8.5.11

Subtilezas da RTP

Decididamente procura-se bipolarizar a vida política portuguesa. A todo o custo pretende-se passar a mensagem de que só o Partido Socialista e o Partido Social-Democrata podem ou reúnem condições para estar no poder. São eficazes as máquinas de comunicação destes dois partidos e, também as suas influências nos meios de comunicação, nos líderes de opinião, entre o poder económico e as associações empresariais e comerciais. Também não excluímos os agentes da saúde e da justiça.


Extraordinário, é a subtileza do canal de televisão público que, a cobro do ‘Acordo com a Troika’, organiza um frente-a-frente entre o socialista Pedro Silva Pereira, actual ministro da Presidência, e o social-democrata Eduardo Catroga, no programa Prós & Contras de amanhã, no canal 1. A RTP publicita inclusivamente: “Os dois principais negociadores, cara-a-cara, no palco do maior debate da televisão”. Mesmo anunciando um directo a partir de Luanda com o centrista António Pires de Lima e uma “plateia cheia de personalidades de ângulos diversos da sociedade portuguesa, da economia, à ciência, passando pela criatividade”, estranha-se este comportamento numa empresa de comunicação social que custa aos contribuintes mais de meio bilião de euros anuais. Estamos perante uma clarividente forma de promover mais debates entre responsáveis dos dois maiores partidos, além dos que se encontram programados.


É caso para perguntar:


§ Onde se sentam as outras correntes de opinião?


§ Que isenção se encontra entre quem dirige a informação no canal público?


§ Que interesses serve a RTP ou se está obrigada a isso mesmo para justificar as sucessivas derrapagens orçamentais?


§ Em que espécie de democracia vivemos?


§ Se esta bipolarização conveniente não encerra pressupostos de um determinado estilo de autocracia moderna e comum entre países subdesenvolvidos?


§ Porque somos obrigados a sustentar esta lástima de empresa que continua a não saber gerar receitas para se viabilizar?


§ Porque não faz o Estado um referendo para saber se os portugueses querem ou não que o País tenha de sustentar este género de empresas, institutos e fundações gastadoras de dinheiros públicos e que não prestam um serviço global à sociedade?


Ainda por cima estaremos perante alguns dos que levantam o estandarte da democracia criticando os actores do passado que dominavam o aparelho do Estado a todo o custo.


Cada vez mais me interrogo se o que acontece agora será assim tão diferente? Imaginávamos assistir ao desrespeito pelos tribunais – por exemplo, ao Tribunal de Contas reclamar por documentos sobre os pagamentos de compensações às explorações das nossas auto-estradas que se consideram um exagero; ou ao consumar de uma adjudicação, pelo IPO do Porto, relativa a um concurso público anulado pelo Tribunal?


Estamos perante vergonhas que convinham não se repetirem sob pena de perdermos credibilidade.



José Maria Pignatelli

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