Por achar que este texto reflete na íntegra o percurso das últimas medidas ligadas aos ensino em Portugal, aqui o trancrevo. (C. Quintino Ferreira)
"Desde os tempos em que António Guterres, enquanto primeiro-ministro, proclamou a educação como a sua grande paixão, que este sector governamental tem sido apontado como um dos que mais necessita de uma reforma profunda.
Na realidade sem essa reforma que é imperioso fazer, não se vê que o nosso país possa dar o salto em frente, rumo ao desenvolvimento, e escapar a esta estagnação em que tem estado mergulhado estes anos todos.
Dir-se-á que é uma tarefa que nada terá de fácil. É verdade, será difícil, mas uma coisa parece certa, o diagnóstico está feito, o que é meio caminho andado.
Será preciso primeiro que tudo elaborar um plano coerente e escorreito e não se ficar por uma meia dúzia de medidas avulso que nunca passarão de uma manta de retalhos sem quaisquer resultados qualitativos dignos desse nome.
Será também preciso alguma vontade política e coragem para afrontar o imobilismo e certos interesses instalados e não ter medo de provocar rupturas.
A anterior ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, até estaria animada de boas intenções e teria algumas ideias válidas, só que falhou na forma de as pôr em prática.
Falhou por que não conseguiu entender, ou não quis entender, que para desenvolver uma reforma no ensino há que contar com os professores, já que sem eles e, muito menos contra eles, é impossível consegui-la.
A sua falta de habilidade política, ou talvez de humildade, em não ter conseguido engajar a classe docente no seu projecto resultou no que se viu – comprou uma guerra como nunca se tinha visto .
Esta actual ministra, Isabel Alçada, com o seu estilo mais aberto e dialogante fez criar algumas expectativas. Mas se apaziguou um bocado os ânimos que fervilhavam no seio dos professores, acabou por deitar quase tudo a perder com duas ou três medidas desgarradas que ninguém acredita possam trazer resultados palpáveis.
Dentre elas, destaque-se a determinação de permitir aos alunos que perfizeram dezoito anos e não tivessem concluído o 9º. ano pudessem mediante um exame saltar do 8º. para o 10º ano.
Desde logo esta medida foi deveras contestada por ser tida como incongruente, porque das duas, uma – se o exame for exigente, os alunos (repare-se que estamos a falar de alunos com dificuldades) não iriam conseguir nota para ultrapassar o obstáculo e caso optassem por uma prova muito acessível, era enveredar pela via do facilitismo, o que seria de desaprovar. Pelos vistos, poucos terão conseguido aproveitar a benesse.
Depois, vem o ministério da educação com a decisão de encerrar as escolas do 1º. ciclo com menos de vinte alunos, procedendo em consequência ao seu agrupamento.
Tal medida não pode deixar de ser encarada como uma medida meramente economicista, pois é sabido que a constituição de turmas com elevado número de alunos não favorece os bons resultados.
Com a agravante de ter, no mesmo passo, arranjado mais encargos para as autarquias que terão de assegurar o transporte dos alunos e contribuir para a desestabilização dos ritmos dos miúdos ao sujeitá-los a viagens algumas delas de vários quilómetros.
Por fim, como se fosse a cereja no cimo do bolo, quer acabar com os chumbos alegando que a repetência de ano não melhora a aprendizagem.
Não sei o que dizem as estatísticas sobre essa matéria, mas não tenho dúvidas nenhumas, ninguém tem, que seja esse o caminho a seguir, por várias e ponderosas razões.
Desde logo, é uma desvalorização do trabalho escolar, do mérito dos bons alunos, daqueles que se esforçam por estudar e aprender e colocar em pé de igualdade aqueles que vão à escola apenas para passar o tempo ou são obrigados a frequentá-la.
O que é mais espantoso nisto é que a ministra, que invoca o exemplo dos países nórdicos, nomeadamente a Finlândia, onde serão raros os chumbos, sabe ou deveria saber que naqueles países impera desde há muito a exigência, a discipina, e o rigor na docência e na aprendizagem, enquanto que aqui no nosso país grassa a indisciplina, o facilitismo, numa palavra, a bandalheira. Com o devido respeito, claro está, pelos bons alunos e bons professores que também temos.
Perante este quadro, torna-se claro que o principal objectivo desta medida do ministério é trabalhar para as estatísticas e apresentar números, independentemente dos níveis atingidos.
Como se disse, o nosso país necessita, e com urgência, de uma reforma na Educação e sobretudo melhorar os níveis atingidos nas disciplinas de Lingua Portuguesa e Matemática que são dos pilares fundamentais do sistema educativo.
