9.11.12

Errado transformar paradigmas casuísticos em paradigmas generalistas

A propósito das recentes afirmações da líder do Banco Alimentar Contra a Fome Isabel Jonet, fica-se com a ideia de que a responsabilidade do estado de crise da nossa Nação é do sistema, de todos os portugueses. A entrevista dada à SIC Notícias, mais do que um alerta transformou-se em mais lenha numa fogueira que está cada vez maior. Isabel Jonet foi quase incendiária ao generalizar a temática originária da nossa crise, seguramente a segunda mais profunda nos países da União Europeia, branqueando os verdadeiros responsáveis pelo actual estado de coisas. E já que gosta de combater a fome dos mais desprotegidos convinha recordar que tivemos um primeiro Ministro que gastou mais de 212 euros por dia apenas em alimentação, durante os seus dois mandatos e isto num País onde existem pessoas que têm de sobreviver com esses mesmos 200 euros durante todo um mês.
A Isabel Jonet faltou rigor e humildade em reconhecer a realidade, também lhe faltou a capacidade de pensar grande. Optou pela resignação: temos todos de ficar mais pobres. Mas quem? Como é que a Dra. Isabel se governa sem levar um único cêntimo para casa, com tão grande família? Estará a empobrecer? Nada disso: o seu marido, o antigo jornalista Nuno Jonet ganha salário elevado que chegue para viver bem. Sem pensar na necessidade de empobrecer. A tabaqueira Philip Morris paga para isso.
Mas afinal o que fez Isabel Jonet? O politólogo Paulo Bernardo e Sousa responde e de forma pertinente:
«Isabel Jonet transformou paradigmas casuísticos em paradigmas generalistas, senão vejamos:
1. Viver acima das possibilidades? Nunca tive nada que não resultasse do meu esforço. Como eu, muitos portugueses haverá, sem prejuízo de também haver aqueles que "contraíram créditos atrás de créditos, para tirar férias, para comprar écrans plasmas, para pagar os outros créditos". Fazer da árvore a floresta não é sério.
2. Necessidade permanente de consumo? Eu e muitos portugueses só consumimos o que precisamos, não sei se as observações feitas eram espécie de autoscopia, mas não me revejo no grupo daqueles que existem - e não o nego - em função do que têm. Logo a generalização mais uma vez é cruel e injusta.
3. Deixar de atribuir o valor aos bens, e ao que custam obter? Só quem não trabalha é que poderá achar que quem o faz não avalia constantemente o valor das coisas. Todavia, esta tentativa de apelidar todos os jovens mimados e egoístas, que recebem tudo dos papás, sem se preocuparem o que custa, como aludiu Isabel Jonet, é cruel e injusta. As minhas filhas quando pretendem algo (desde crianças pequeninas) procuram saber o custo e se tal é possível cobrir.
4. Acreditem, nem todos os pais educam mal os seus filhos. Garantidamente todos fazem o melhor que sabem: filho não vem com manual de instruções e o que resulta nuns não resulta noutros. A verdade é que os alunos que agridem professores, com o apoio dos pais são uma minoria. Mais uma vez a generalização foi cruel e injusta.
5. "Falta de qualificações em grande parte da população? Isto é um facto estatístico comprovado, infelizmente." Lamento, mas não é verdade. Aliás estamos no período da nossa história com maiores índices de formação.
6. E quanto à questão do "alguém há-de pagar": A mim nunca ninguém me pagou nada, pelo que nem sequer espero que tal aconteça. Quanto aos subsídios e suas dependências tal resulta - como diz o Ricardo - de ineficiente acompanhamento da aplicação desses apoios, que em minha óptica devem continuar a existir, mas devidamente acompanhados e contratualizados socialmente de forma a não serem mais do que um impulso a uma nova vida. Baixas médicas fraudulentas, idem: fiscalizem-nas ao invés de assumir que são todas fraudulentas.
Quanto a pontes e tempos de descanso, devo afirmar que o ser humano não foi criado para ser um autómato cujo único objectivo seja produzir e produzir. O ser humano deve buscar a felicidade, sendo que os períodos de descanso surgiram como ganhos civilizacionais por um lado e como instrumentos motivacionais por outro.
Pelo que fica mal, porque é incorrecto, injusto e até cruel afirmar que todos estes casos são algo que existe «dentro da mentalidade colectiva da nossa sociedade». Sem prejuízo de haver pessoas a quem isto se aplique, não é certo que se possa generalizar: tal é um insulto aos milhares que diariamente labutam. O que o contexto actual veio modificar foi a situação das pessoas, pois por mais que produzam foram reduzidas as hipóteses de retorno, porque o resultado da ganância entrou nas nossas vidas e tem-nos diminuído as condições de vida.

Concordo que foi um grande erro ignorar o contributo da banca/classe política. E esse sim, é um grande erro, mas que em função das não conformidades do discurso da menina "Bli" se percebe e é de fácil enquadramento.
Acabo indagando, alguém, cujo horizonte exceda o seu próprio umbigo, acredita que não há miséria?

http://www.youtube.com/watch?v=8JeUnsnvJuA&feature=player_embedded

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