1.10.12

Ponto de Ordem 3 - Viva a Participação Cívica!



Texto escrito para NOVA ODIVELAS 
 
Por questões relacionadas com uma medida, a da TSU, que Governo quis implementar e com a qual os Portugueses e diversas instituições não concordaram, viveram-se em Portugal momentos que há muito não assistíamos.

Independentemente do facto de não ter concordado com essa medida, como aqui escrevi e justifiquei, e também de ter, dentro das minhas capacidades e nos locais que entendi, lutado para que a mesma não fosse implementada, entendo que para além do facto do Governo ter recuado nessa intenção, houveram factos importantes que convém reter:

- a participação cívica, à qual eu não me canso de apelar, é absolutamente necessária numa democracia e funciona;

- não é preciso fazer greves, as quais prejudicam ainda mais o país, as famílias e as pessoas, para se conseguir atingir determinados objectivos;

- não é necessário o radicalismo, a destruição daquilo que no fundo é nosso, do nosso vizinho, familiar ou amigo, para que se atinjam determinados objectivos;

- estes movimentos, quando são genuínos e promovidos pelo verdadeiro povo, como foi no caso destas manifestações, tem muito melhores resultados do que quando são organizados por forças políticas ou sindicatos instrumentalizados.

Posto isto e tendo sido chamado o governo à atenção como todos observámos, em relação a esta medida e não só, convém no meu entender, como também escrevi no último texto, perceber como chegámos aqui, o que de positivo tem sido feito e não nos deixarmos embarcar nesta onda onde em que alguns nos querem colocar, a qual nos poderá sair bastante caro.

Assim convém anotar:

1º) Chegámos aqui por anos de gestão irresponsável, nos quais vários governantes obrigaram Portugal a compromissos que sabiam não ser possível cumprir, ou que para os cumprir, muitos teriam que passar “as passas do Algarve”.

2º) A denominada “Troika” só está em Portugal, não porque tivesse vindo cá ter sozinha, mas porque o Sr. Sócrates, quando viu, fruto da sua governação desastrosa, que já não tinha dinheiro para pagar salários, pensões, prestações sociais, remédios, pagamentos aos fornecedores, etc., etc, os chamou à pressa.

3º) Para que fosse possível Portugal receber esse empréstimo, o qual ainda não o recebemos na íntegra, fomos obrigados a sujeitar-nos, por via de um memorando, a determinadas imposições e regras.

4º) Que o quinto exame a que Portugal se sujeitou, o qual como todos os outros, antecede o envio de uma parte da verba que o Estado necessita, foi recentemente aprovado. Isso é importante porque foi precisamente aqui que a Grécia explodiu e porque este era o exame que marcava mais de metade do caminho que temos que percorrer, “só” faltam três, no total serão oito exames.

5º) Que independentemente de alguns erros, de algumas medidas que possamos não ter concordado ou gostado, o actual governo e os portugueses conseguiram em pouco mais de um ano aspectos importantes: afastar o cenário de bancarrota; credibilizar o País no exterior e beneficiar hoje de financiamentos com juros manifestamente inferiores (desceram de 20 Janeiro, para 5% na semana passada); inverter a balança comercial, a qual era negativa e agora é positiva.

6º) Que abrir uma crise política e “atirar” o País para novas eleições colocaria todo este esforço e todos estes sacrifícios em causa, tanto mais que nesse cenário também não se afigura nenhuma outra solução.

7º) Que não pagar o que devemos, implicaria a saída do Euro e consequentemente, não termos possibilidade de importar alimentos, remédios, combustíveis e tantas outras coisas em que não somos autossuficientes.

8º) Que muito deste alarido mediático está possivelmente a ser potencializado propositadamente devido a uma outra medida, a da RTP, com a qual eu também não concordo, mas mais que isso, não concorda a própria RTP, a SIC e a TVI.

Resumindo: entendo que esta participação cívica foi muito importante e importa que se mantenha viva, não só na contestação, mas também na apresentação de soluções; que todos estejamos cientes que esta situação não é fácil de gerir, mas que temos perceber todas a motivações e interesses que estão implícitos e que neste momento de nada adianta “atirar a toalha ao tapete”.

In: Nova Odivelas, nº 445.

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