12.2.11

Definitivamente Sós

A Guarda Nacional Republicana lá se penitenciou e veio a terreiro aceitar que teve um comportamento menos humano no caso da octogenária que esteve quase nove anos em casa na condição de cadáver. O mesmo ainda não fez o tribunal de Sintra onde se deslocou um primo da falecida - por treze vezes - a reclamar o desaparecimento tão só porque era ele que fazia as compras semanais à prima. Talvez por isso o Procurador-geral da Republica, Pinto Monteiro, tenha mandado averiguar o que se passou.
As certezas são várias – ninguém levou a sério as sucessivas reclamações de uma vizinha e do primo que manifestaram desde cedo a estranheza do súbito desaparecimento de uma pessoa com idade avançada, dificuldade de mobilidade e com a caixa do correio a entulhar-se de correspondência, das reformas que não eram levantadas, das contas da luz, água e outras que deixaram de ser liquidadas.
Pelos vistos a Segurança Social, a EDP, os Serviços Municipalizados, os bancos não se surpreenderam, antes terão estado na base da penhora da casa, precisamente o que motivaria a descoberta do corpo.
Não deixa de ser curiosa esta forma administrativa de encerrar um caso de quem porventura terá pago todas as contas durante décadas a tempo e horas. Prova comprovada que não somos nem cidadãos, nem gente, apenas um número nas infindas bases de dados destas empresas que detêm o monopólio em algumas áreas de distribuição. Um estranho modo de tratar clientes e contribuintes. Esquivo jeito de lidar com os idosos.
Este episódio só nos deve deixar preocupados e envergonhados com o modo como tratamos os nossos mais velhos, muitos abandonados à sua sorte, a um final de vida duro adormecido numa definitiva solidão sem merecerem um pingo de gratidão por aquilo que deram à Nação e à comunidade.
Agora compete ao Estado fechar este caso com dignidade e circunspecção, ainda que se vivêssemos num País sério colocaríamos sobre a mesa a legalidade da venda da casa, o que foi feito aos euros das reformas que não foram reclamadas, à habilitação de herdeiros, o puxão de orelhas a dar obrigatoriamente a todos os intervenientes que nunca mexeram um dedo porque não cheirava mal por baixo da porta.
Deve este exemplo marcar a necessidade da prevenção e do voluntariado efectivo, no local apropriado com as acções ajustadas, tanto mais que se comemora o Ano Europeu do Voluntariado.

José Maria Pignatelli

1 comentário:

Madalena Varela disse...

Muito Bem Zé Maria! Aqui está um puxão de orelhas muito bem dado a quem quiser enfiar esta carapuça!
Mas nós cidadãos também temos culpa, porque DEIXAMOS que nos tratem desta forma!