1.3.12

Crianças portuguesas só trocam de fígado em Espanha

Emanuel Furtado pode regressar ao Hospital de Coimbra dentro de 15 dias

Em Portugal já não se fazem transplantes hepáticos pediátricos. Uma vergonha num País onde a medicina regista importantes avanços nas duas últimas décadas e numa área que, apesar de algumas vicissitudes se avançou relativamente depressa. Mas esta é uma vergonha que herdámos do anterior governo liderado pelo primeiro-ministro José Sócrates.
Em Junho do ano passado, Portugal deixou de fazer transplantes hepáticos pediátricos. A única unidade que o fazia era em Coimbra e dirigida pelo cirurgião Emanuel Furtado, filho de Linhares Furtado, o pai dos transplantes em Portugal.
Pelo que se percebe a equipa corria riscos de deixar de poder promover as intervenções com qualidade. Também não parece haver muitos interessados apreender a tecnologia desta disciplina, porque não é a mesma que transplantar o fígado a adultos. Mais se sabe que esta falta de aposta no serviço de Coimbra deixou Emanuel Furtado de pé atrás, sem condições para ver o projecto ter futuro.
O único cirurgião "capaz de realizar transplantes hepáticos pediátricos em Portugal" deixou o projecto e o hospital de Coimbra em 2010. Emanuel Furtado desenvolve uma técnica que permite transplantar crianças abaixo dos 5 anos a partir de fígados de adultos, prática muito pouco comum em outros países europeus como em Espanha, para onde são enviadas agora as nossas crianças.
Desde Junho último, as nossas crianças têm de se socorrer do Hospital Universitário Pediátrico de La Paz, em Madrid. Os custos destas intervenções, da sua preparação, de semanas em que algumas crianças têm de permanecer na capital espanhola, são elevadíssimos para o Estado. Também o acordo realizado com aquela unidade espanhola dita que lá se fará a formação e especialização de novos cirurgiões nesta área de transplantes, naturalmente dentro da técnica ali praticada que, no essencial, se reflecte na utilização de fígados de jovens até aos 12 anos. De qualquer modo, não se conhecem esses resultados, mais de seis meses passados do contrato com o Hospital de La Paz.
Mas o pior revela-se: os médicos espanhóis ignoram os pais das crianças portuguesas e mesmo a médica de Coimbra que acompanha alguns processos.
Mais escandaloso é o alheamento da nossa Embaixada nestes processos, mesmo quando a sua intervenção é suscitada.
Independentemente dos contornos desta situação foi uma enorme vergonha aquilo a que assistimos ontem, na reportagem da RTP, "Linha da Frente".
Resta-nos as esperanças em que se confirmem as últimas notícias veiculadas pelo jornal Público: Emanuel Furtado, deverá "formar uma equipa que garanta o futuro" deste tipo de intervenções cirúrgicas em Portugal. O médico disse ao Público ter sido sempre essa a sua intenção, "mas nunca tive condições para o fazer". O cirurgião deverá voltar ao Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) no próximo dia 15 de Março. Contudo, a intervenção do ministro da Saúde Paulo Macedo deixa antever que agora aparecem, pelo menos, mais dois núcleos de médicos de hospitais diferentes candidatos. Só não se percebeu quem são os clínicos que os lideram e onde ganharam rotina nesta especificidade da cirurgia dos transplantes.
Recorde-se que a transplantação hepática pediátrica foi introduzida em Portugal, em 1994 por Linhares Furtado, pai de Emanuel Furtado, também ele o autor do primeiro transplante em Portugal que aconteceu a 20 de Julho de 1969. Mais, foi Linhares Furtado que também liderou a equipa que realizou o primeiro transplante renal em Portugal que aconteceu em 1980.

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu Caro
Conheço bem esta realidade assim como tenho o prazer de conhecer o Prof Linhares Furtado (GRANDE HOMEM) e o seu filho Emanuel para alem de outros com o Dr José Ferrão ( Outro grande Ser Humano) !
Todos estes parecem ter sido esquecidos , ultimamente só se fala no senhor da familia Barroso.
Acontece que este senhor aprendeu com o Prof Linhares e convinha de quando em vez os homens ter memória , nem que seja um pouco.
Abraço
Jose Barão das Neves