À beira da antiga estrada nacional nº 8, na Póvoa de Santo Adrião, numa correnteza de lojas, ‘dei de caras’ com Catarina Reis, uma jovem designer que se apaixonou por artes decorativas, particularmente pelos acessórios para casa e têxtil lar.
A jovem faz de tudo e as aplicações são fora do vulgar, particularmente as que inventa para as caixas e molduras que pinta: trata de aproveitar as cápsulas do café Nexpresso para construir flores ou simples pétalas. Original com toda a certeza.
Catarina faz os seus trabalhos atrás do balcão da Lina Lavoures. Vale a pena entrar nesta loja e ver as diversas soluções, principalmente têxtil que a jovem imagina.
Ilha ‘dourada’ no Olival
Mulemba X’ Angola é o nome original para um restaurante diferente: na decoração e na ementa. Sente-se a cultura e provam-se os sabores africanos.
Também se percebe que foi uma aposta de quem pretende desembaraçar-se da vida difícil, mas que compreende que ter um negócio no Olival Basto, às portas de Lisboa, poderá não ter sido a melhor opção. A fama não salva quem apostou no negócio que mal dá para as despesas e para pagar impostos e taxas irreais no actual contexto económico.
Mercado moribundo com preços de hipermercado
O mercado da Póvoa de Santo Adrião outrora dos mais concorridos sobretudo aos sábados, encontra-se meio moribundo:
§ Quase metade das bancas não têm dono;
§ Os vendedores que não desistem têm as bancadas meio vazias;
§ Praticam-se preços iguais aos das grandes superfícies e até mais baixos, em alguns casos como na charcutaria;
§ Os preços não se ajustam às dificuldades dos consumidores, particularmente dos mais velhos com reformas baixas e, também, à realidade recente de termos cada vez mais desempregados;
§ Os preços mais elevados de um cabaz de compras, são os do peixe – os chocos frescos ultrapassavam os 9,50 euros por quilo.
Claro que o mercado da Póvoa sofre a pressão das grandes distribuidoras, todas com espaços na freguesia e com uma oferta jamais comparável ao de um mercado tradicional. Nem há como reinventar este negócio senão introduzir-lhe factores de novidade que as grandes superfícies não tenham.
Então o que fazer para contrariar esta realidade? Como poderemos voltar a consolidar o negócio do pequeno e médio comerciante, na sua maioria reflectores de uma economia familiar que não pode colapsar sob pena de vermos aumentar o número de pessoas sem sustento e um desemprego irreversível?
Porventura, copiar alguns bons exemplos além fronteiras. Por exemplo, o que se tornou regra na cidade de Barcelona: não se autorizam grandes centros comerciais, muito menos os caracterizados como negócios imobiliários. Existe o El Corte Inglês que tem muitos anos, é da casa, é um género muito peculiar e não atormenta o comércio tradicional que é preservado com ‘unhas e dentes’.
Sabe-se que a cidade de Barcelona sobrevive de um turismo especial - do seu comércio de rua, da restauração, das diversões nocturnas, e da nova vaga do turismo cultural que assume importância quase extrema nas receitas.
Barcelona é marca para uma oferta diversificada que faz com que a cidade quase não tenha tempo para dormir. É por isso que Barcelona se tornou uma ‘Cidade do Mundo’ e demasiado importante no reino de Espanha, para que se possa arriscar por políticas de desenvolvimento que não oferecem qualquer sustentabilidade.
Em Portugal, acontece precisamente ao contrário. Somos apontados como o País com maior número de grandes superfícies comerciais por habitante e com maior concentração em determinados meios urbanos. Nunca vimos nenhum responsável pela economia nacional defender a necessidade do comércio de rua se requalificar, inovar e desenvolver... Nem tão pouco os ouvimos referirem-se à sua condição de grandes empregadores.
À rasca não está apenas uma geração nova de licenciados, sem cultura, sem conhecimentos práticos e sem futuro, mas também com uma visão redutora do próprio futuro, muito mais habituados a terem tudo ou quase tudo, independentemente da condição socioeconómica dos pais. À rasca encontram-se milhares de empresários, centenas de milhar de trabalhadores, milhões de chefes de família que têm obrigações, mas também o direito à indignação pelas más práticas dos representantes da democracia que nos servem de bandeja mas que não alimenta ninguém. Mais de meio Portugal encontra-se em agonia, tão-só porque voltou a viver numa autocracia, esta com um estilo menos formal mas nefasta que chegue para nos colocar à beira do precipício.
Sem comentários:
Enviar um comentário