A nossa editora Guinevere escreve sobre duras e radicais decisões do poder instituído, no caso em concreto dos autarcas de Loures. Antes tinham umas centenas de milhares de euros para ajudar as instituições de utilidade pública e de carácter social. Agora a crise só permite apertar o cinto, mesmo até ao limite – reduzir os apoios a zero!
Depois da fartura só se pode alimentar meia barriga e agora penúria total e previamente anunciada. Neste caso valha-nos isso, a coragem de comunicar que se vai ficar sem nada para poder dar tempo à criatividade das organizações inventarem receitas.
Mas o que se estranha é que tudo se faz debaixo do pano da crise internacional, mesmo global. Hoje li um artigo de um responsável político que enfia a Europa toda no mesmo saco como se as enfermidades fossem as mesmas para todos.
Se comparar a nossa crise com a espanhola, francesa, alemã e italiana já parece ridículo, imagine-se compararmo-nos com a situação actual de países como a Suíça, Áustria, Luxemburgo, Holanda, Suécia, Finlândia e Noruega. O nosso problema ultrapassa a questão meramente financeira ou que resulta da especulação dos mercados financeiros. Portugal vive uma profunda crise estrutural alicerçada nos biliões que vieram dos fundos comunitários que se gastaram em demasiado alcatrão e betão, na criação de condições propícias a empurrar os cidadãos do interior para o litoral, porque aceitámos tornar-nos num País prestador de serviços e abdicar de produção agrícola e industrial de qualidade superior que têm necessariamente um preço mais alto que os produtos massificados.
Trata-se (tratava-se) de exportar para os mercados que podem pagar, os mais exigentes, pujantes e mesmo para os países emergentes que produzem barato mas que já têm milhões de milionários que procuram qualidade e meios de ostentação quiçá duvidam da qualidade mediana das suas indústrias ou simplesmente não querem consumir igual aos menos afortunados e adoram o consumismo.
Mas os nossos executivos também nos ignoram os seus vícios, as suas ganâncias as suas ansiedades e apetites pelo dinheiro fácil, fruto da troca de favores, alguns deles demasiados dispendiosos para os cofres do Estado. Esbanjaram biliões em troca de comissões pagas das mais diversas formas em nome do serviço público... de um serviço público mal prestado e nada honroso a troco de obras que servem a muito poucos e nada têm de socialmente recomendáveis.
O País está estruturalmente pobre e a obra pública é de fraca qualidade. O que é novo hoje envelhece rapidamente e as opções técnicas e tecnológicas são muitas vezes incompativeis.
§ Continuamos a ter cheias quando caem umas pingas mais fortes;
§ A ter uma capital com avenidas das mais poluídas da União Europeia;
§ Escolas onde chove dentro das salas de aula e com ginásios que servem de refeitórios;
§ Doentes que aguardam dois e mais dias em macas nos corredores dos hospitais por uma cirurgia;
§ Pontes com tráfego condicionado por risco de queda:
§ Combustíveis e fontes energéticas das mais caras da Europa;
§ Concelhos com mais de 30% de construção clandestina;
§ Época de incêndios com datas marcadas;
§ Mais de metade das praias sem ser vigiadas;
§ Empreendimentos de interesse nacional construídos sobre falésias e em parques naturais;
§ Uma justiça demissionária e profundamente controlada pelo poder político;
§ Uma rede ferroviária abandonada;
§ Funcionários públicos com salários de primeira, segunda e terceira de acordo com a relevância dos serviços onde trabalham;
§ Banqueiros que utilizam o dinheiro dos clientes em investimentos desconhecidos e em empresas registadas em paraísos fiscais;
§ Instituições bancárias a cobrar taxas de legalidade duvidosa e a fazer arquivo em empresas terceiras;
§ Polícias que se afastam dos cenários do crime recriando prevaricadores entre os cidadãos comuns e sem contas a ajustarem com a justiça;
§ Polícias incapazes de passar coimas por exemplo aos grafiters ou a quem não apanha de gestos dos animais.
§ Um País com 2 milhões de pobres, precisamente 20% da população a juntar a mais 12% de desempregados e a mais 16% de indivíduos que já vivem no limiar da pobreza para além da empobrecida e envergonhada classe média. Temas apenas 200 mil portugueses a viver desafogados e sem qualquer pressão oferecida pela crise.
§ Empresas públicas ou com participação de capitais públicos a investirem fora do país sem que isso signifique ou traga qualquer benefício a já escassa indústria nacional;
§ Profissionais estupidamente especializados sem qualquer capacidade polivalente;
§ Uma enorme panóplia de impostos indirectos e dos IVAs mais altos da União Europeia, sobretudo em produtos essenciais.
