Uns vem a terreiro afirmar que se investiga pouco e mal (...) se vive das escutas telefónicas e que são feitas a qualquer preço e ninguém se encontra imune a elas (...) que a investigação se faz muito nas cadeiras à frente das secretárias. Os donos dessa opinião adiantam que essas medidas são como entrar na vida privada de cada um de nós.
Outros defendem que o crime é tão refinado que se não forem muitas vezes o facto de se escutarem as conversas entre pessoas nunca se chegará a desfechos convincentes.
Depois percebe-se que a Justiça é como uma pirâmide: manda um só homem, o Presidente do Supremo Tribunal.
O Presidente da República não se imiscui nesses temas menores quanto mais não seja evitam confrontos sempre indesejáveis.
Extraordinário é que se chega a uma conclusão: o lápis azul (utilizado pela censura) foi substituído pela tesoura.
Vejamos:
Pinto Monteiro, o procurador-geral da República (PGR), cumpriu à letra as indicações de Noronha Nascimento, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, para apagar nos seus despachos sobre o caso Face Oculta - cuja instrução se iniciou ontem, em Lisboa - as transcrições das conversas entre o primeiro-ministro, José Sócrates, e Armando Vara.
O procurador-geral da República não se confinou a rasurar ou a excluir as passagens dessas conversas - as folhas dos autos foram cortadas à tesoura nos sítios onde estavam registados os diálogos entre José Sócrates e Armando Vara.
Foi com esses recortes que algumas folhas do processo chegaram à Comarca do Baixo Vouga e ao Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa.
É claro que ficámos sem conhecer as conversas privadas de um primeiro-ministro com um amigo, mas também ficámos privados de saber se esses conteúdos estavam ou não directamente relacionados com questões menos legítimas.
Certo é que aqui, em qualquer circunstância, se ajusta o velho ditado: “quem não deve não teme”!
José Maria Pignatelli
1 comentário:
E estás espantado?
Eu, dolorosamente não fico espantada com estes acontecimentos.
Revoltada? Sim.
É que já percebeu que neste e em muitos outros casos os intervenientes devem e temem.
Abraço
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