Há precisamente um ano anunciava uma
vaga de despedimentos na multinacional Faurecia, uma das maiores fornecedoras
da fábrica da Volkswagen de Palmela e que se encontra instalada no parque Auto
Europa. Então, a empresa preparou o encerramento da linha de pintura porque
optou por não se adaptar à tecnologia que permitisse utilizar tintas de água,
em vez das sintéticas recentemente proibidas no sector da construção automóvel.
Agora, com o fim de vida de alguns
modelos cujos componentes fornecia, caso do modelo Peugeot 207, e também da
diminuição da produção do modelo EOS da Volkswagen, de 64 para 27 unidades diárias,
anunciam-se o despedimento de mais 80 a 90 trabalhadores, precisamente um terço
dos técnicos que ali trabalham. Alguns saem já no próximo dia 26 deste mês. Aliás,
desta unidade saiu já uma das injectoras de maior capacidade de produção. A
fábrica portuguesa não consegue captar mais trabalho entre os seus clientes
habituais, porventura para justificar a deslocalização de toda a sua produção,
com excepção das peças para os modelos montados na Auto Europa.
A Faurecia produz vários componentes
para o modelo EOS, Sirocco e Sharon, da Volkswagen, e Alhambra da Seat, principalmente
de PVC injectados para tablier e forras das portas e faz os seus acabamentos. Esta
fábrica e a própria Auto Europa têm encerrado a produção três dias por semana,
à sexta, sábado e domingo.
Em Palmela, só já se produzem cerca
de 620 veículos por dia.
Indústrias exportadoras
precisam de incentivos cirúrgicos
Persiste, portanto, a ideia de tão
importante que é o governo e os deputados conhecerem a realidade do sector
industrial exportador para que se possa encontrar um quadro de incentivos mais
cirúrgicos para cada ramo, ao invés de generalizar as linhas orientadoras que
podem não se traduzir em quaisquer resultados práticos. Impõe-se vender
externamente o melhor que se faz, desde os produtos agrícolas aos mais
tecnológicos.
Afinal, este foi uma das maiores
falhas da política económica do governo socialista de José Sócrates que agora
se insiste em repetir: O sector exportador mais relevante é o que resulta do
investimento estrangeiro por que infelizmente o tecido empresarial português
não tem capacidade financeira para este propósito.
Mas o mais grave é que em Palmela,
acredita-se que a montagem do modelo EOS seja deslocalizada para a Alemanha ou
para os Estados Unidos. Também se sabe que, ao contrário das promessas feitas
pelos alemães, a Auto Europa não terá mais nenhum dos novos modelos da
Volkswagen anunciados para montar. Esta questão prende-se fundamentalmente com
os custos operativos, onde o peso do custo da energia e dos impostos são os
mais gravosos.
Há quem diga que, em Portugal, os
sucessivos poderes não têm talento, nem sequer apoiam as empresas que empregam
centenas de trabalhadores e onde perdura uma evidente paz social.
Recorde-se que as novas directrizes sobre
protecção ambiental obrigam a trocar as tintas sintéticas por tintas de água na
indústria automóvel o que aliás já se encontra em prática quase global. A
Faurecia optou por não fazer essa alteração na fábrica que detêm em Portugal e
fazê-lo em outras unidades que possui. A empresa tem mais de 230 unidades de
produção em mais de 30 países, representa 49% do fabrico mundial de bancos para
automóveis, 24% de peças interiores, principalmente tabliers, interiores de
portas e chapeleiras, e quase 20% dos conjuntos completos para emissões de escape.
A Faurecia fornece mais de 50% das marcas automóveis que se conhecem.
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