29.8.11

Uma lástima!

Não se compreende o nervosismo de muito boa gente sobre o eventual imposto extraordinário sobre as fortunas portuguesas com o objectivo de criar um fundo que permita a manutenção de vários subsídios de carácter social. Menos se entende os receios de que parte destas riquezas saiam dos cofres da banca portuguesa e acabem por ir parar a instituições além fronteiras, nomeadamente a paraísos fiscais. Aliás, é absolutamente certo que a maior parte dos milionários portugueses tem parte mensurável das suas fortunas depositadas ou aplicadas em investimentos fora do nosso País.
De qualquer modo, deve atender-se ao que se passa nos países nórdicos e mesmo na Holanda e na Bélgica, onde os mais ricos são elevadamente colectados e muito raramente questionam o sistema ou ameaçam tirar as fortunas dos seus países. Pelo contrário, a maior parte destes cidadãos fazem questão de ajudar os seus países pagando os seus impostos dentro dos prazos ou, em alternativa utilizando parte desses montantes em projectos de desenvolvimento social, cultural e económico. Talvez isto suceda por uma questão cultural, de mentalidade ou simplesmente por se recordar a história: na década de 20, do século passado, a maioria dos nórdicos passavam enormes privações, mesmo fome, independentemente da sua condição social e intelectual. A pobreza era imensa e levou anos a que saíssem desta situação para um regime onde o Estado Social é de vital importância para o bem-estar generalizado, seja dos mais ricos ou das classes menos abastadas porque importa manter a pobreza erradicada. Não será por acaso que encontramos na internet mais de dois milhares de médicos alemães no activo à procura de uma vaga num hospital dinamarquês... Porque será que se pretende deixar bons locais de trabalho por outros talvez melhores, mas num país onde os impostos sobre rendimentos são mais elevados?
Mas compreendem-se as nossas diferenças... Apreende-se a nossa enorme necessidade de praticarmos a caridade e de a publicitar. Faz-nos bem, parecer bem. É como que limpar os nossos pecados de todos os dias. Perdoamo-nos a nós mesmos. O País pode estar a afundar-se, a pobreza pode atingir patamares escandalosos, mas muitos de nós dormiremos descansados, sempre! Uma lástima!

José Maria Pignatelli

Sem comentários: