Marmelada... precisa de talento

É extraordinário como uma Confraria pode incomodar quem quer que seja. Mais ainda quando a instituição se conhece por meia dúzia de brasões espalhados ou por quem consulte os registos ou o Instituto nacional de Propriedade Industrial.

A comunidade odivelense infelizmente desconhece a Confraria da Marmelada de Odivelas e os seus propósitos ambiciosos e que nasceram pela “cabeça” de quatro ou cinco idealistas que acreditaram (creio que continuam a acreditar) que é possível fazer “mexer” um concelho ainda muito adormecido na maioria dos seus cidadãos que só cá vêm mesmo para dormir e pouco mais.

Os números não desmentem.

Desconhecido é também a intenção do Poder autárquico juntamente com uma associação de comerciantes de Loures e Odivelas pretender certificar ou qualificar um produto em torno de um registo pouco consubstanciado Marmelada Branca de Odivelas... Até porque não é a marmelada branca que é de Odivelas, mas sim o contrário, a marmelada de Odivelas é que é branca e nem tão pouco nasceu por cá. Basta conhecer um pouco de história e, por exemplo, perceber de onde veio a planta marmeleiro e onde e quando foi introduzida na Península Ibérica e particularmente no nosso País. Aconselho a estudarem matérias relacionadas com a agricultura da Cova da Beira.

É claro que é difícil abordar um tema quando não se sabe o que a marmelada e os marmelos podem proporcionar em criatividade num menu alargado de sobremesas ou até bebidas. Imaginem que parte disto se pode perceber no Retiro do Raposo em Bucelas, aqui a 15 minutos de distância. Mas há quem faça 6 sobremesas diferentes com marmelada branca. Ainda mais aflitivo é parecer que todos se esquecem que entrámos no período de colheita dos marmelos (?!)

Preocupa é o “post” com o titulo «Se uma Confraria incomoda muita gente...» que me leva a supor um divórcio entre pessoas e ou agentes que deviam ter objectivos comuns: o desenvolvimento de Odivelas – cidade e concelho – através dos seus atributos gastronómicos e consequentemente culturais, sobretudo em torno do monarca D. Dinis, que se queira ou não é uma das maiores referências da nossa história, mais actual do que nunca e indissociável da nossa cidade de Odivelas. Aliás, já perfeitamente interiorizado por quem lançou o Circulo D. Dinis e promoveu três interessantes conferências com personagens de quadrantes diversos no âmbito da sociologia, da justiça e da economia.

A Confraria da Marmelada de Odivelas têm outros desígnios mais recuadas no tempo, como por exemplo debater uma época longínqua e a estratégia de um período onde Portugal ainda procurava maturidade... Perceber porque a cozinha era tão importante e os doces e as melhores ementas eram feitas dentro dos conventos.

Coisas simples que encerram explicações muitas vezes complexas e preciosas para a nossa cultura que não a nossa instrução.

Naturalmente que é agradável ter o Poder instituído do mesmo lado, sobretudo participativo em ideias e não em meios financeiros.

Estes projectos necessitam de uma reunião de energias e não o inverso. Obviamente que os interlocutores são pessoas com personalidades muitas vezes adversas e porventura nem sequer os intervenientes certos no diálogo que se pretende resultar em sucesso.

O “post” não concretiza nada.

Ao inverso de clarificar uma qualquer história, suscita dúvidas e provavelmente também a falta de trabalho de casa atempadamente como qualquer encontro ao nível mais alto impõe...

Oxalá seja possível refrescar ideias entre todos que podem garantir o entusiasmo dos potenciais produtores para carimbarem positivamente a marca Odivelas.

Venha daí uma tigela de marmelada cheia de bom senso.

José Maria Pignatelli