24.3.11

Trambolhão anunciado

Começou a campanha eleitoral para eleições gerais ainda sem data marcada. Será inevitável apesar da malandrice do Presidente da República em não aceitar a demissão do primeiro-ministro José Sócrates sem ouvir os líderes dos partidos com assento na Assembleia da República. É que assim está garantida a representação nacional indubitável na cimeira da Comunidade Europeia desta semana.
José Sócrates ficou com pouco espaço de manobra para grandes aventuras pessoais no decurso do encontro europeu. Também todos sabemos que a Comissão Europeia deu o dito por não dito: aguarda pelo desfecho desta crise política pelo menos até final de Junho, para que se decida sobre a intervenção nas nossas finanças.
Também Cavaco Silva conseguiu assim tempo para analisar o desfecho do congresso do Partido Socialista do próximo fim-de-semana.
Obviamente que estamos perante procedimentos perfeitamente previsíveis de um Presidente da República cada vez mais previsível, tanto mais que raramente se pronuncia sobre o quer que seja de importante para a Nação e quando o faz, é muitas vezes em tempo inoportuno.
De qualquer modo, não foi preciso puxar o tapete ao chefe do governo. Sócrates encarregou-se de o fazer a si próprio no momento em que entendeu levar um quarto PEC (Plano de Estabilidade e Crescimento) para Bruxelas, antes de o apresentar ao presidente Cavaco Silva, aos líderes dos partidos da oposição e sufragá-lo na Assembleia da República.
Um monumental disparate!
Agora, fazem-se apostas para o futuro. Mas há quem as dispense e enuncie recados no sentido de se conseguir um amplo consenso independentemente do resultado das eventuais eleições.
Por exemplo, ouviram-se representantes do comércio e da indústria apelar à unidade nacional e a um entendimento alargado pelo menos com o CDS, PSD e PS, mas sem José Sócrates. As opiniões dividem-se entre liderança encabeçada por António Costa ou António José Seguro.
No entanto, o dono do pragmatismo é Paulo Portas.
Parece o mais lúcido de todos e o que sabe que a crise só começa a resolver-se com cortes no aparelho de Estado, mesmo que isso belisque interesses instalados.
O presidente do CDS percebe que vivemos crises cíclicas pelo menos desde há 126 anos. Também entende que é inadmissível aceitar que a Refer e a CP juntas tenham uma divida que ascende à fortuna de 9 mil milhões de euros, verba que permitiria esquecer as medidas de contenção orçamental apresentadas no PEC agora chumbado.
Para já e antes de qualquer campanha eleitoral, urge garantir:
- O pagamento das obrigações contraídas;
- O saneamento financeiro do País;
- Reinventar a o voluntariado e a solidariedade para com os mais desprotegidos.
Depois, temos ainda a prioridade em garantir o funcionamento da Justiça e da assistência médica.

José Maria Pignatelli

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