Lembro-me em pequeno de ter lido e ouvido as mais variadas histórias infantis, as mesmas que há menos anos, na função inversa, a de pai, li vezes sem conta. Primeiro para o meu filho mais velho e depois para a rapariga.
Se é um facto que quando era pequeno ficava fascinado com algumas personagens, com as atitudes de cada um deles, até com a emoção e entoação de cada um dos contadores, a grande verdade, é que quando passei para o papel de leitor, senti que muitas delas eram autênticas lições de vida e que podiam muito bem ser lida e contadas a adultos.
Uma delas, a do Gato das Botas, conta-nos a história de um rapaz, o mais novo de três irmãos, o qual tinha herdado do seu pai apenas um gato e uma moeda. Rapaz esse, que ao ver-se órfão, ao ver o seu irmão mais velho ter ficado com o moinho e o do meio ter ficado com os dois burros, andava triste e angustiado. Segundo consta não parava mesmo de se lastimar.
Apesar do gato por diversas vezes lhe ter dito que não valia nada andar a lastimar-se, que tinha que reagir e até que o ajudava, a verdade é que o rapaz não conseguia parar de questionar a sua sorte e por isso não resolvia os seus problemas. Mas um dia o gato disse-lhe – “meu amo, compras-me um par de botas e um saco de sarapilheira e eu farei de ti o homem mais rico deste reino”
Incrédulo, o rapaz hesitou, mas porque o gato já lhe tinha dado mostras de ser esperto, audaz e fiável, resolveu investir tudo o que tinha, a sua única moeda, e comprar o par de botas e o saco de sarapilheira para o seu animal de estimação.
A parte da história que se segue, talvez todos se lembrem, o gato através das suas mil e uma peripécias e sempre com as suas elegantes botas calçadas, conseguiu fazer com que o seu amo se casasse com a filha de um Rei. Fez dele, tal como tinha prometido, um homem rico e feliz.
Esta história, para além de salientar importância de uma franca amizade, mostra-nos também, por um lado, que nada vale queixarmo-nos da nossa sorte e por outro, o quanto pode valer investir naquilo em que confiamos. Para além do mais, permite-nos questionar se não temos ao nosso lado, ou mesmo diante de nós, um qualquer “gato das botas” no qual possamos fiar e investir.
In: Nova Odivelas.
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