Em Portugal deixou-se abandonar o sector primário e secundário. Apostou-se nos serviços e no choque tecnológico. As únicas indústrias que restaram com marca própria são a do turismo, calçado e mobiliário. A têxtil continua a crescer depois da falência de dezenas de empresas, mas ainda não se lançou internacionalmente com marca própria. Fabrica-se quase tudo para terceiros. A espanhola Indutex, mãe de várias etiquetas conhecidas no mundo, é uma das nossas boas clientes.
Na agricultura é a produção vitivinícola a única a crescer com relevância. E as pescas e a nossa marinha mercante encontram-se moribundas.
Nos últimos vinte anos, muito por força dos ajustes pela entrada como membro da Comunidade Económica Europeia, empurrou-se a população do interior para o litoral. Portugal crescia economicamente, mas encetou o caminho errado em importar larga percentagem do que precisava de consumir e sempre em crescendo. A nossa balança comercial tornou-se demasiado deficitária e as nossas exportações jamais chegaram para contrabalançar.
E ninguém se entusiasma a arrepiar caminho, particularmente os dois maiores partidos políticos. Nestes últimos quinze anos apostámos nas obras públicas, principalmente em infra-estruturas rodoviárias e ultimamente no parque escolar. Também se entrou na era do betão e de um clarividente desordenamento territorial apesar da publicidade de sinal contrário. Os resorts e campos de golfe construídos nas orlas marítimas e em locais protegidos, em nome do interesse da economia nacional, são um dos bons exemplos.
Ontem, numa reportagem produzida por jornalistas do canal de televisão SIC, ficámos a conhecer números oficiais sobre a nossa agricultura que nos devem preocupar a todos. Abandonámos mais de 2 milhões de hectares (cada hectare são 10 mil metros quadrados) que se encontram transformados em mato. De acordo com as estatísticas comunitárias, só nos últimos dois anos os portugueses deixaram de cultivar meio milhão de hectares. Percebeu-se que a área de floresta ardida deverá estar fora destes números. Assim sendo estamos perante uma revelação quase assustadora, tanto mais que neste momento de profunda crise vamos mesmo ter de inverter a nossa balança de transacções comerciais, portanto comprar menos ao estrangeiro.
E isto apenas será possível com regulação ainda que possa contrariar as regras comunitárias. Mas não seremos os únicos a defender o que é nosso em tempo de crise. Os espanhóis sempre o fizeram e basta conhecer o resultado de muitos concursos para adjudicações de bens. Em pé de igualdade e mesmo que ligeiramente mais caro, os espanhóis preferem sempre os produtos da casa.
Teremos de seguir este exemplo sob pena daqui a cinco anos estarmos a suplicar por nova ajuda financeira externa.
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