8.3.12

"Aula" na Escola Miguel Torga



Paulo Aido contou histórias do livro “A primeira derrota de Salazar”

O general Vassalo e Silva, então governador da Índia portuguesa, foi um herói porque, sozinho, decidiu salvar de um massacre a vida de três mil e quinhentas militares, de muitos outros milhares de civis e um edificado que é hoje Património da Humanidade”, afirmou Paulo Aido, durante uma palestra sobre o livro ‘A primeira derrota de Salazar’, num auditório repleto de alunos, na Escola Miguel Torga, em Massamá, na linha de Sintra.
O autor do livro recordou que aquele general “revelou uma enorme coragem ao resolver-se pela rendição poucas horas depois das tropas da União Indiana começarem a invasão, contrariando a mensagem do presidente do Conselho de Ministros de Portugal, António Oliveira Salazar, o líder de um regime fechado e ditatorial que jamais aceitaria ser questionado ou desautorizado, e por saber, perfeitamente, as consequências que daí decorreriam para o seu futuro pessoal”.
Paulo Aido esclareceu que “o general Vassalo e Silva teve a coragem de não cumprir a mensagem clara de Salazar, onde se lia ‘só prevejo soldados vitoriosos ou mortos’, de regressar a Portugal após a libertação dos militares portugueses, presos em campos de concentração, para ser expulso das forças armadas e passar por humilhações inimagináveis, tendo mesmo a necessidade recorrer à sua formação em engenharia para sobreviver”.
O autor e jornalista explicou que “os militares portugueses que se encontravam em Goa, em Dezembro de 1961, dispunham de armas ligeiras antiquadas que nem sequer eram automáticas e algumas peças de artilharia, para combater as tropas da União Indiana que eram mais de cinquenta mil, equipadas com armas e carros de combate modernos, apoiadas por aviões caças e vasos de guerra, entre eles um porta-aviões”. E precisou: “Certamente por isto, Salazar tentou sempre evitar a invasão da Índia portuguesa através da acção diplomática, particularmente junto do Reino Unido e dos Estados Unidos (…) mas acabou por ter o infortúnio da eleição de John Kennedy para presidente dos Estados Unidos que era fervoroso adepto das descolonizações e por quem Salazar não tinha qualquer simpatia”.
Na altura – prosseguiu Paulo Aido – Portugal encontrava-se relativamente isolado do ponto de vista político, talvez sem que os portugueses se apercebessem dessa realidade porque se censuravam determinadas notícias que o regime não gostava de ver difundidas. Isto era feito por um grupo de pessoas, os censores, que eliminavam ou filtravam as notícias antes de serem publicadas nos jornais, ouvidas na rádio e vistas na televisão”.
Daí a razão do titulo do livro – adiantou o autor - porque esta primeira derrota de Oliveira Salazar, se ficou a dever à contrariedade que motivaram as inúmeras notícias em todos os maiores Órgãos de Comunicação Social de todo o mundo sobre este acontecimento, que está longe de ser triste ou frustrante para o nosso País, porque a relação de forças entre as nossas tropas e as da União Indiana eram abismais e porque não podiam ser socorridas por estarem a milhares de quilómetros de distância”.
Paulo Aido explicou ainda que na génese do livro esteve uma entrevista realizada a este propósito com antigos combatentes, há cerca de quatro anos, que “me fez perceber da existência de uma espécie de hiato na nossa história contemporânea, em particular sobre a perca deste território, num momento em que se apelava à necessidade de consolidar a união nacional e de todos os territórios portugueses”.
Por outro lado, o autor revelou a metodologia da investigação que fez para poder escrever com enorme precisão não só os factos, como todo o ambiente da Goa de então, como os simples detalhes do restaurante do hotel, que curiosamente se encontra intacto, o palácio do governador, até ao interior dos aviões Douglas da transportadora aérea TAIP, Transportes Aéreos da Índia Portuguesa, e das refeições aí servidas.
Importa aqui ter-me socorrido dos mecanismos que me habituei enquanto jornalista que sou, há mais de 20 anos, da paixão pela escrita, da flama em narrar um acontecimento que acredito que todos devem conhecer, de um pedaço da nossa história recente”, disse Paulo Aido que antecipou: “Por exemplo, precisei da minha mesa da sala de jantar para espalhar toda a documentação e rascunhos com anotações da minha investigação e, por isso, durante seis meses, a minha família teve de emigrar para a cozinha nas horas das refeições”.
O autor manifestou a sua visão sobre a individualidade e a conduta que os escritores devem ter e das suas experiências diferentes sobre cada um dos livros que escreveu, sobretudo do “Peregrino de Fátima, João Paulo II” e da “Confidente de Sá Carneiro, Conceição Monteiro”.
“A primeira derrota de Salazar” foi lançado em Dezembro último, dias antes do quinquagésimo aniversário da queda da Índia portuguesa, às mãos de Pandit Nehru, e a posterior anexação na União Indiana. Foi considerado como a obra literária de 2011, elogio veiculado por Maria Barroso, antiga primeira-dama portuguesa, também ela uma das figuras que fez questão de apresentar o livro, então no espaço da Fnac do Colombo. Recorde-se que este trabalho foi ainda anunciado pelo professor Narana Coissoró, na Casa de Goa, e pelo jornalista e docente universitário Joaquim Letria, no Forno da Cidade, em Odivelas.

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