31.8.10

"A Velha Duquesa"


Confesso que durante a última semana de férias, por falta de tempo, pouco jornais li e poucas noticias ouvi. Contudo, antes de partir para a última semana de férias tive a oportunidadede passar uma vista de olhos pelo Expresso e a coluna de opinião de João Duque, não só pelo teor e gravidade do que ali vem escrito, como também, pela forma irónica como brilhantemente expõe a situação, chamou-me a atenção.

Hoje encontrei esse mesmo texto, A Velha Duquesa on-line e aqui deixo a trancrissão para vossa apreciação.


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A VELHA DUQUESA

A velha duquesa está prestes a completar 100 anos. A cada aniversário, a 5 de outubro, a prole ainda robusta junta-se-lhe e faz-lhe uma festa.

A descendência vive cada vez mais à custa da velha e mente-lhe. Os paladinos e que mais comem à custa da velha afirmam-lhe, descarados e falazes, que os faisões ainda são apanhados na quinta, os espumantes arrancados aos vinhedos da família e os leitões criados na pocilga da herdade, quando tudo é, afinal, comprado no supermercado dos vizinhos.

Preocupada, a velha questiona como vamos de rendas, mas respondem-lhe que dinheiro não tem faltado, nem há-de faltar. Porém, os intrujões sabem que os anéis já se venderam e que a mesa só é composta porque a dívida engorda dia a dia.

Desde o início do ano a dívida pública aumentou à razão histórica, inimaginável e guinessiana de 2,67 milhões de euros à hora! Só no mês de julho o ritmo foi de 5 milhões à hora! Se a família se continuar a endividar à mesma razão diária que tem feito desde 1 de janeiro, a autorização do parlamento para aumentar a dívida da república e que já era de valor recorde de 17,4 mil milhões num só ano, esgota-se a 1 de setembro, passando-se depois às autorizações previstas, mas apenas a título calamitoso... Mas qual, se o PIB cresce tão bem?...

O ano vai muito pior do que qualquer um do passado! A vergonha é tamanha que a velha, já sem crédito, usa os descendentes (os Bancos) para irem pedir dinheiro a quem ainda o empresta (o BCE).

A miséria desta família arruinada, mas que não muda e que continua, ano após ano, a mentir à descarada à pobre da velha ignorante e cega, como o fez ao decrépito Salazar sentado no sofá no fim dos seus dias, mete dó. Desesperados, os conscientes percebem que o fim está próximo. Nada se fez nem se vai fazer com quem está na condução da família. Planeia-se a venda de mais uns bens de renda para alimentar, por mais uns meses a ociosa e gastadora família. Gordos e anafados ainda se arrojaram este ano aos Allgarves para o tradicional desfile de vaidades veraneantes, a carregar as baterias para mais um ano (pensam eles) de iguais festins e bailes carnavalescos.

No meu percurso diário passei há semanas pelo alto do Parque Eduardo VII onde está a esplendorosa bandeira nacional a que me orgulho de abrigar, desfraldada e a chicotear à nortada do final de tarde. Ao vê-la não resisti: parei o carro, saí e até fotografei. Uma enorme 'fatia' rasgada ao estandarte, mas ainda presa ao resto por uma fina língua de tecido, qual ventre dilacerado a libertar o intestino de um ser em dolorosa morte, fazia dela a bandeira mais triste e o espetáculo mais degradante da Europa das nações. A maior bandeira hasteada em Portugal desfazia-se naquele altar da capital. Uma premonição de um esboroar de um país que se consome numa demente incapacidade morna e triste, liderada por um governo que fustiga um povo que não sabe porquê, com que meta, com que propósito.

A velha duquesa arrisca-se a morrer este ano a 5 de outubro de 2010. "

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