Mas uma reforma assente em traves mestras bem escoradas e não em medidas fragmentadas que, por mais entusiasmantes possam tornar as estatísticas, que o primeiro-ministro tanto gosta de invocar, não tirarão Portugal do marasmo."
02/08/2010 - C. Quintino Ferreira
Na realidade sem essa reforma que é imperioso fazer, não se vê que o nosso país possa dar o salto em frente, rumo ao desenvolvimento, e escapar a esta estagnação em que tem estado mergulhado estes anos todos.
Dir-se-á que é uma tarefa que nada terá de fácil. É verdade, será difícil, mas uma coisa parece certa, o diagnóstico está feito, o que é meio caminho andado.
Será preciso primeiro que tudo elaborar um plano coerente e escorreito e não se ficar por uma meia dúzia de medidas avulso que nunca passarão de uma manta de retalhos sem quaisquer resultados qualitativos dignos desse nome.
Será também preciso alguma vontade política e coragem para afrontar o imobilismo e certos interesses instalados e não ter medo de provocar rupturas.
A anterior ministra da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, até estaria animada de boas intenções e teria algumas ideias válidas, só que falhou na forma de as pôr em prática.
Falhou por que não conseguiu entender, ou não quis entender, que para desenvolver uma reforma no ensino há que contar com os professores, já que sem eles e, muito menos contra eles, é impossível consegui-la.
A sua falta de habilidade política, ou talvez de humildade, em não ter conseguido engajar a classe docente no seu projecto resultou no que se viu – comprou uma guerra como nunca se tinha visto .
Esta actual ministra, Isabel Alçada, com o seu estilo mais aberto e dialogante fez criar algumas expectativas. Mas se apaziguou um bocado os ânimos que fervilhavam no seio dos professores, acabou por deitar quase tudo a perder com duas ou três medidas desgarradas que ninguém acredita possam trazer resultados palpáveis.
Dentre elas, destaque-se a determinação de permitir aos alunos que perfizeram dezoito anos e não tivessem concluído o 9º. ano pudessem mediante um exame saltar do 8º. para o 10º ano.
Desde logo esta medida foi deveras contestada por ser tida como incongruente, porque das duas, uma – se o exame for exigente, os alunos (repare-se que estamos a falar de alunos com dificuldades) não iriam conseguir nota para ultrapassar o obstáculo e caso optassem por uma prova muito acessível, era enveredar pela via do facilitismo, o que seria de desaprovar. Pelos vistos, poucos terão conseguido aproveitar a benesse.
Depois, vem o ministério da educação com a decisão de encerrar as escolas do 1º. ciclo com menos de vinte alunos, procedendo em consequência ao seu agrupamento.
Tal medida não pode deixar de ser encarada como uma medida meramente economicista, pois é sabido que a constituição de turmas com elevado número de alunos não favorece os bons resultados.
Com a agravante de ter, no mesmo passo, arranjado mais encargos para as autarquias que terão de assegurar o transporte dos alunos e contribuir para a desestabilização dos ritmos dos miúdos ao sujeitá-los a viagens algumas delas de vários quilómetros.
Por fim, como se fosse a cereja no cimo do bolo, quer acabar com os chumbos alegando que a repetência de ano não melhora a aprendizagem.
Não sei o que dizem as estatísticas sobre essa matéria, mas não tenho dúvidas nenhumas, ninguém tem, que seja esse o caminho a seguir, por várias e ponderosas razões.
Desde logo, é uma desvalorização do trabalho escolar, do mérito dos bons alunos, daqueles que se esforçam por estudar e aprender e colocar em pé de igualdade aqueles que vão à escola apenas para passar o tempo ou são obrigados a frequentá-la.
O que é mais espantoso nisto é que a ministra, que invoca o exemplo dos países nórdicos, nomeadamente a Finlândia, onde serão raros os chumbos, sabe ou deveria saber que naqueles países impera desde há muito a exigência, a discipina, e o rigor na docência e na aprendizagem, enquanto que aqui no nosso país grassa a indisciplina, o facilitismo, numa palavra, a bandalheira. Com o devido respeito, claro está, pelos bons alunos e bons professores que também temos.
Perante este quadro, torna-se claro que o principal objectivo desta medida do ministério é trabalhar para as estatísticas e apresentar números, independentemente dos níveis atingidos.
Como se disse, o nosso país necessita, e com urgência, de uma reforma na Educação e sobretudo melhorar os níveis atingidos nas disciplinas de Lingua Portuguesa e Matemática que são dos pilares fundamentais do sistema educativo.
Mas uma reforma assente em traves mestras bem escoradas e não em medidas fragmentadas que, por mais entusiasmantes possam tornar as estatísticas, que o primeiro-ministro tanto gosta de invocar, não tirarão Portugal do marasmo."
02/08/2010 - C. Quintino Ferreira
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