23.8.10

Em Óbidos cortam estrada para ouvir ópera

Os exageros de poder estendem-se entre todos os que ocupam lugares de chefia ou cargos públicos, sejam funcionários de instituições do Estado, polícias, militares, magistrados ou políticos e independentemente das convicções e partidos que representam.

Esta é uma doença cada vez mais evidente na vida nacional que nos recorda cada vez mais a era do feudalismo, também ela ressuscitada à época de Salazar, particularmente nos Concelhos mais pobres.

Mas mesmo assim, actualmente o desrespeito pelos cidadãos é maior ou, pelo menos, acaba por prejudicar um maior número de pessoas.

Na noite de sábado passado aconteceu ópera em Óbidos.

O recinto escolhido para montar o palco e uma bancada autoportante foi junto a um braço da Lagoa de Óbidos, relativamente perto do acesso rodoviário à Praia do Bom Sucesso e aos empreendimentos junto da Lagoa. Exactamente no mesmo local onde uma semana antes tinha actuado José Cid.

Vá se lá saber porquê, a Câmara de Óbidos determinou cortar a estrada durante o espectáculo, isolando largas centenas de portugueses e estrangeiros residentes, proprietários e ou que passam férias no Bom Sucesso junto à Lagoa de Óbidos. Do lado de cá, ficaram pendurados outras dezenas que pretendiam ir para casa ou, simplesmente passar um pedaço da noite com amigos, ou num bar ou restaurante da zona.

Para estas pessoas a alternativa foi fazer mais 15 quilómetros utilizando umas variantes fora de estrada (em terra batida) ou percorrer mais trinta quilómetros, optando por voltar atrás até à estrada para Peniche e fazer o caminho via Serra D’El Rei.

Nem sequer me debruço sobre os contornos da legislação que permitem à Câmara Municipal cortar a circulação de viaturas em estradas municipais e transformá-las em estacionamento, por razões directamente relacionadas com eventos culturais:

· Extraordinário é fazê-lo num local nobre do Concelho sobretudo nesta época do ano.

· Fazê-lo contra o quotidiano de munícipes, proprietários e turistas e mesmo contra a segurança de pessoas e bens.

· Fazê-lo sem previamente o ter anunciado à comunidade que frequenta o Bom Sucesso.

· Fazê-lo com a subserviência do comando da GNR de Óbidos, à responsabilidade do 1º Sargento Godinho, utilizando uma dezena de militares da GNR que até utilizaram viaturas particulares para o fazer – exactamente, pelo menos um membro da GNR de Óbidos efectuou o serviço, fardado, dispondo do seu automóvel particular.

Pior ainda, testemunhámos a desorientação de militares da GNR que manifestavam dúvidas sobre a legitimidade da sua actuação quando confrontados com proprietários, munícipes e turistas que pretendiam chegar ao Bom Sucesso.

Curioso é que um casal de franceses que se preparava para assistir ao espectáculo, acabou por desistir ao constatar que o evento estava a prejudicar terceiros, manifestando enorme admiração pelo sucedido. Mais, este casal de turistas chegou a alvitrar que, certamente os responsáveis deviam pensar em encontrar outros locais para realizar este género de espectáculos, até mesmo com outras condições de acesso e estacionamento para viaturas. Obviamente que no concelho de Óbidos é o que não falta.

Finalmente, para espanto dos mais incautos já que tudo se passou numa zona densamente arborizada, o evento terminou com espectáculo de pirotecnia. Naturalmente que Lei ou sugestões do governo socialista não fazem eco num Município liderado por um executivo do PSD, tão-só porque falamos de partidos com pessoas diferentes, mas muitas delas com denominadores comuns – instruídos mas incultos, teimosos, prepotentes e incapazes de entender o serviço público.

José Maria Pignatelli

1 comentário:

uma obidense disse...

obrigada