24.10.10

Marmelada sem estratégia

Com maior ou menor rigor relativamente à receita original, já temos mais produtores de marmelada na cidade de Odivelas.
À Faruque juntam-se as pastelarias El Rei D.Dinis e Viriato.
A receita, essa encontra-se publicada no livro das receitas da Madre Paula... Mas aqui a questão prende-se com a tentação da industrialização de um produto que tem de ser necessariamente tradicional, groumet como se diz modernamente.
Não poderá haver lugar à varinha mágica para passar a polpa do marmelo a massa.
Não basta o paladar.
Nestes produtos a textura é essencial - é mesmo o que faz a diferença o que lhe dá a realidade dos tempos idos.
Mas estas marmeladas de 2010 encontram outra curiosidade. Vivem na encruzilhada de não estarem agarradas à Marmelada Branca de Odivelas da associação de Comerciantes de Loures e Odivelas apadrinhada pela Câmara Municipal de Odivelas ou terem o estatuto de Marmelada do Convento de S. Dinis de Odivelas da Confraria da Marmelada de Odivelas.
Estamos perante uma enorme confusão que se pode eternizar para mal de todos, para que continuemos a ter confeitarias industriais a fazê-la e colocar-lhe a chancela "Marmelada Tipo Odivelas"...
Será isso que se pretende?
A este rrespeito e a um texto deste blogue assinado por Miguel Xara Brasil li um interessante e oportuno comentário de Paulo Bernardo e Sousa, um dos muitos confrades e amante da marmelada que passo a transcrever:

«Importante será entender que a Marmelada de Odivelas, não é nem do fulano A, nem da entidade B. Revelaremos tanto maior inteligência quando entendermos que neste mundo global, em que a qualidade é medida pela mais-valia que uma diferença pode realçar, a Marmelada de Odivelas pode e necessariamente terá de ser um dos elementos charneira / produtos-motor de uma economia sustentada por bens culturais.
Como esta (a Marmelada), outros produtos se poderão seguir: a doçaria conventual, a cultura castreja e os achados do período proto-histórico e pré-histórico. Enfim...
Que à mesa da Marmelada de Odivelas, muito desenvolvimento económico e social estará na génese de muitos repastos.
Pena tenho que havendo um tão estreito conjunto de mais-valias neste concelho, não sejam estas potenciadas com uma visão e planeamento estratégico.
Receio que as querelas mais ou menos pessoais, que as tentações de "quinta" e que as ocas vaidades se possam de novo sobrepor a esta hipótese de desenvolvimento que os nossos egrégios avós nos legaram. Seremos nós merecedores desses egrégios avós e do ADN que nos transmitiram? Pensemos nisso...»

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