22.12.10

A lusofonia é chique. Globalizar em português começa cá dentro

Efectivamente o português bem ou mal falado com ou sem acordo ortográfico ouve-se nos cinco cantos do planeta, mas muito por força dos emigrantes e seus descendentes que teimam em estudar em escolas portuguesas que também se encontram um pouco por todo o lado, até nas Bermudas…

O problema é que o português mais ou menos abrasileirado está para os vários ingleses como o euro está para o dólar (…) ou seja o euro até pode estar pujante relativamente à moeda Norte-americana, mas nos mercados internacionais, as compras de matérias-primas, desde os combustíveis aos produtos alimentares como o café, açúcar, trigo, arroz…, passando pelos metais preciosos tudo se paga com dólares.

O euro está completamente fora-de-jogo.

É por isso que o poder alemão sonha em limitar o número de países com a moeda única, ficando o Banco Central Europeu na sua dependência por período indeterminado. Aliás, a presidência do BCE vai passar para as mãos dos alemães já no mandato que se segue.

O mundo global só fala inglês

O inglês – ou os vários idiomas ingleses – falam-se em todo o mundo e são obrigatórios, desde o Extremo ocidental ao Japão. E não vejo onde possamos colher frutos como o nosso português e as nossas iniciativas em negociar empréstimos com países emergentes apoiados em regimes totalitários ou economias supra dependentes de um ou dois produtos extractivos, completamente desestruturados e com a maioria da população na condição de pobreza quase extrema. Neste último caso falo claramente de Timor.

Obviamente em causa está a nossa soberania. Estamos a entregar-nos a gentes demasiado exigentes que não fazem nada a troco de solidariedade.

Também me custa acreditar como podemos contentar-nos com o facto, de podermos a prazo, ser entreposto da distribuição do açúcar venezuelano para os países do Magrebe. É muito pouco para facturar mais de uma dezena de biliões de euros que precisamos todos os anos para liquidar juros e amortizar o capital emprestado por via da venda da divida pública.

Por princípio, a questão está cá dentro de casa: temos de arrumá-la acabando com o despesismo escusado concretizado em empresas públicas, público-privadas e municipais que apresentam prejuízos sistematicamente ou a necessidade de pagar mensalidades verdadeiramente astronómicas que jamais serão capazes de se recuperar.

Roterdão, a centralidade ímpar

Depois teríamos de ser demasiado imaginativos e possuidores de uma montanha de euros para construir um porto competitivo em dimensão e taxas aplicada como o de Roterdão na Holanda - o maior da Europa e segundo maior do mundo – muito bem localizado e que serve de plataforma logística ao continente europeu em todos os pontos de vista, particularmente nas acessibilidades e à sua centralidade ímpar. E lá nem sequer há lugar à língua local, o flamengo, unicamente se falam os vários ingleses quando se trata de negócios.

Dou o exemplo do meu irmão (ou do meu Pai actualmente reformado) ambos comandantes de navios tanques da marinha mercante onde não se troca uma única palavra em português durante quase todo o dia – o espaço das comunicações marítimas mundiais fazem-se nos vários ingleses que se falam por esse mundo fora.

Fica-nos bem falar da lusofonia. É chique!

Mas nem nas comunicações restritas se ouve uma única palavra do nosso vocabulário.

Naturalmente isso não nos impede de ser ambiciosos e criativos.

Mas temos de inventar dinheiro e como estamos dentro do euro não podemos fazer moedas e notas (…) fazemos com qualidade mas para outros países que não são aderentes à moeda única europeia. Portanto não podemos fazer umas pequenas graças em lançar alguns tostões a mais no mercado como fez, por exemplo Medina Carreira ao tempo em que foi ministro das finanças para abater mais depressa as rendas ao FMI.

Por último a lusofonia não se encerra em nenhum País ou paragem por esse mundo com uma marinha capaz de deslocar quase dois terços da sua capacidade por mais de 13.000 quilómetros para afundar a 5ª maior armada do globo em cerca de um mês, infelizmente a troco de milhares de vidas perdidas e que lançou a Argentina numa crise que ainda hoje procura mecanismos para sair dela. Quem não se recorda da celebre Guerra das Malvinas (?)

A nossa globalidade está cá dentro

A nossa globalização está em conseguir atrair investidores para operarem cá dentro, capazes de acreditar que encontram aqui espaços para actividades diversificadas.

E naturalmente preparar a nossa escola para a diversificação e polivalência do mercado de trabalho reinventando as escolas industriais, comerciais, das artes e dos novos ofícios, tal qual se faz nas escolas Norte americanas espalhadas por esse mundo como cá em Portugal e, recentemente tema de uma grande reportagem num canal de televisão portuguesa que passou após o noticiário das 20 horas.

Foram comparadas experiências e a irrealidade da preparação dos nossos alunos tão-só porque não se conhecem as profissões emergentes do amanhã a avaliar pela velocidade a que o mundo gira.

José Maria Pignatelli

Sem comentários: