Há momentos do ano em várias regiões, ao longo de anos e de gerações, que são marcados por algo que altera o quotidiano de uma comunidade.
É assim com a vindima nas zonas produtoras de vinho, com o azeite nas de azeitona azeite, com o tomate nas zonas que os produzem, com a castanha nas zonas onde abundam os castanheiros, etc.,etc..
Em Odivelas, durante alguns séculos, mais concretamente desde a altura em que a conhecida Madre Paula esteve no Mosteiro de Odivelas, foi um produto confeccionado por grande parte da comunidade e que por isso mesmo, também ela, nos meses de Outubro, provocava sempre alguma alteração no comportamento da população Odivelense.
Muitos são os relatos que nos chegam desses tempos, desde a forma como as pessoas e as famílias se juntavam para a confeccionar, passando pelo “gamanço” do marmelo, a várias individualidades que aqui vinham propositadamente para a adquirir, até à presença em vários romances e histórias de amor.
Infelizmente, talvez devido às grandes alterações demográficas, resultantes da chegada repentina e massiva (dezenas de milhares) de novos habitantes ao Concelho, assim como pelo facto da classe política local durante vários anos ter ofuscado a história, a cultura e as tradições de um povo, esta foi uma tradição que aos poucos se perdeu e/ou ficou ofuscada, tendo este produto quase sido extinto.
Deste facto dei conta, quando no início de 2006, escrevi uma série de artigos para o “Coisas da Pontinha”, nos quais apelava vivamente para que se recuperasse o nosso património cultural e que através dele se recuperasse uma identidade perdida e que se rentabilizassem economicamente esses ícones. Num desses artigos apelei precisamente para a importância que poderia ter não só ao nível cultural, como também no âmbito económico, a recuperação da Marmelada de Odivelas.
Recordo que muitos troçaram/ridicularizaram o texto e a ideia, mas como sempre não dei importância às “bocas” e continuei a acreditar e a lutar pela recuperação desta tradição.
Mais tarde, em 2009, foi possível, em conjunto com um conjunto de pessoas, colocar este tema no centro da discussão política e da intervenção cívica. Hoje a grande verdade, é que pese o facto de ainda haver muito, mas mesmo muito a fazer, este produto já é comercializado por muitos mais comerciantes e feito em várias casas por muitas mais famílias.
Este é um daqueles casos que me permite acreditar que pode sempre “haver luz”.
In. Nova Odivelas
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