José Mourinho afirmou que a selecção portuguesa não ganhará o Campeonato do Mundo «nem que corra a mil à hora». Disse que por isso mesmo não é favorita. O treinador português do Inter de Milão não fez grandes explicações a este respeito, mas nem necessitou fazê-lo. Tocou na ferida da estratégia que consubstancia a nossa equipa nacional. O próprio seleccionador, Carlos Queiroz, aceitou isso mesmo e falou em falta de trabalho em torno da selecção nacional. Já Cristiano Ronaldo adiantou que «sozinho não faço milagres» e que será difícil ganhar o torneio - «na verdade não somos favoritos… mas é possível fazer um bom torneio e o resultado final depende do momento da equipa».
Pois é não basta que o País precise do bom desempenho da selecção para acreditar que só por isso se reabilita. O futebol volta a ser o entretenimento dos portugueses. Os líderes políticos agradecem e rezam para que o resultado da participação seja um êxito. Seria um excelente antídoto para o momento de crise.
Mas não será fácil. Partimos para o Mundial sem um trabalho profundo realizado em torno da equipa.
Já partimos coxos, tão-só porque se admitiu iniciar a preparação com um jogador a mais porque se tenta incluir à força um atleta que não joga há meses, porque se cria uma despropositada concorrência interna. Também não se esconde que entre os seleccionados temos pelo menos duas categorias – as maiores e as menores estrelas. Aceita-se que Cristiano Ronaldo entre em cena fora de tempo. Já podia e devia estar na Covilhã desde terça-feira. Chegou ontem de helicóptero e foi idolatrado por mais de 2 mil pessoas como se fosse o acontecimento do ano… Um verdadeiro show de humildade. Triste a ostentação dentro de um País que tem mais de 2 milhões de pobres e 10,6% da população desempregada. Era importante sabermos qual a verba que sai dos cofres do Estado para colaborar nas despesas desta representação e quais foram os objectivos exigidos à comitiva.
Percebe-se que temos os indiscutíveis quer estejam ou não nas melhores condições e os suplentes. Temos como quase sempre tivemos uma selecção a dois tempos. E agora até temos os portugueses e os brasileiros nacionalizados. E neste grupo já lá estão três e insubstituíveis porque não há na prata da casa. È difícil trabalhar uma equipa nacional, pedir amor à camisola e à Pátria quando já não se fala só em português, quando o diálogo é feito com atletas que nem conhecem a letra do Hino Nacional que será tocado tantas vezes quanto os jogos que fizermos… e três já estão garantidos.
É uma questão de estilo. Já vendemos a língua portuguesa ao acordo ortográfico brasileiro, porque é que não vamos preparar uma selecção entre os milhões de praticantes federados no Brasil (?) Certamente que conseguiríamos formar mais que uma equipa repleta de talentos.
Mas os clubes portugueses também não permitem o culto pela equipa que representa a Nação. Não a respeitam. Não permitem que se faça trabalho condigno e organizado. Não deixam espaço e tempo para o trabalho da equipa nacional. Depois o calendário nacional é pouco competitivo e não conseguirá ombrear com os calendários britânico, espanhol e italiano, onde se fazem, pelo menos, mais um terço dos jogos dos que são realizados na 1ª Liga portuguesa.
José Maria Pignatelli
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