12.5.11

Negócio das alternativas

Nem tudo o que a Troika (o triunvirato internacional) decidiu colocar no caderno de encargos que o Estado português vai ter de cumprir poderá ser considerado mau. Por exemplo, os subsídios à instalação de eólicas vão ser renegociados ou mesmo extintos. E muito bem. É que esta fonte energética alternativa - nem sempre muito amiga do ambiente por causa das necessidades que lhe estão subjacentes – custa demasiado dinheiro aos contribuintes porque, por exemplo, por força da legislação, implica o pagamento aos produtores da energia que se dissipa na terra ou é transferida a terceiros. Mas esta questão subsiste porque Portugal não cumpre nenhum Plano Energético pensado que, ao contrário do que se julga, existe desde meados da década de 90’. Sobre este tema António Gaito escreveu um artigo muito interessante e que levanta o véu deste negócio muito alternativo:


Tiro o chapéu ao Eco tretas por este artigo: http://ecotretas.blogspot.com/2011/05/dados-estatisticos-sobre-eolicas-do.html. E acrescento dois documentos que qualquer pessoa, antes de defender a energia eólica, devia ler: High_Cost_and_Low_Value_of_Electricity_from_Wind e impacts_large_scale_windfarms. Porque as eólicas têm um lugar importante, mas, em pequena quantidade e sem os subsídios vergonhosos que recebem! Além de cada parque eólico de maior dimensão precisar de duas barragens de apoio que, normalmente, não entram nas contas nem na propaganda…


Como já escrevi, mudei de opinião sobre as eólicas. Já não me oponho totalmente, mas, parcialmente. No estado actual de desenvolvimento, é uma fonte de energia competitiva. O que normalmente não é mencionado são as externalidades – as consequências negativas -, nas quais nem vou incluir os subsídios que, bendita troika, vão ser renegociados ou eliminados.


Para já, os geradores eólicos só produzem quando há vento suficiente para os accionar, mas, não muito forte, senão partem-se todos… Isto é um problema para uma rede eléctrica que tem fontes de energia, muitas delas mais baratas, que podem começar a trabalhar quando são precisas, parar quando não fazem falta e debitar na rede a energia necessária. Devido à grande quantidade de eólicas que temos, com prioridade de introduzir electricidade na rede pública sobre os outros produtores, temos de a pagar mais cara e muita é transferida para Espanha ou dissipada na terra… Mas, é paga como «Custos de Interesse Económico Geral» na factura da electricidade!


Ou seja, se as eólicas forem numa quantidade pequena, para apoiar o resto da rede, a energia produzida é virtualmente gratuita! Como temos geradores a mais, temos de pagar – a lei obriga a isso – aos produtores pela electricidade que, não sendo precisa, é desperdiçada ou oferecida aos espanhóis…


Outro problema é a impraticabilidade de armazenar a energia em excesso. Não há baterias para isso… Portanto, nos maiores parques eólicos, encontrou-se uma solução para evitar que a electricidade seja dissipada na terra ou dada ao estrangeiro – porque a nós não a dão! Chama-se bombagem.


Para não maçar o leitor, vou trocar o rigor científico pela clareza para explicar o que é a bombagem hidráulica. Antes de mais, temos de saber que, cada vez que se dá uma transferência de energia, há perdas. Por isso é que os motores dos carros não podem transformar toda a energia da gasolina em tracção – só menos de 30% é aproveitada para mover o carro, o resto é transformado em barulho, calor, e outras formas de a energia se dissipar.


Para armazenar a energia que os geradores eólicos captaram do vento, a electricidade produzida é direccionada para um complexo de duas barragens. É claro que os custos destas duas barragens e o impacto ambiental que provocam não são incluídos na propaganda à energia “limpa” do vento – devo acrescentar que considero ambientalmente criminosas muitas das barragens deste país. E funciona desta forma: ambas as barragens, uma a montante e outra a jusante, têm turbinas que permitem produzir electricidade com a água que passa por elas. A barragem a montante, além das turbinas, tem bombas que permitem puxar a água da barragem seguinte de volta para ela. A energia em excesso das eólicas é utilizada para fazer funcionar essas bombas e guardar água na barragem a montante que, quando for precisa, há-de ser descarregada pelas turbinas para produzir electricidade. Em todo este processo, há energia a ser dissipada (ou seja, perdida) que, por lei, tem de ser paga aos produtores das eólicas – por nós, consumidores…


Tudo isto leva a que, além de não ser possível controlar a quantidade da energia eólica, esta também seja de má qualidade por não a termos disponível quando é precisa e, para a armazenar, muita ser perdida e os custos económicos e ambientais serem injustificáveis!


Para quem, como eu, frequenta regularmente barragens utilizadas para produção de electricidade – como pescador lúdico de achigã -, a devastação das margens devido à oscilação do nível da água é quase motivo para chorar. Como ambientalista e quase arqueólogo, os crimes ambientais e contra o património cometidos para a construção de barragens são revoltantes! Para além do ruído, do perigo de danos materiais como incêndios, das mortes de aves e morcegos e da poluição visual causadas pelos parques eólicos…


Portanto, quem defende a energia eólica no actual estado da tecnologia, ou ignora as consequências, ou é hipócrita, ou tem dinheiro a ganhar com isso! Prefiro acreditar que a maior parte das pessoas não se opõe por desconhecimento».

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