24.11.11

Incapacidade dos investidores portugueses

Sob o título “Angola não é problema, o problema somos nós”, André Macedo escreve um artigo no DN Opinião que se recomenda. A peça refere-se a um tema que se encontra na ordem do dia e respeita à eventual perca de identidade e quiçá de independência de uma economia que precisa sobreviver, quase exclusivamente, de investidores estrangeiros e com capacidade de se tornarem accionistas de empresas portuguesas em situação precária. Para André Macedo o problema não se encontra do lado dos hipotéticos investidores, mas antes dos empresários cá de dentro, dos mais ricos portugueses que se encontram pobres para solucionar capacidade em viabilizar empresas.


Passos Coelho foi a Luanda para, entre outras danças diplomáticas, ajudar a casar o noivo com quem hoje nenhum grupo português se consegue comprometer a longo prazo: o BCP. Ver um primeiro-ministro envolver-se assim na procura de uma solução accionista de um banco privado não deixa de surpreender, até pelo facto de Passos Coelho se dizer liberal - pelos vistos, até os liberais enfrentam momentos em que a realidade não deixa espaço de manobra.
O BCP é um assunto vital para a economia portuguesa. O mercado - o ponto de encontro entre vendedores e compradores - quer saber o que será deste grande banco neste tempo de brutais exigências financeiras. Como está, com uma estrutura accionista a precisar de sangue novo, ele enfrenta um futuro incerto. Tratando-se do segundo maior banco privado nacional - tem 97 mil milhões de euros em activos, metade do PIB português -, é adequado dizer que o que se passa no BCP se reflecte em Portugal inteiro. É por isso que avaliar o banco apenas pelo preço das acções não traduz a realidade. É só uma pequena parte da história.
A outra parte tem que ver com Angola. Como é sabido, o maior accionista do BCP é a Sonangol, com 11,6% do capital, apesar de em tempos recentes ter atingido os 15% e de ter assumido a vontade de chegar aos 20% - o tecto a partir do qual mais acções não significa mais votos. Ao contrário do que se previa, a Sonangol acabou inesperadamente por se afastar deste objectivo. Como não reduziu capital para gerar mais-valias (os títulos só voltaram ao mundo dos vivos nos últimos dias), nem foi por necessidade de liquidez (não lhe faltam petrodólares), é legítimo perguntar se, pelo caminho, os angolanos foram convidados a mostrar menos apetite pelo BCP.
Há muito que se fala do "risco reputacional" de uma instituição financeira ter angolanos ou chineses como investidores. A este propósito, vale a pena recordar o que aconteceu ao Barclays quando teve de aumentar o capital para enfrentar o tsunami provocado pelo subprime. O que fez o Barclays? Recorreu ao dinheiro dos contribuintes ingleses? Não; preferiu deixar entrar os fundos soberanos do Qatar - ainda hoje o principal accionista - e do Abu Dhabi.
O quero dizer com isto? Que o problema não é a entrada destes sócios - é, sim, a relativa pobreza dos investidores nacionais, incapazes de manter equilibrado o mix de interesses e acompanhar a parada. O problema não é a entrada da Sonangol ou da Petrobras - é bom ter sócios ricos -, o problema somos nós, um país de capitalistas sem capital
”.

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