A guerrilha urbana instala-se na Europa depois de fazer escola nas “cidades da droga”, do México, da Colômbia, da Bolívia, da Venezuela e mais recentemente na Guiné-bissau, ou também por razões político-religiosas no Médio Oriente. Esta é uma ‘guerra de surdos’ onde não há vencedores, só vencidos.
Derrotados são todos os que habitam dentro do perímetro dos bairros mais afectados, das pequenas e médias empresas e do comércio instalado. Vencidos são todos os que lutam pela liberdade, pela partilha da comunidade do que ela tem de bom e de menos bom, dos bons e maus momentos, dos equipamentos sociais, culturais e desportivos. Vencidos são aqueles que, por nada, ficam sem os bens e os empregos, sem o sustento e tudo aquilo que conquistaram em anos de trabalho.
Os tumultos nas cidades nunca atingem os alvos da contestação e são, quase sempre, uma enorme trapalhada de reivindicações porque acabam por misturar desprotegidos, desempregados, pobres, menos pobres, mais ricos e delinquentes... Os novos guerrilheiros!
Depois de um só homem radical (será?) ter acabado com a vida de quase uma centena de pessoas na Noruega e de ter abalado o centro da capital Oslo com explosivos, surgem agora uns milhares a fazer estremecer o Reino Unido – primeiro, no bairro londrino de Tottenham, depois, Liverpool, Birmingham... radicais e delinquentes que se misturam com os mais desesperados pelas medidas de austeridade impostas pelo governo britânico que se encontram desempregados, passam privações ou receiam passar por elas.
Mas nesta guerrilha encontram-se racistas de todas as cores de pele: negros britânicos contra negros de outras nacionalidades, brancos contra outros brancos nascidos fora do Reino Unido, pobres contra ricos... Imagine-se tudo isto acontecer num país cujo PIB cresceu mais de 4% no primeiro trimestre do ano.
Estamos perante um recrudescimento de nacionalismos, de um certo anti-europeísmo, da anti-partilha da riqueza. A união europeia está em causa. Pouco falta para rasgar o Tratado de Lisboa se é que algum dia o documento foi levado a sério. Os eurocratas encontram o fim da linha, o final de um trabalho efémero que produziram em nome de nada, talvez de uma Europa nova na batuta de uma Alemanha agigantada capaz de ‘empurrar’ para seu lado aliados como a Hungria, República Checa, Eslováquia, Bulgária e talvez mesmo a Roménia, a Áustria e a Ucrânia.
Chegou o momento de debater a Europa. Talvez sim, ou talvez nem valha a pena!
De qualquer modo, valerá perceber quanto vale a mais velha democracia europeia e as suas contradições: Um jovem que morreu baleado pela polícia, em circunstâncias mal explicadas, foi o pretexto para um enorme motim que, para ser travado agora, precisou que o primeiro-ministro interrompesse as férias, para autorizar a ministra do Interior a autorizar mais polícias na rua e a utilização de acessórios que não o cassetete, como as balas de borracha e gás lacrimogéneo.
Extraordinário comportamento no meio do caos.
Surpreendente o mundo poder ver um delinquente levar uma valente cacetada depois de saquear uma loja e se virar à polícia e, em seguida, ‘marchar para casa’.
O extremismo está aí. Ninguém pretende acautelar os seus raciocínios, saber o que estimula estes prodígios do mal e quem os organiza. Se estão do lado do poder ou do contra-poder.
A maior parte dos governantes europeus fecham os olhos aos especuladores que instalam e globalizam a crise.
Foram de férias!
O perigo espreita as nossas cidades.
Derrotados são todos os que habitam dentro do perímetro dos bairros mais afectados, das pequenas e médias empresas e do comércio instalado. Vencidos são todos os que lutam pela liberdade, pela partilha da comunidade do que ela tem de bom e de menos bom, dos bons e maus momentos, dos equipamentos sociais, culturais e desportivos. Vencidos são aqueles que, por nada, ficam sem os bens e os empregos, sem o sustento e tudo aquilo que conquistaram em anos de trabalho.
Os tumultos nas cidades nunca atingem os alvos da contestação e são, quase sempre, uma enorme trapalhada de reivindicações porque acabam por misturar desprotegidos, desempregados, pobres, menos pobres, mais ricos e delinquentes... Os novos guerrilheiros!
Depois de um só homem radical (será?) ter acabado com a vida de quase uma centena de pessoas na Noruega e de ter abalado o centro da capital Oslo com explosivos, surgem agora uns milhares a fazer estremecer o Reino Unido – primeiro, no bairro londrino de Tottenham, depois, Liverpool, Birmingham... radicais e delinquentes que se misturam com os mais desesperados pelas medidas de austeridade impostas pelo governo britânico que se encontram desempregados, passam privações ou receiam passar por elas.
Mas nesta guerrilha encontram-se racistas de todas as cores de pele: negros britânicos contra negros de outras nacionalidades, brancos contra outros brancos nascidos fora do Reino Unido, pobres contra ricos... Imagine-se tudo isto acontecer num país cujo PIB cresceu mais de 4% no primeiro trimestre do ano.
Estamos perante um recrudescimento de nacionalismos, de um certo anti-europeísmo, da anti-partilha da riqueza. A união europeia está em causa. Pouco falta para rasgar o Tratado de Lisboa se é que algum dia o documento foi levado a sério. Os eurocratas encontram o fim da linha, o final de um trabalho efémero que produziram em nome de nada, talvez de uma Europa nova na batuta de uma Alemanha agigantada capaz de ‘empurrar’ para seu lado aliados como a Hungria, República Checa, Eslováquia, Bulgária e talvez mesmo a Roménia, a Áustria e a Ucrânia.