Ocorreram-me estes dramas verdadeiros que nos vão atirar para o percipicio porque quem já viu que estamos à beira dele vai mesmo dar um passo em frente tão-só porque não admite ter errado.
José Maria Pignatelli
Depois da fartura só se pode alimentar meia barriga e agora penúria total e previamente anunciada. Neste caso valha-nos isso, a coragem de comunicar que se vai ficar sem nada para poder dar tempo à criatividade das organizações inventarem receitas.
Mas o que se estranha é que tudo se faz debaixo do pano da crise internacional, mesmo global. Hoje li um artigo de um responsável político que enfia a Europa toda no mesmo saco como se as enfermidades fossem as mesmas para todos.
Se comparar a nossa crise com a espanhola, francesa, alemã e italiana já parece ridículo, imagine-se compararmo-nos com a situação actual de países como a Suíça, Áustria, Luxemburgo, Holanda, Suécia, Finlândia e Noruega. O nosso problema ultrapassa a questão meramente financeira ou que resulta da especulação dos mercados financeiros. Portugal vive uma profunda crise estrutural alicerçada nos biliões que vieram dos fundos comunitários que se gastaram em demasiado alcatrão e betão, na criação de condições propícias a empurrar os cidadãos do interior para o litoral, porque aceitámos tornar-nos num País prestador de serviços e abdicar de produção agrícola e industrial de qualidade superior que têm necessariamente um preço mais alto que os produtos massificados.
Trata-se (tratava-se) de exportar para os mercados que podem pagar, os mais exigentes, pujantes e mesmo para os países emergentes que produzem barato mas que já têm milhões de milionários que procuram qualidade e meios de ostentação quiçá duvidam da qualidade mediana das suas indústrias ou simplesmente não querem consumir igual aos menos afortunados e adoram o consumismo.
Mas os nossos executivos também nos ignoram os seus vícios, as suas ganâncias as suas ansiedades e apetites pelo dinheiro fácil, fruto da troca de favores, alguns deles demasiados dispendiosos para os cofres do Estado. Esbanjaram biliões em troca de comissões pagas das mais diversas formas em nome do serviço público... de um serviço público mal prestado e nada honroso a troco de obras que servem a muito poucos e nada têm de socialmente recomendáveis.
O País está estruturalmente pobre e a obra pública é de fraca qualidade. O que é novo hoje envelhece rapidamente e as opções técnicas e tecnológicas são muitas vezes incompativeis.
§ Continuamos a ter cheias quando caem umas pingas mais fortes;
§ A ter uma capital com avenidas das mais poluídas da União Europeia;
§ Escolas onde chove dentro das salas de aula e com ginásios que servem de refeitórios;
§ Doentes que aguardam dois e mais dias em macas nos corredores dos hospitais por uma cirurgia;
§ Pontes com tráfego condicionado por risco de queda:
§ Combustíveis e fontes energéticas das mais caras da Europa;
§ Concelhos com mais de 30% de construção clandestina;
§ Época de incêndios com datas marcadas;
§ Mais de metade das praias sem ser vigiadas;
§ Empreendimentos de interesse nacional construídos sobre falésias e em parques naturais;
§ Uma justiça demissionária e profundamente controlada pelo poder político;
§ Uma rede ferroviária abandonada;
§ Funcionários públicos com salários de primeira, segunda e terceira de acordo com a relevância dos serviços onde trabalham;
§ Banqueiros que utilizam o dinheiro dos clientes em investimentos desconhecidos e em empresas registadas em paraísos fiscais;
§ Instituições bancárias a cobrar taxas de legalidade duvidosa e a fazer arquivo em empresas terceiras;
§ Polícias que se afastam dos cenários do crime recriando prevaricadores entre os cidadãos comuns e sem contas a ajustarem com a justiça;
§ Polícias incapazes de passar coimas por exemplo aos grafiters ou a quem não apanha de gestos dos animais.
§ Um País com 2 milhões de pobres, precisamente 20% da população a juntar a mais 12% de desempregados e a mais 16% de indivíduos que já vivem no limiar da pobreza para além da empobrecida e envergonhada classe média. Temas apenas 200 mil portugueses a viver desafogados e sem qualquer pressão oferecida pela crise.
§ Empresas públicas ou com participação de capitais públicos a investirem fora do país sem que isso signifique ou traga qualquer benefício a já escassa indústria nacional;
§ Profissionais estupidamente especializados sem qualquer capacidade polivalente;
§ Uma enorme panóplia de impostos indirectos e dos IVAs mais altos da União Europeia, sobretudo em produtos essenciais.
Ocorreram-me estes dramas verdadeiros que nos vão atirar para o percipicio porque quem já viu que estamos à beira dele vai mesmo dar um passo em frente tão-só porque não admite ter errado.
José Maria Pignatelli
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