17.6.11

Tragédia grega

Está em cena a Tragédia Grega.
A peça repete-se em vários palcos gregos.
Um dos mais impressionantes encontra-se no centro da cidade de Atenas, precisamente a capital daquele país, onde mais de 70% do comércio já encerrou portas ou trabalha em part-time.
Aquele país europeu está falido porque não consegue pagar os juros altos dos empréstimos contraídos. Também não consegue ajustar-se financeiramente porque não tem moeda soberana. Aderiu ao euro, a moeda feita à medida dos mais ricos.
O governo grego terá de renegociar a divida. Caso contrário afunda-se e leva atrás a maioria de um povo que mostra não abdicar do direito à indignação. São cada vez mais os que se manifestam na rua contra as enormes restrições impostas também por uma ‘troika’ igual à que negociou com Teixeira dos Santos.
Mas o caso grego não é uma mera questão financeira, antes uma crise politica da união europeia, uma monumental insensibilidade e falta de solidariedade entre europeus, particularmente protagonizada por alemães e franceses.
A Tragédia Grega é resultado da incapacidade da Europa em promover uma verdadeira união de interesses e blindagem face ao resto do mundo que insiste em rivalizar com as nossas economias.
A Tragédia Grega anuncia o princípio do fim da moeda única, pelo menos em alguns países, porventura os da cauda da União com economias mais débeis e demasiado abertas. Sem dúvida que é neste grupo que nos achamos.
Na frente, sozinhos e indiferentes, encontram-se ingleses, noruegueses, suecos, dinamarqueses e mesmo luxemburgueses.
Também alheios a esta problemática vivem os accionistas das instituições bancárias que em vez de reinvestir os dividendos que recebem, inclusivamente no aumento de capital das suas próprias instituições, optam por os depositar fora, nos países não alinhados a nada ou paraísos fiscais. Uma falta de decência e de percepção da causa pública e do futuro de meio continente.
À frente da Alemanha falta um estadista como Helmut Kohl que lutou pela reunificação da Alemanha e conseguiu apoio generalizado da comunidade europeia. Kohl não esqueceu este esforço, bem como o que também foi realizado em prol da reconstrução do País do pós-Grande Guerra. Helmut Kohl era um político empenhado, solidário, estratega e crente numa união europeia à mesma velocidade e era por isso mesmo que deu tudo para que só houvesse uma Alemanha e alinhada pela fasquia mais elevada.
A França de Sarkozi e a Alemanha de Angel Merkel arriscam-se a ficar sozinhos e isso não lhes dará nenhuma vantagem, antes pelo contrário. As próximas semanas serão decisivas.

Em causa está uma Europa forte capaz de se bater com os Estados Unidos, a Ocidente, e com as emergentes economias asiáticas, a Oriente. Será difícil conseguir-se este desígnio deixando de fora os países periféricos ou mesmo alguns da antiga cortina de ferro que não acompanham tão rapidamente o desenvolvimento desejável como parece suceder com a Hungria.

Naturalmente que se precisam de regras, de uma entidade europeia fiscalizadora independente que trave um conjunto de disparates que se fazem, gastando os dinheiros públicos desmedidamente. Mas também carece que estes fiscalizadores conheçam primeiro as reais situações dos países que necessitam de ajuda financeira, antes de imporem condições impossíveis de satisfazer no tempo certo.


José Maria Pignatelli

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