Chegou o momento de debater a Europa. Talvez sim, ou talvez nem valha a pena!
De qualquer modo, valerá perceber quanto vale a mais velha democracia europeia e as suas contradições: Um jovem que morreu baleado pela polícia, em circunstâncias mal explicadas, foi o pretexto para um enorme motim que, para ser travado agora, precisou que o primeiro-ministro interrompesse as férias, para autorizar a ministra do Interior a autorizar mais polícias na rua e a utilização de acessórios que não o cassetete, como as balas de borracha e gás lacrimogéneo.
Extraordinário comportamento no meio do caos.
Surpreendente o mundo poder ver um delinquente levar uma valente cacetada depois de saquear uma loja e se virar à polícia e, em seguida, ‘marchar para casa’.
O extremismo está aí. Ninguém pretende acautelar os seus raciocínios, saber o que estimula estes prodígios do mal e quem os organiza. Se estão do lado do poder ou do contra-poder.
A maior parte dos governantes europeus fecham os olhos aos especuladores que instalam e globalizam a crise.
Foram de férias!
O perigo espreita as nossas cidades.
José Maria Pignatelli
2 comentários:
Publico o comentário que recebi de Fernando Tudela: “Estou atento ao que se está a passar, aos homens sem rosto que se escondem atrás dos mercados e usam a especulação, o que me leva a classificá-los, usando a sua expressão, "guerrilheiros" do mundo da especulação e que usam tipos de violência escondidos. São inimigos difíceis de combater, pois pilhando, como aqueles que o fazem em no Reino Unido, tem as máquinas de guerra e os burocratas de várias matrizes, que os defendem em nome da lei e da ordem, a deles, claro!
Na verdade, condeno toda a espécie de violência e considero que as lutas têm de ter uma razão de ser, muitas vezes discutível, mas não entram pelo caminho egocêntrico das pilhagens, a reboque que uma indignação mais ou menos velada dos povos, tem direito a manifestar.
Para mim, estas questões têm um fundo sociológico e como marxista, acredito na causa / efeito e não tenho o hábito de tomar uma posição, em qualquer caso, sem olhar o fundo das questões. Sobre a velha Europa e as democracias chamadas ocidentais, lembro Winston Churchill, que dizia que o "nosso sistema é o pior, excepto todos os outros", bem como a resposta de Chu En Lai, quando lhe perguntaram a sua opinião sobre a Revolução Francesa, ao que respondeu e estávamos há menos de cinquenta anos atrás, "ainda é muito cedo para tirarmos uma conclusão". Quer isto dizer que em perspectivas diferentes se nota as opções de classe aqui tão bem representadas.
Ainda que, repita e sublinhe que não aceito de ânimo leve as rapinas no Reino Unido, mesmo que à boleia de múltiplas razões de indignação perante o sistema vigente, aplico, aqui, as comparações de Churchill sobre sistemas a que não gostaria de separar a palavra regimes. No que se refere à análise sociológica que me referi, cabe bem citar as palavras de Chu En Lai.
Afinal quem gera o princípio da causa / efeito? Será que a globalização não é a internacional do capitalismo e da exploração dos povos? E a União Europeia a utopia calculista daqueles a quem chama e muito justamente burocratas e que desejam a mistura da água com o azeite, num projecto que nasceu com a Sociedade do Carvão e do Aço, passou pela CEE e acabou na esfarrapada União Europeia, onde a unidade é comandada pelos interesses de cada membro e dos que emprestam para depois chantagearem?
Nos anos 80 do século XX, a Polónia, na presidência americana de Ronald Reagan, aceitou empréstimos dos americanos, num tempo em que a queda do chamado bloco socialista já se previa. Assim, conseguiu isolar os polacos da zona de influência da URSS. E ficaram devedores para sempre. Aliás, foi em 1956 que começou o desagregar do bloco soviético, através da teoria da coexistência pacífica defendida por Krutchev. Foi o início da retoma em força do capitalismo neste campo e da queda de um sistema/regime, a qual teve o desenlace final com a entrada em cena de Gorbachev.
Fernando Tudela concluiu:"Assim, concluiremos que este modo de agir utilizado pelos mercados que não têm Pátria é transversal e a República Popular da China acabará (já está neste estádio) por ser mais uma das potências imperialistas, que, astuciosamente, vai tomando o seu lugar, entre as outras, de onde surgirá a I Grande Guerra Mundial do Século XXI. A guerra inter-imperialista pelo domínio da economia mundial.
Os chauvinismos estão a crescer (Beiverik pode ser louco, mas não agiu sozinho). E onde têm as suas praças-fortes? Nos países do sistema de Churchill, em especial na Suécia, Finlândia, Holanda, Noruega, Áustria e Alemanha. É que Chu En Lai não teve tempo para opinar sobre a Revolução Francesa! E a questão coloca-se muito simplesmente: sem olhar apaixonadamente para as ideologias, é ou não verdade que estamos a assistir a um retrocesso civilizacional? É ou não verdade que quem vende a sua força de trabalho está cada vez mais explorado e a pagar todas as crises cíclicas de que o capitalismo, autofágico, se alimenta e vai sobrevivendo? É ou não verdade que a miséria e a desigualdade, até na velha Europa, cada vez são maiores? Isto para já não falar daquilo que se está a passar nos EUA, ou na outra, endémica, em muitos dos países africanos!
Esta é, em suma, a minha forma de ver as coisas, mas numa perspectiva ainda não aprofundada, pois voltando-me para a sociologia e o marxismo (causa/efeito), há que reflectir e agir com consciência e toda a lógica do pensamento humano!”
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