Os políticos europeus encontram-se distantes de uma sintonia comum, muito desejável na actualidade: importa decisões para medidas enérgicas no sentido de inverter a crise de um sistema financeiro que não se controla e constrange, cada vez mais, o crescimento económico de muitos países, principalmente os da União Europeia que se encontram dentro da Zona Euro, ou seja os dezassete alinhados na moeda única, o euro.
Naturalmente que uns se encontram em situação mais delicada que outros e precisam de medidas mais drásticas. França e Alemanha reinam neste cenário das hesitações. As decisões da Comunidade Europeia levam demasiado tempo a serem praticadas: existe uma burocracia evidente, mas também ela fomentada pelos próprios decisores que são líderes frágeis e que determinam o que não querem que seja prática. Uma mistura quase explosiva que conduz à humilhação dos mais pobres, de quem aceitou receber subsídios para não produzir, há mais de 20 anos, de quem nunca foi aconselhado de princípios de boa gestão das finanças públicas, porventura de quem foi estimulado a gastar, de quem nunca foi fiscalizado no tempo das ‘vacas gordas’.
Agora, em tempo de crise, meio generalizada, perante uma liderança germânica apoiada por um presidente franco-hungaro, saem fora os mais sólidos, o Reino Unido, os Países Baixos e os nórdicos. Juntam-se a República Checa e a Polónia.
Ninguém se importa com o depressão grega, nem mesmo que isso signifique uma vergonha para a filosofia da Europa das Nações reunidas numa comunidade de princípios estratégicos, económicos e sociais. A Europa da União adornou num mar revolto, que a colheu de través.
“Inferno ‘made in Germany’” é o título de um artigo de opinião de André Macedo publicado no Diário de Notícias que merece leitura atenta:
«O economista Daniel Gros revelou há dias um número relevante: apesar da violenta austeridade imposta à Grécia nos últimos dois anos e da recessão profunda em que o país se encontra - 16 trimestres consecutivos a perder riqueza e ainda a seguir para bingo -, os gregos só têm dinheiro para sustentar 80% do seu nível de vida. O resto, os 20% que seriam precisos para manter o país a funcionar, tem de ser financiado através de empréstimos no exterior, já que não há poupança nem recursos internos para compensar o desequilíbrio, mas hoje esse capital já não existe. Fugiu.
Ou seja, a seguir a este novo pacote que está a ser negociado a custo com a troika, se nada de extraordinário mudar na Zona Euro, a Grécia terá de continuar indefinidamente ligada à máquina e a viver às pinguinhas. Os gregos acabam, portanto, de entrar no quinto ano de recessão, mas já perceberam que têm pela frente mais um interminável período de empobrecimento profundo, enxovalho político e cultural - made in Germany - e um doloroso drama social que envergonhará a Europa durante muitos anos.
Com o desemprego a atingir 47,2% dos jovens - um em cada dois! - e 19% entre do resto das pessoas, é simples perceber a dimensão humana da catástrofe a que os portugueses e os outros europeus assistem sem grandes inquietações, exceto o terrível pavor de que a maré também acabe por engoli-los. Desde o início da crise da dívida soberana, a atitude tem, aliás, sido sempre a mesma em Portugal, na Irlanda, em Espanha e agora também em Itália: os gregos são um povo amigo, mas para manter patrioticamente à distância, como se fazia com os leprosos.
Compreende-se a necessidade de Passos Coelho, Mariano Rajoy e outros tantos fugirem a sete pés da comparação grega para continuarem fiéis ao diktat alemão e, assim, permanecerem ligados a um ténue fio de esperança. No entanto, chegados a este ponto dramático na vida de um povo, é obrigatório ser um pouco mais corajoso. O ciclo de miséria grega e a sua rota interminável têm-se agravado pelos inúmeros falhanços orçamentais e políticos internos, é inegável, mas também pelo obscurantismo financeiro alemão que se perpetua graças à fragilidade (cobardia) dos outros países.
A troika falhou na Grécia. Fez mal as contas. Não emprestou dinheiro suficiente. Fê-lo por um período ridiculamente curto (três anos, como exige o FMI). Calculou mal o efeito recessivo e a espiral negativa. E definiu objectivos financeiros e económicos surreais. A Grécia já não é um país, é um laboratório onde jaz um Estado (quase) falhado. Kaputt, dirá um dia a sr.ª Merkel enquanto nós, com sorte, seguiremos a nossa vidinha.»
Naturalmente que uns se encontram em situação mais delicada que outros e precisam de medidas mais drásticas. França e Alemanha reinam neste cenário das hesitações. As decisões da Comunidade Europeia levam demasiado tempo a serem praticadas: existe uma burocracia evidente, mas também ela fomentada pelos próprios decisores que são líderes frágeis e que determinam o que não querem que seja prática. Uma mistura quase explosiva que conduz à humilhação dos mais pobres, de quem aceitou receber subsídios para não produzir, há mais de 20 anos, de quem nunca foi aconselhado de princípios de boa gestão das finanças públicas, porventura de quem foi estimulado a gastar, de quem nunca foi fiscalizado no tempo das ‘vacas gordas’.
Agora, em tempo de crise, meio generalizada, perante uma liderança germânica apoiada por um presidente franco-hungaro, saem fora os mais sólidos, o Reino Unido, os Países Baixos e os nórdicos. Juntam-se a República Checa e a Polónia.
Ninguém se importa com o depressão grega, nem mesmo que isso signifique uma vergonha para a filosofia da Europa das Nações reunidas numa comunidade de princípios estratégicos, económicos e sociais. A Europa da União adornou num mar revolto, que a colheu de través.
“Inferno ‘made in Germany’” é o título de um artigo de opinião de André Macedo publicado no Diário de Notícias que merece leitura atenta:
«O economista Daniel Gros revelou há dias um número relevante: apesar da violenta austeridade imposta à Grécia nos últimos dois anos e da recessão profunda em que o país se encontra - 16 trimestres consecutivos a perder riqueza e ainda a seguir para bingo -, os gregos só têm dinheiro para sustentar 80% do seu nível de vida. O resto, os 20% que seriam precisos para manter o país a funcionar, tem de ser financiado através de empréstimos no exterior, já que não há poupança nem recursos internos para compensar o desequilíbrio, mas hoje esse capital já não existe. Fugiu.
Ou seja, a seguir a este novo pacote que está a ser negociado a custo com a troika, se nada de extraordinário mudar na Zona Euro, a Grécia terá de continuar indefinidamente ligada à máquina e a viver às pinguinhas. Os gregos acabam, portanto, de entrar no quinto ano de recessão, mas já perceberam que têm pela frente mais um interminável período de empobrecimento profundo, enxovalho político e cultural - made in Germany - e um doloroso drama social que envergonhará a Europa durante muitos anos.
Com o desemprego a atingir 47,2% dos jovens - um em cada dois! - e 19% entre do resto das pessoas, é simples perceber a dimensão humana da catástrofe a que os portugueses e os outros europeus assistem sem grandes inquietações, exceto o terrível pavor de que a maré também acabe por engoli-los. Desde o início da crise da dívida soberana, a atitude tem, aliás, sido sempre a mesma em Portugal, na Irlanda, em Espanha e agora também em Itália: os gregos são um povo amigo, mas para manter patrioticamente à distância, como se fazia com os leprosos.
Compreende-se a necessidade de Passos Coelho, Mariano Rajoy e outros tantos fugirem a sete pés da comparação grega para continuarem fiéis ao diktat alemão e, assim, permanecerem ligados a um ténue fio de esperança. No entanto, chegados a este ponto dramático na vida de um povo, é obrigatório ser um pouco mais corajoso. O ciclo de miséria grega e a sua rota interminável têm-se agravado pelos inúmeros falhanços orçamentais e políticos internos, é inegável, mas também pelo obscurantismo financeiro alemão que se perpetua graças à fragilidade (cobardia) dos outros países.
A troika falhou na Grécia. Fez mal as contas. Não emprestou dinheiro suficiente. Fê-lo por um período ridiculamente curto (três anos, como exige o FMI). Calculou mal o efeito recessivo e a espiral negativa. E definiu objectivos financeiros e económicos surreais. A Grécia já não é um país, é um laboratório onde jaz um Estado (quase) falhado. Kaputt, dirá um dia a sr.ª Merkel enquanto nós, com sorte, seguiremos a nossa vidinha.»
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