção às traseiras das escolas, onde continuava a haver crianças, reparámos que muitas das pedras da calçada que na semana anterior estavam espalhadas um pouco por todo o lado, já tinham sido removidas. De repente houve-se a gritar, “Sangue, ela tem sangue, ela está a deitar sangue”.

Uma auxiliar acorre de imediato ao local, chega ao mesmo tempo que nós, pega na criança que deitava muito sangue da boca e leva-a de imediato para dentro da escola para lhe prestar o primeiro auxílio. A rapariga, juntamente com umas amigas, estava a brincar em cima de um portão que andava para traz e para a frente, provavelmente escorregou e bateu com a boca num dos ferros pontiagudos da grade do portão.

Extremidade pontiaguda do portão.

A minha visita estava a acabar, dirigia-me ao edifício da escola, acompanhado por uma das mães quando fomos abordados pela coordenadora da escola. Nessa intercepção, disse-nos que não podíamos publicar e utilizar as fotografias tiradas no interior da escola sem que houvesse autorização, disse à senhora que não publicaria, como é óbvio imagens em que se reconhecessem crianças, mas que as outras eram importantes para que as pessoas conseguissem visualizar os perigos.

Enquanto falávamos (eu e a coordenadora), muitas crianças brincavam em cima dos muros, chamei-lhe a atenção para o perigo que aquelas brincadeiras representavam e que estavam bem patentes na criança que tinha tido há poucos minutos um acidente, a senhora disse somente:

“eles é que têm que ter cuidado, sabem que não se pode brincar em cima dos muros.”

Assim acontecem e continuarão a acontecer muitos acidentes que poderiam ser evitados.


Nota 1: Não percebo como é que a senhora coordenadora estava mais preocupada com a minha presença na escola e com a publicação das imagens que denunciam os perigos, do que com a criança acidentada.

Nota 2: Só publiquei imagens em que não aparecem crianças, as restante, mesmo algumas onde não se conseguem reconhecer as crianças, embora interessante, por respeito à senhora coordenadora, por enquanto, ficam só para mim.

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